O livro do horror
“O sofrimento e o terror geram insanidade.”
A lua tem um poder magnético sobre as pessoas.
No meio de um bosque distante um quarteto de jovens passava as férias de verão fazendo bem o que entendesse. O fato é que naquela noite havia lua cheia.
Apesar dos secos galhos das arvores batendo ao vento na janela, e dos sinistros piados das corujas em meio ao silêncio, nada disso os intimidava.
A razão predominava sobre as crenças. Cientes de que só haviam eles ali, o menor arrepio com certeza seria de frio, e qualquer ruído diferente inofensivo.
Divertiam-se eles a contar histórias de fantasmas. A noite estava perfeita.
- Vamos ler o livro que achei aqui. – decidiu Danny, o mais jovem do grupo
- "Livro do Horror" - leu sua namorada Marty a grossa capa quase desfeita e amarelada pelo tempo.
- Onde você achou isso?- indagou Wagner, o mais velho do grupo.
- Embaixo da mesa.
- Estranho, vamos ver- se ofereceu Helen entoando a primeira frase: - Destino Final.
Na primeira pagina havia um enunciado estranho, um tanto distorcido, porém se podia ler:
“SE VOCÊ NÃO ACREDITA NO SOBRENATURAL NÃO LEIA ESTE LIVRO DO CONTRÁRIO ELE SE APRESENTARÁ A VOCÊ.”
Danny riu histericamente.
- Para que ler essa baboseira?
- Marty você é muito medrosa, o que temos a perder, esta um tédio!
- São várias histórias, Que tal “Na lua brilhante”?
- Perfeito.
- “Ás vezes a lua exerce uma atração e força inexplicáveis!” – entonou a voz calmamente Danny- “Capaz de mudar qualquer direção.
Amigos universitários se reuniam numa cabana florestal."
- Blá blá blá. – observou Wagner .
- Deixe-o continuar. – repreendeu Helen.
Lá fora nesse ínterim de tempo a lua se escondia detrás de uma nuvem banhando a noite com tristeza e escuridão.
- “Se alojaram em uma cabana para uma temporada de férias juntos.
O magnetismo da lua brilhante os incitava a falar no desconhecido."
- Isso está ficando bom, continua - se entusiasmou Helen.
- “Sentados á frente da lareira, iniciaram na madeira pesadas gotas de água pegajosas, porém não chovia.”
Fora do livro, como em resposta à narrativa, coincidentemente caíam goteiras no assoalho, o grupo porém não deu importância ao fato.
- “Agora a mando do sobrenatural lobos uivavam ensurdecedores, o mal os rodeava e não iria poupá-los.”
- Danny, para, com esses uivos não da pra escutar – reclamou Marty.
O narrador se empolgava:
- “Os jovens se sentiam encurralados na cabana, e podiam ouvir passos próximos cada vez mais sonoros, algo se aproximava lenta e ruidosamente.”
- Eu não acho boa ideia continuar lendo isso, não tão vendo? – alertou Wagner.
- Que nada. Agora quero ouvir o final. – afirmou Helen extasiada.
A realidade confirmava as escrituras, eles realmente sentiam uma presença barulhenta ante a porta, era a ilustração viva, o pavor foi tomando conta do quarteto, contudo não conseguiam parar a leitura movido pela sinistra vibração.
O próprio vodu do mal, estavam dominados, era tarde para cessar.
A porta se escancarou de uma vez como a narrativa do livro do horror, o vento soprou em seus rostos pálidos, mudos de medo.
- “O mal estava convidado e pela entrada principal.”- narrava Danny aterrorizado sem conseguir parar.
A presença do demônio do pânico se fazia sentir, “ele” próprio estava sentado ouvindo a história junto a eles.
Nesse milésimo de segundo a lua novamente se descobriu da névoa cinzenta se revelando poderosa, desafiadora.
- Continue. – suplicou Wagner comandado pelas palavras do livro.
- “Após esses eventos, um dos jovens caindo em si, lutou para não ser mais um personagem de destino incerto e se aproximando da janela pensou na liberdade.”
- Ele vai nos pegar!- sussurrou a fragilizada Marty se afastando da roda.- Ele já me pegou.
- Não - gritou Helen tardiamente em desespero.
Lívida como a vidraça que olhava ela tombou através dela que espatifou cacos por sobre o rosto de todos que assistiam desolados, sem qualquer capacidade de socorrê-la. O casal se abraçou.
Seu namorado se lamentava com um olhar de lágrima presa.
Mas a história teria que prosseguir até o final.
- “Estarrecidos pela perda, deixaram a tristeza e o luto da noite lamentar por eles, e a lua se escondeu entre a neblina num minuto de silencio.”
Cessado o tempo a lua voltou a brilhar magicamente.
A lareira cansada quase apagava, restara ainda uma derradeira chama verde.
- “Eles podiam sentir em suas peles que eram uma marionete do horror, agora a sentença se cumpriria, desde que fora profanada a lei do livro. E a vidraças se quebravam uma a uma, a sala se agitava com a fúria do sobrenatural.”
No meio daquele vendaval de destruição, os três sobreviventes rumavam para fora da cabana como lhes ordenava a implacável sentença.
O macabro tempo estava consumado. A ultima chama da lareira se findou.
Um buraco sem fim os engoliu, até o ultimo minuto o livro nas mãos de seu narrador que continuava contando a história.
"Uma caverna era o seu destino, e inúmeras carcaças putrefatas os aguardavam lá no fundo; eram todos, que como eles haviam violado as leis do livro.
Gritaram sua agonia de espera da morte.
O preço foi pago.
“SE VOCÊ NÃO ACREDITA NÃO LEIA OU ELE SE APRESENTARÁ A VOCÊ.”