O elevador

Nunca gostei e nem tinha interesse em morar em apartamento e muito menos com elevadores que sempre me deixavam apavorado.

Toda vez que eu entrava em um ficava imaginando aquela caixa travando no meio da subida e ficando ali por várias horas, até conseguirem fazer voltar a funcionar.

Mas como nem tudo é como a gente quer e por necessidade acabei tendo de morar em um apartamento no oitavo andar de um edifício bastante velho e encravado em um canto de uma rua escura e num bairro um tanto quanto complicado.

Os outros moradores do prédio eram todos estranhos, não falavam com ninguém, não sorriam e todos saiam somente o necessário e logo voltavam e se trancavam dentro de casa.

Bem, fiquei na minha e entrei no esquema.

Saia, ia pro trabalho, voltava e me enclausurava no meu apartamento.

Algumas vezes ouvi barulhos estranhos no corredor, parecia pessoas discutindo, gritando e correndo.

Certa vez tive a impressão de ouvir até tiros, mas quando eu saia para fora, estava tudo quieto sem uma pessoa sequer no corredor.

Mas um fato ocorrido em determinado dia me fez abandonar o edifício o mais rápido que pude.

Naquele dia eu voltei um pouco mais tarde para casa, deviam ser quase dez da noite.

Cheguei, cumprimentei o porteiro, ele retribuiu com um grunhido quase inaudível, me disse para tonar cuidado pois era sexta feira.

Não entendi nada e também não queria entender.

O que eu queria era tomar uma ducha e cara na cama desmaiado. A semana havia sido cansativa.

Entrei no elevador e pertei o oito, a caixa de aço deu um solavanco e começou a subir, parou no primeiro, a porta se abriu, mas o corredor estava vazio.

O mesmo acontecendo no segundo, terceiro, quarto....enfim em todos.

Aquilo me deixou assusatado, confesso.

Apenas os corredores escuros com uma fraca iluminação no final.

E pior, eu tinha a sensação de que pessoas estavam se acomodando dentro do elevador a cada parada que ele fazia, mas eu sabia que isso era impossível.

Eu estava sozinho.

Por fim cheguei ao oitavo andar. A porta que abriu em todos os andares agora cismou de travar.

De repente e para meu desespero, de fora vinham muitos barulhos, realmente assustadores.

Pessoas correndo, gritando, um desespero total.

Parecia uma guerra, gritos, gemidos, muitas pessoas falando ao mesmo tempo e por fim o som de tiros sendo disparados.

Me encostei na parte do fundo do elevadr e fiquei ali acocorado.

De repente a porta se abri com muita força e olhei para fora.

A cena era terrível. Pessoas caidas pelo chão. Havia sangue, muito sangue no piso e pelas paredes.

No fim do corredor um homem bem alto segurava um rifle e atirava nas pessoas.

Atrás dele um vulto enorme de olhos vermelhos falava algo em seus ouvidos.

Das pessoas caidas pude ver sairem vultos como sombras e tentarem vir para onde eu estava.

Tive muito medo quando percebi isso e que o vulto atrás do homem com o rifle fixou seu olhar em mim.

Fiquei ali agachado e com os olhos fechados.

Foi quando ouvi a porta do elevador se fechando com muita foça.

Continue ali até que como se fosse uma mágica, todos os barulhos cessaram.

Apesar do medo, fique ali imóvel até sentir que tudo estavam em paz.

A porta se abriu, só o corredor escuro me esperava.

Saí e me dirigi ao meu apartamento.

Não consegui dormir naquela noite.

Na manhã seguinte eu já estava procurando uma nova casa para morar.

E conversando com o porteiro descobri o porque dele ter me avisado para tomar cuidado.

E fiquei sabendo que um anos após o edificio ser inaugurado, uma morador; após uma briga com sua esposa e após saber que havia sido traido, armou uma emboscada para ela e seu amante.

No corredor ele assassinou a tiros a esposa, o amante e mais seis pessoas que saíram para ver o que estava acontecendo, inclusive crianças e depois atirou contra a própria cabeça.

E sempre aquela cena se repete a cada data do ocorrido. Sempre.

São almas penadas, sem rumo, buscando paz.

E que na verdade algumas dessas almas ainda vivem no edifício e que não se sabe exatamente que eram os vivos e quem eram as almas penadas a circular por aquele corredor.

Dois dias depois eu estava me mudando.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 16/06/2011
Código do texto: T3038438
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.