Pena de Morte - Capítulo III - A cilada

Um Brasil devastado, um Rio de Janeiro que não existia mais, sol escaldante, e um maracanã em ruínas logo a frente do V8 que seguia direto para a cena de mais um crime. Mara, João e Daniel a procura do clone assassino. Ambos estavam tensos, o silêncio os havia tomado naquele momento. Foi quando uma voz chegou aos seus ouvidos.

- Estádio á 2800 metros. Estaremos lá em aproximadamente cinco minutos. Disse a voz metálica o computador.

- Já colocaram as roupas especiais?

- Sim!

- Ele ainda está lá? Perguntou João.

- Só há uma maneira de saber! Respondeu Daniel.

Mara então levou suas mãos aos olhos de Daniel. Ela ficou em transe por um minuto e de repente despertou.

- Não entendi! Eu vi o corpo. Está dividido ao meio, realmene nogento, mas depois tudo ficou escuro. Era como se de repente eu tivesse perdido a conexão. Não sei o que aconteceu!

- Não foi isso! Disse Daniel... Ele sabe que estamos aqui.

- Isso é impossível! Disse Mara.

- Não, não é! Você não perdeu a conexão Mara. Ele fechou seus olhos. Ele descobriu de alguma forma que você pode vê-lo.

- Será? Comentou João. Mas como você sabe disso?

- Eu não sei. Mas parece que eu consegui ler os pensamentos dele. Mas por um pequeno momento. Depois quando ele percebeu que estávamos invadindo sua mente ele se isolou de alguma forma.

- Você está enganado! Impossível! Disse Mara. Ele não pode saber que estamos aqui, não seja louco.

O V8 sobrevoava as proximidades do estádio.

- Desça do lado de fora computador. Não queremos ser surpreendidos.

- Preparar turbinas inferiores. Cinco segundos para contato com o chão.

- Ei, agente tome esta arma. Disse Mara entregando uma automática G-45, capacidade de 30 disparos nas mãos de João.

- Já usou uma destas?

- Ainda não, mas sei como usar. Disse ele destravando-a. Ela atira balas de nanogelo. Isso paralisa o indivíduo por cerca de 60 segundos. A bala não o perfura, mas paralisa-o. O projétil explode no contato com a pele humana, mas não uma explosão em massa. É simultâneo. O gelo rasga a roupa, mas o calor humano em fração de milésimos de segundos faz com que ele derreta a cápsula assim que tocar a pele, e a toxina paralisante penetra pelos poros da pessoa atingida. É como se a pessoa recebesse uma picada de um pernilongo. É quase que indolor.

- Isso mesmo. Fez seu dever de casa agente Silva.

- Pêra aí. E onde estão as armas de verdade? Balas? Vocês não vão matá-lo com uma dessas!

- Não! Não temos este direito. A nova lei nos impede de matar uma pessoa Daniel.

- Estão Loucos! E o que utilizam contra os nanoinfectos?

- Apenas matamos sobre uma pena de morte. Ela deve ser levado a Júri. Sabe quantas pessoas inocentes foram mortas na sua época? Julgamentos precipitados levam á erros. Mas vocês nunca deram importância á isso. E quanto aos nanoinfectos, não há reversão ainda, eles se tornaram monstros, não são mais pessoas.

- Então vocês os matam?

- Não! Eles são paralisados, levamos eles presos. Eles vão direto para o laboratório nacional, lá o Doutor Mauro Marques e sua equipe de cientistas insistem na tentativa de uma cura reversiva. Não utilizamos as suas armas medievais se é isso que quer saber. Não somos assassinos como você! É uma nova era.

- Mas neste caso é óbvio que o clone é o assassino.

- Nós sabemos disso. Mas ainda assim não cabe a nós mata-lo. A lei consolidada exige um julgamento.

- E depois eu acabo os matando de qualquer forma. Disse o agente Silva. A pena de morte virá sempre para estas pessoas.

- Vocês acham mesmo que estão lidando com os delinqüentes juvenis que estão acostumados a ver neste marasmo que se tornou sua tão comportada e medíocre sociedade. Deus! Assim estaremos todos mortos.

- Sabemos o que fazer. Ele é apenas um, Daniel. Mesmo que tenha uma força fora do comum. Nós somos três. Ele não seria páreo para nós.

- Não se precipite em suas conclusões soldado Mara! Ele já sabe que estamos aqui. Ou quem sabe talvez ele até planejou isso tudo. Temos que ter mais cautela...

- Bobagens! Bobagens! Não precisaremos nem de você para pega-lo! Eu e a soldado pegaríamos ele sozinho. O seu trabalho já foi feito. Trouxe-nos até ele. Agora cale-se seu idiota.

- Vou ajuda-los! Já disse!

- Que bom! Então pare de supor! E vamos agir! Disse Mara.

- E minha arma?

- Agora quer uma arma? Não confunda as coisas Daniel! Não sou tão tola assim em confiar-lhe uma arma! Tampouco tiraremos suas algemas.

- Ok, não custava arriscar. Vamos á caça então. Os três saíram do carro e se depararam com a entrada principal do estádio.

- Meu Deus fizeram um estrago por aqui! Era como um antigo castelo em ruínas. Estava irreconhecível. Disse João.

- Quem diria que este já foi o maior estádio do mundo? O velho “Maraca”. Disse Daniel.

- Devia ser o máximo assistir á partidas de futebol neste estádio. Agora o que temos são imagens em hologramas nos discos HVD. Completou João.

- Vamos entrar garotos. Esqueçam o futebol. Ele acabou á muito tempo.

- Mulheres! Sempre ficam zangadas quando falamos de futebol, não é parceiro? Disse Daniel.

- Sim! Quer dizer... não! Não somos parceiros seu imbecil. Não me teste Daniel. Não brinque comigo!

Daniel sorria da situação. Eles adentraram para o estádio, logo viram a estátua de Ronaldo mais a frente, alguns metros da entrada. Mara era guiada por Daniel, João ia na frente dos dois, eles andavam lentamente, cada passo observando tudo ao seu redor, Mara ficava tensa nessas ocasiões onde não enxergava o perímetro em que estava. Uma de suas mãos segurava as mãos algemadas de Daniel, ela podia vê-lo, os olhos se mexendo a procura de algo, mas ela não via o que ele via, João segurava a arma a frente de seus olhos com as duas mãos, mas nunca deixando de desconfiar de Daniel, ele o fitava a cada dois segundos.

- Estão vendo alguma coisa?

- Nada soldado! A não ser um corpo partido ao meio três metros á frente e um serrote banhado de sangue caído ao lado. Ele se foi.

- Não pode ser! Ela colocou as mão sobre os olhos de Daniel. Viu o que ele via, o corpo estava bizonhamente partido ao meio, era algo horrendo, sangue escorrendo pela carne, órgãos, ossos, tudo a vista, João estava na sua frente, tudo como ela havia visto, a estátua do Ronaldo próxima a eles. Droga! Foi quando ela o viu. Ela não estava mais dentro do Maracanã, O V8 a sua frente, as portas se abrindo, o assassino entrando e pegando algo. Deus! Ela pensou... Depois ele saiu e arremessou dois objetos lá dentro e saiu correndo. Não pode ser! Meu Deus! Os objetos se chocaram com a lataria do carro, um simples toque e uma explosão enorme.

- O que foi isso? Perguntou João dando um giro de 360º com o corpo, seu olho na mira da G-45. Algo explodiu aqui perto! Ele disse, mas eles estavam em transe. Não podiam o ouvir. O V8 estava em pedaços, Mara pensava assustada. Estamos a quilômetros da área habitada. Ele nos prendeu aqui. Então ela despertou.

- O que aconteceu? Perguntou João olhando para cara desapontada de Mara.

- Acho que perdemos nossa condução. Disse Daniel para João.

- A explosão! O filho da mãe explodiu o V8? Estamos a céu aberto! O que vamos fazer? João estava assustado.

- Isso mesmo! Concordou Mara. Ele nos prendeu neste deserto.

- Fiquem quietos! Disse Daniel... Ouçam... estão ouvindo isto.

- Sim. É o ônibus! Ele está aqui perto. Disse Mara.

- Veja... ele está bem ali! Disse Daniel apontando para o alto. O ônibus estava escondido dentro do Maracanãzinho! Mara colocou a mão sobre seus olhos.

- Vocês vão ficar fazendo isso o dia todo é? Disse João enquanto os dois estavam em transe. Ela viu o interior do ônibus. Estavam todos os membros restantes lá dentro, amarrados as cadeiras, amordaçados. O assassino olhava um a um.

- Quer mesmo salvar estas vidas? Acha que pode simplemente intervir com minha missão. Você realmente não sabe de nada menina! Vou te dar uma chance de salvar alguns deles.

Mara estava estupefata.

- Como você pode conseguir falar comigo? Isso nunca aconteceu.

- Qual deles você quer primeiro?

Foi quando a voz de Daniel surprendeu Mara.

- O que você acha que está fazendo? Isso não é uma missão, é uma chacina seu idiota!

- E você sabe bem o que é isso não é irmão?

- Não sou seu irmão!

- Pare Daniel! Eu cuido disso! Faça apenas seu papel!

- Que é? Perguntou Daniel com um tom diferente na voz.

- Ficar quieto enquanto tento salvar estas vidas. O que você quer? Mara perguntou ao clone.

- Vou libertar três deles. Mas para isso você tem que aceitar meu desafio.

- Não faça isso! Dizia Daniel para o clone.

- Cale-se Daniel! Disse Mara. Não interfira!

- Se você prefere assim. Mas não diga que não te avisei.

- Ok. Eu aceito. O que tenho que fazer para salvá-los?

- Espere que eu já te digo! Disse o assassino. O ônibus agora pairava 200 metros acima deles. João olhava apontando sua arma, mesmo sabendo que nunca o acertaria dali. Uma porta se abriu.

- O que ele está planejando? Pensava João.

Mara e Daniel viam tudo, ele tirou a mordaça dos três homens, abriu a porta e olhou para baixo. Entrou novamente no ônibus e deu a ordem para o computador. Desça 150 metros. Mara suspirou confiante. Daniel permanecia calado. João confuso com tudo aquilo segurava sua arma ainda mais firme.

- O que está acontecendo... Droga! Odeio ficar aqui sozinho com vocês dois desta forma...ficam parecendo zumbis! Seus olhos brancos assim é algo muito estranho! Ah... meu Deus! Acho que estou ficando louco, agora estou falando sozinho! Por que ele está descendo afinal? Foi quando o ônibus de repente parou acima deles.

- Quer salva-los mesmo? O clone perguntou.

- Sim eu quero! Já disse! Faço o que for preciso! Me diga o que quer... o que tenho que fazer?

- É muito simples minha cara! Apenas segure-os firme. Disse o assassino pegando um deles e levando-o até a porta. Ela entendeu aquilo tarde demais. O corpo foi lançado a 50 metros de altura, e vinha em sua direção. João estava atónito. O corpo descia a uma velocidade assustadora. João pulou na direção de Mara e Daniel que ainda estavam em transe e os deslocou da trajetória do corpo. O tempo foi preciso. Mara e Daniel cairam no chão, ambos acordados do transe, João e Daniel olhando para cima, mais dois corpos vinham direto na direção dos três. Mara aturdida não via nada a não ser o chão que tocava. Levantou-se apalpando e procurando alguém. Apenas escutava gritos vindo do céu. João por reflexo rolou para a esquerda e viu um corpo espatifar-se onde a pouco ele estava caído. Foi quando Daniel se levantou com suas mãos algemadas e pulou na direção de Mara empurrando-a. Os dois caíram mais a frente. O outro corpo caiu bem onde Mara estava. João olhava para Daniel e Mara espantado.

- Você está bem? Perguntou Daniel para Mara.

- Sim! Estou. Obrigada! Até que para um velho de 66 anos você está em forma! Levantou-se bem rápido com estas algemas. Daniel sorriu.

- Que pena soldado! Era a voz do clone, a mesma voz de Daniel, mas com um tom extremamente sarcástico. Ele falava por um megafone especial que era implantado em todos ônibus daquele tipo. Você perdeu o desafio! É uma pena. Você agiu precipitadamente! O clone deu uma gargalhada. Gostou do jogo de palavras Daniel.

- Do que ele está falando? Perguntou João.

- Precipitação é um tipo de pena de morte. É disso que ele está falando.

- Você tentou me avisar! Era isso?

- Sim.

- Me desculpe!

- Pare de pedir desculpas para ele. Disse João.

- Vocês são o máximo! Queria agradecer pelo fator 3001. Ah, o meu já tinha acabado e vocês me trouxeram uma quantidade excelente. Pena não ter sobrado nada para vocês.

- Do que ele está falando? Perguntou o agente Silva.

- Ele pegou nosso fator 3001. Respondeu Daniel.

- Mas você tem mais. Não é Mara?

- Não! Estava tudo no carro.Água, comida. Tudo!

- Droga!

- Não se lamentem! Hoje em dia tem gente morrendo de tudo enquanto é jeito. Vocês ao menos morrerão bronzeados. Foi um prazer amigos! E Daniel... nem sempre o original é melhor que a cópia! Adeus! Vocês me lembram os três patetas. As turbinas trazeiras do ônibus ligaram e ele partiu.

- E agora o que faremos? Perguntou João.

- Ainda não sei. O fator que nós tomamos aguenta até o cair da noite. Aí ganharemos mais quatro horas. Então o jeito é andar. Disse Mara.

- Você está se esquecendo de algo! Disse Daniel. Nesse intervalo de tempo que estaremos seguros contra o sol. Quatro horas, o nosso suor nestas roupas siliconadas esparramará o nosso cheiro, seremos alvo fácil para os nanoinfectos. Eles nos rastrearão Mara. e aí como vamos nos defender? Paralisa-los com uma arma de gelo que não perfura suas peles.

- Odeio concordar com ele mas estamos abandonados num verdadeiro inferno, se não morrermos queimados, os demônios dos nanoinfectos nos encontrarão... acho que ele tem razão. Estamos com um sério problema!Disse João.

- O que sugere que façamos,Daniel? Ela perguntou.

Continua...

Precipitação é um método de aplicação de pena de morte em que o corpo é lançado de um local de grande altura, podendo ser, por exemplo, uma montanha, ponte ou prédio (em tempo modernos). A morte é provocada pelo impacto do corpo com o solo. Apesar de ser uma das modalidades mais antigas do mundo, há registros de casos recentes no Irã e no Iraque.

HVD Holographic Versatile Disc, ou Disco Holográfico Versátil.

Com ele pode-se gravar uma densidade enorme de informação chegando-se ao patamar de Terabytes de dados (trilhões de bytes) em um único disco. Isto equivaleria a uma capacidade de armazenamento 800 vezes maior do que um DVD normal armazena hoje. Este tipo de DVD ainda experimental é chamado de HVD.

Maracanã-guaçu, ave que dá origem ao nome do estádio.

O nome oficial do estádio, Mário Filho, foi dado em homenagem ao falecido jornalista carioca, irmão de Nelson Rodrigues, que se destacou no apoio à construção do Maracanã. Já o nome popular é oriundo do rio Maracanã, que cruza a Tijuca passando por São Cristóvão, desaguando no Canal do Mangue antes do deságue na baía de Guanabara. Em tupi-guarani, a palavra Maracanã significa "semelhante a um chocalho".[5] Devido à construção do estádio, foi criado o bairro do Maracanã, onde o estádio fica localizado, originalmente parte da Tijuca. Nesta área da cidade, existiam diversas aves, vindas da Região Norte do Brasil, conhecidas como Maracanã-guaçu.

Aos leitores e amigos agradeço por acompanharem a série...

Leiam também...

Pena de Morte - Capítulo I – O Condenado

Pena de Morte - Capítulo II – O Clone

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 13/06/2011
Reeditado em 27/07/2011
Código do texto: T3031917
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