Bichos de pelúcia
A crise estava tomando proporções descomunais.
As pessoas só compravam o necessário e isso quando compravam.
Os bichos de pelúcia que vendiam como água há um tempo atrás, agora estavam entulhando o quarto e se enchendo de poeira.
A fome estava apertando. E não havia de onde tirar dinheiro.
Olavo, o vendedor dos bichos de pelúcia perdia o sono toda noite pensando em como iria fazer para sobreviver e sustentar sua renca de filhos.
Numa dessas noites de insônia, na madrugada, alguém bate à sua porta.
Assustado ele foi e abriu a porta.
Olhou para o velho relógio de pulso e viu que eram 2:55 da madrugada.
Um homem esquálido e muito palido estava lá em pé, parado e perguntou se podia entrar.
O homem estava muito bem vestido, terno preto imprecável, cabelos com gel, sapatos brilhantes e uma bengala com ponteira prateada.
Entrou, sentou-se e disse que tinha uma proposta muito boa para ele.
Seu Olavo pediu para que o homem explicasse a tal proposta.
O homem lhe disse que ele venderia quantos bichos de pelúcia ele levasse para a rua, mas em compensação, quando cada criança que comprasse o bicho fizesse vinte e um anos ele viria e levaria a alma dela.
Seu Olavo ficou apavorado com a idéia. Pediu para que o home saisse de sua casa.
O homem calmamente se levantou. Se dirigiu até à porta.
Quando estava saindo, virou se para Olavo e disse:
- Não quero uma resposta agora. Pode pensar até amanhã de madrugada.
Olhe bem para seu filhos e veja a miséria que se alastra pelo mundo.
Eu volto amanhã nesse mesmo horário.
E saiu pela porta sumindo na escuridão da noite.
Seu Olavo não conseguiu dormir aquele resto de noite.
Ficou matutando sobre a proposta do homem de negro.
No dia seguinte foi tentar vender seus bichos de pelúcia e nada, nenhum, e nada havia nas suas panelas.
E as crianças passavam fome.
Voltou para casa. Aguardou a visita do homem de negro.
2:55. As batidas na porta. Era ele.
Dez minutos depois o homem some na escuridão da noite.
E seu Olavo se tornou em pouco tempo o maior vendedor de bichos de pelúcia de todo o estado.