A alameda sem fim
Três da manhã no ponto e nem sinal de um ônibus, a ‘’alameda sem fim’’, que era como chamávamos a extensa Avenida Continental estava deserta, mas muito bem iluminada, vez ou outra uma luz falhava, era um típico cenário de terror, mas o pior ainda estava por vir.
Eu estava fazendo das coisas mais variadas para distrair minha mente, que teimava em me trazer à tona informações que naquela hora seriam desnecessárias, como por exemplo, a que dizia que entre as 3 e 3:59 da manhã era a hora em que os espíritos ruins vinham à Terra para amedrontar as pessoas. Para tentar esquecer essa informação, comecei a cantar, rir, e até dançar no meio da enorme avenida, que parecia suplicar aos carros que passassem por ela, aquele lugar, o berço do congestionamento de toda a cidade, a essa hora estava calmo. Em meio à cantoria e passos de lambada, um barulho, eram gritos, gritos de pavor. Um longo arrepio tomou conta de meu corpo, mas me recompus rapidamente e comecei a rezar, os gritos cessaram, engraçado como em horas de medo algo simples como uma prece pode nos acalmar, senti uma sensação de plenitude, e meu coração quase saltou pela boca quando vi, no início da rua, uma grande massa laranja se deslocando, era o ônibus!
Após gritos e pulos de comemoração, pude notar que a grande massa laranja era apenas uma peça que minha mente teimosa me pregara. Era inverno, e ventava muito, o vento, que até então estava tímido, resolveu se mostrar, e de forma macabra. Estava ventando como nunca, mas havia algo estranho, as folhas no chão não se mexiam, as árvores não chacoalhavam incessantemente como nas ventanias normais, foi quando minha memória mais uma vez me amedrontou, ventanias ‘’paradas’’ é sinal de espírito ruim. Foi só o tempo de me lembrar, o medo tomou conta de meu corpo quando vi, ou acho que vi um homem alguns metros a minha frente rindo tenebrosamente
_ Não tenho medo de você! – Gritei múltiplas vezes enquanto rezava com o terço em mãos.
O terço queimava, ardia, doía, mas eu ia contra a vontade de meu corpo de soltá-lo, pois aquilo era minha proteção. Pareceu que não tinha adiantado, pois um sono profundo tomou conta de meu corpo, e então caí no chão.
Acordei em casa com o noticiário informando o assassinato de um jovem de cerca de 16 anos na Avenida Continental as 3 e 30 da manhã do dia 24 de Junho de 2011. Olhei no calendário e vi que o mesmo marcava 25 de junho de 2011, quando voltei os olhos para a TV pude ver o corpo do jovem, e era eu. Agora havia entendido tudo, eu havia me tornado um espírito.