Maldição da Caveira
Para Fernando Calixto, com carinho.
A caveira do cemitério estava sempre ali. Não se mexia. Não falava. Ao contrário que muitas pessoas diziam. Seu corpo jaz imóvel, visível sob a tumba. Não existiu ninguém que conseguiu mover o montante de ossos e vermes dali. A caveira pertence ao cemitério. E se for arrancada de seu lar, quem o fizer cairá em maldição ou terá o mesmo destino macabro.
Passou 200 anos e a caveira continuou no seu lugar reinando imponente em muitas luas, meio as trevas, com espectros sussurantes do cemitério. O esqueleto tinha uma visão horrenda, mas não causava mal algum, ao menos que tentasse levar o mestre de seu castelo maldito.
A senhora Augusta, parente de algum falecido de um jazigo notável, inconformada com o aspecto horrendo da caveira, ordenou que os coveiros tirassem o montante de esqueleto, mas recusaram-se; alegando a famosa maldição. Augusta riu irônica "Caveira Maldita que fala". Ela mesma foi arrancá-la. Á noite quando tinha a pá nas mãos e o saco preto de lixo para remover a caveira; o previsível aconteceu. O esqueleto deu um grito diabólico que fez tremer o chão enevoado e as pietás presentes sobre os túmulos; e vomitou suco verde gozmento de larvinhas brancas, no rosto entupido de pó e base da mulher. Ela não falou uma palavra, não deu tempo. A caveira, senhora do cemitério, abocanhou sua cabeça gorda puxando o crânio com força. Ela gritou. A voz ecoou pelo ambiente tétrico. A cabeça se desprendeu do seu pescoço grosso deformado, esguichando jato de sangue. O tronco caiu sob algumas plantas murchas e fétidas perto da tumba da caveira.
No dia seguinte, o coveiro encontrou os restos mortais da mulher gorda. E quando olhou de perto a caveira; arrotou no rosto dele, cuspindo os miolos e alguns ossos distorcidos. E encarou o homem com malícia e gozo, este, fugiu correndo procurando a saída do cemitério maldito.