O padre

Eram nove da noite quando o jovem padre recebeu um telefonema o chamando para expulsar um suposto demônio que se apossara do corpo de uma jovem em um bairro afastado e de má reputação.

A voz do outro lado da linha parecia calma mas desesperada ao mesmo tempo.

Ele sentiu um frio subir por sua espinha. Sabia que estava estudando para isso mas não se sentia preparado ainda.

Imediatamente ligou para o padre Davis, seu mentor e protetor com quem estava aprendendo todos os segredos do exorcismo.

Uma voz fraca atendeu ao telefone. Era Davis dizendo que estava impossibilitado de acompanha-lo pois estava acamado e um pouco mal.

Sem mesmo dar chance dele falar o padre Davis desligou.

Nada restava a não ser se dirigir ao local para onde fora chamado.

Ajoelhou-se, rezou e depois pegou a bíblia, o rosário e a água benta.

Nunca havia sentido o medo como sentia naquela hora.

Mas era seu chamado, sua obrigação.

Entrou no carro e dirigiu pelas ruas quase desertas e neblinada.

Depois de uns vinte minutos chegou ao endereço, e foi recebido por uma senhora, provavelmente a que havia ligado.

A casa era bem velha, um sobrado.

Após conversar com a senhora, ela disse que sua filha estava no quarto no andar superior.

O padre subiu sozinho. Entrou. A garota estava sentada na cama com as pernas estendidas e a cabeça abaixada.

Ao notar que o padre entrara no quarto ela imediatamente olhou para ele e deu uma risada e disse:

- Veio rápido ein padre. Estou te esperando. Vai me mandar embora.

Seguido de um riso sarcástico.

- A propósito acabei de vir da casa do padre Davis, pobre homem. Você acha mesmo que falou com ele agora há pouco? Não. Foi comigo padre.

Você é muito jovem, inexperiente, ingênuo...

A porta se fechou atrás do padre. Ele ficou ali parado.

O corpo da jovem se jogou para trás e começou a levitar.

Uma fumaça saia debaixo da cama.

De repente ela é jogada de volta para cama.

O padre pega a biblia e tenta achar as passagens certas para realizar o exorcismo.

Outra risada enche o quarto. Ele vê um vulto saindo da jovem e se materializando à sua frente. Sente medo mas se matêm ali firme.Segura a biblia com uma das mãos e com a outra joga água benta.

O demônio se vira de costas para ele numa atitude de deboche e começa a falar:

- Você acha mesmo que vai conseguir me mandar embora?

Acha que tem esse poder meu querido?

Acha que o poder do filho do homem está contigo e com sua igreja?

Imagens começam a aparecer na parede como se fosse um telão.

-Olhe, disse o demônio. Essa é a sua igreja.

A igreja prostituta de toda a terra. Que matou milhares em nome de Deus, que esteve ao lado de Hitler. E que não salvou os judeus. A igreja que sempre escondeu os pecados de seus líderes. A sua igreja é nojenta. Você acha que a conhece? Risos ecoavam pelo quarto.

As imagens mostravam toda a trajetória da igreja, toda sua imundície desde aa sua fundação.

- Imundos , é o que vocês são.

O padre tremia. O pavor tomava conta de seu corpo. sua fé se extinguiu em segundos. Em poucos minutos ele teve certeza de tudo o que duvidava sua vida toda.

Ele jogou água benta, mas nenhum efeito.

O demônio ria.

- Veja, não me faz nada. nada.

Você é um ingênuo. Te enganaram a vida toda.

Você não pode lutar contra o que está em vocês.

Aceite isso.

Na cama a jovem permanecia imóvel.

O padre não sabia o que fazer.

Ajoelhou-se e começou a rezar o pai nosso.

O demônio veio caminhando até onde ele estava.

Ele continuava de olhos fechados e ajoelhado rezando.

Calmamente o demônio se apossou de seu corpo. Ele abriu os olhos.

O quarto parecia calmo. A jovem voltou a si.

A mãe da jovem entrou no quarto, abraçou a filha e agradeceu ao padre.

Ele saiu. Já era madrugada alta. Foi para casa. No dia seguinte recebeu a noiticia de que o padre Davis havia falecido às vinte horas da noite anterior mas que tentaram avisá-lo mas seu telefone estava fora de serviço.

-Padre Davis era um bom homem. Um bom homem.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 21/06/2011
Reeditado em 01/07/2011
Código do texto: T3049255
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