O Homem da Caixa
Pedro, cansava-se de sua vida de casado. Era só colocar os pés para dentro de casa e sua esposa, Amélie, irritava-se com a presença dele. Naquele dia, porém, sentia-se diferente; decidiu que sua mulher mal humorada não estragaria seu dia, como há 5 anos acontecia.
Entrou em casa, jogou-se no sofá e como de praxe, Amélie disparou:
-Pedro, você é um vagabundo! não trouxe nada para o jantar. Não tenho como fazer um prato de comida. Incompetente, cachorro!
-Eu trabalhei o dia todo Amélie. O que você queria? quem tem que fazer as compras é você e não eu.
-Bem que minha mãe disse para eu não me casar com você. Não serve para nada. Ainda bem, que não temos filhos, seria pior.
-Arrume outro. Vá, dessa casa. Arrume um amante, um marido novo e me deixe em paz!
-Quer dizer que você não me ama mais? seu ingrato!
-Cale-se, mulher!
Amélie não parava com o falatório.
-Cretino, vagabundo!
Ela pegou o jornal, dobrou e bateu no rosto dele. Um filete de sangue escorria pelo seu rosto transtornado. Ele levantou, a empurrou no sofá e disse -Já chega, bruxa maldita!
Foi até a cozinha e trouxe uma faca peixeira e olhou friamente para ela que não se intimidou -Você tem medo até de baratas, bobão! saía daqui com essa faca.
-Vou te mostrar algo, maldita!
Segurou a faca, firme com a mão direita, e bateu no rosto da mulher que caiu sobre o sofá com o golpe. Ela gritava. Ele puxou os cabelos castanhos com força e apunhalou o abdômem. Jorrava sangue do ferimento. Ele cravou a faca no mesmo lugar e fez um corte profundo, do qual ela agonizava vendo suas tripas saltar para fora. Ela com o sangue invadindo a boca e prestes a morrer, balbulciou: -Você jamais vai se livrar de mim..
-Você que pensa, vadia!
Ele mexeu nas tripas e sentiu-se enojado, mirou a faca no peito dela e deu o golpe de misericórdia. Antes de morrer ela teve espasmos com o corpo ensaguentado no chão e finalmente expirou.
Já aliviado, Pedro não sabia o que fazer com o corpo. Depois que livrou-se da angústia e sentia-se melhor, deparava-se com um problema pela frente. Como se livraria do corpo da mulher? Não conseguia pensar. Foi até o banheiro e lavou o rosto. Teria uma missão dura pela frente. Desceu até a sala e ajoelhado sob o corpo morto de Amélie, iniciou o ritual. Com a faca decepou todas as partes do corpo dela: braços, pernas, cabeça, pés, mãos. Só tinha o tronco ali como a maior parte. Foi até o porão das tralhas; pegou uma mala preta enorme. Arumou meticulosamente os restos mortais ali. E só retirou o colar de pérolas que sua falecida esposa usava. Dirigiu-se até o quintal com a mala e tirou o carro da garagem. Seguiu dirigindo até chegar a um local isolado, onde localizava-se sua casa de campo. Estacionou e tirou a mala e exclamou " Mesmo morta, essa peste é pesada". Com paciência levou a mala até a sala e acendeu a lareira. Quando o fogo estava no ápice jogou a mala ali. Incinerou a pobre. O cheiro era terrível. Mas ninguém desconfiou de nada, a casa era muito afastada e todos nas redondezas estavam na cidade. Cansou de ver a cena mórbida e subiu as escadas para deitar. Estava tão exausto que só acordou três dias depois. Tomou um banho e sentia-se livre. Desceu e olhou diretamente a lareira. Só restavam as cinzas de Amélie. Recolheu e colocou em uma caixa. Estava tudo terminado.
Já era 12:00h e tinha fome. Tirou um macarrão congelado e esquentou. Arrumou a mesa com esmero. Pegou o vinho tinto para acompanhar. O microondas apitou. Colocou o prato na mesa e antes de comer, tomou a taça de vinho nas mãos e olhou com desprezo a caixa de restos mortais que em cima pendurava-se o colar de Amélie.
-A minha liberdade, doce esposa!
Bebeu com gosto o copo e jantou com uma paz que nunca sentiu antes. Ele sentiu um poder de dizer a ela tudo que queria nesses ultimos 5 anos. Gritava, xingava e por fim enxugou uma lágrima que descia teimosa pelas faces. A caixa continuava imóvel. Ele pegou e balançou para ver se algo acontecia, tinha levemente a impressão de que a caixa falaria, mas foi só a sua imaginação. Por fim convencendo-se que ela de fato morrera. Respirou fundo e olhou a caixa novamente com raiva -Só assim para eu calar a sua maldita boca, Amélie!
A caixa não respondeu.
Ele saiu da cadeira e subiu as escadas. Entrou no quarto e desabou na cama. Fechou os olhos e adormeceu. Quando acordou. A caixa estava no criado mudo. Levou um susto e quase gritou. Pensava: "Como essa caixa veio parar aqui?" aí lembrou-se da frase de Amélie: "Nunca te deixarei em paz".
Três anos tinham passado desde o crime, e Pedro ficou conhecido como o "Homem da caixa" porque misteriosamente aquela caixinha que ninguém sabia o que era, só ele, o acompanhava por toda a parte.