O ORFANATO DAS ALMAS PERDIDAS – PARTE II
O dia transcorria frio e cinza naquela pequena cidade do sul do país. Por volta das 16 horas, aparece na praça da cidade, aquela figura estranha, trajando vestes negras e com um semblante frio, fazendo gélida a aura daquela misteriosa mulher.
Por volta das 17 horas, chega o ônibus que vem da capital, que se distanciava cerca de 110 quilômetros daquela pequena cidade interiorana. Jorge, cansado e com a decepção estampada em seu rosto, desce do ônibus. Ele havia ido a capital tentar uma vaga de emprego, mais uma que ele perdia para outro ser. A misteriosa mulher aborda o desempregado Jorge, e com uma retórica desinibida, oferece a ele um emprego em um orfanato, que se localizava na zona rural da cidade. Jorge, sem pensar duas vezes aceita, a misteriosa mulher lhe dá um número de telefone, que Jorge deveria ligar e conversar com uma tal freira Izabela. Jorge que era muito religioso, se enche de satisfação, imediatamente, ele telefona, conversa e aceita a sua ida imediata ao estranho orfanato. A ceifeira o acompanha até a porta de sua casa, e então desaparece.
Jorge chega em casa, dá a “boa” notícia a sua mãe e a sua irmã, para espanto do pobre Jorge, elas não ficam felizes, se derramam em prantos, e ambas passam toda a noite velando o sono de Jorge que dormia em sua cama. No dia seguinte, a mãe e a irmã de Jorge o observam partir para aquela viagem sem volta.
Jorge com sua mala, anda pela estrada de terra que o levará ao orfanato. A estrada é totalmente deserta, o jovem acha muito estranho, pois há árvores dos dois lados da trilha, mas ele não houve nenhum pássaro cantar, não ver nenhum ser vivo. Ele só ouve o som agudo daquele vento que uivava, assustando o caminhante. De repente, ele ver aquela figura estranha parada na beira da estrada, era a freira izabela que o aguardava. Jorge a cumprimenta e ao tocar a sua mão, sente um estranho frio cobrir todo o seu corpo. Ele acompanha a freira até o orfanato, e sente uma forte saudade da sua casa ao adentrar aqueles portões, ele sente que uma tristeza imensa habita aquele lugar.
Ao entrar no casarão do orfanato, a freira diz a Jorge:
-- Venha, vou te mostrar o seu quarto. Você irá desfazer a sua mala e então irei te apresentar a dona Iara e as crianças.
Jorge responde para a freira:
-- Tudo bem. A senhora não irá se decepcionar comigo, cumprirei todas as ordens que me passarem.
A freira de cabeça baixa e quase a murmurar em uma voz praticamente inaudível, retruca:
-- Sabemos que vai cumprir, só que será doloroso.
Jorge ouve o resmungo da freira, mas não consegue entender aquelas palavras.
Izabela leva o jovem até aos aposentos da dona Iara, com descuido a freira abre a porta sem bater. Jorge que se encontrava atrás daquela suposta religiosa, ver um vulto negro saltar para fora da janela do quarto da Iara. Jorge se assusta e dá um passo muito rápido para trás, ele deduz que aquela senhora gorda e com vestidos manchados, conversava com a criatura que saltara pela janela. A freira apresenta Jorge a Iara e ele percebe a cara de susto da cozinheira.
O jovem acha aquele orfanato cada vez mais estranho, pois não ouve o barulho das crianças, não ouve o som de nenhuma brincadeira infantil. Ele é levado até o refeitório, lá a freira o apresenta às crianças. Todas elas olham para Jorge simultaneamente, mas ele percebe que elas pareciam olhar para o infinito. Ele fica um pouco assustado com aquelas crianças de semblantes tristes, e ao observá-las se retirando em uma organizada fila, ele ver um ser estranho, não parecia humano, vagar entre as crianças e do outro lado do salão, ele nota a freira sorrir para a criatura.
Jorge fica um pouco atordoado, mais uma vez sente aquela vontade enorme de voltar para casa. Ele vai para o seu quarto, pega a sua bíblia e o seu terço, se ajoelha e começa a rezar pedindo a direção divina. Ao se levantar, ele avista da janela a mulher com quem conversara na praça, vagando pelo cemitério, que Jorge via pela primeira vez desde que chegara aquele lugar. Ele sai apressado para encontrar com ela, mas ao chegar no quintal ele não ver ninguém. Um pouco assustado ele entra no cemitério, olha aquelas sepulturas e ver uma lápide de uma morte ocorrida há duas semanas, ele ler a inscrição na sepultura (Samanta Imaculada Vieira) e tem a certeza de que tudo aquilo era muito estranho para um orfanato. Ele retorna ao casarão decidido a saber na totalidade, como é a organização daquele lugar. Ele procura a freira Izabela, mas percebe que a mesma já havia se recolhido ao seu aposento. O assustado Jorge, envolto em um silêncio medonho, vai para o seu quarto, tentar descansar.
Jorge dormia profundamente, quando no meio da noite ele é acordado com um barulho de crianças, rindo e brincando. Ele se levanta e vai investigar aquele barulho, chegando à porta de um quarto, ele percebe que o som das risadas e brincadeiras vinha lá de dentro. De posse de uma lanterna e com um cuidadoso movimento, ele abre a porta e ver ali várias crianças paradas. As risadas e supostas brincadeiras se cessam. Elas olham fixamente para Jorge, elas trajavam roupas idênticas, parecia uma espécie de uniforme, todas sujas de sangue e salpicadas. Assustado, o jovem que sonhava em ser padre, pergunta ao grupo de crianças:
-- O que fazem aqui a esta hora? Por que não estão em suas camas?
Porém, um silêncio absoluto se faz contínuo. Os vultos continuam a olhar fixamente para Jorge. Ele fica desconcertado e tentando impor um ar de autoridade em sua voz, ele diz:
-- Vamos crianças, não é hora de brincar, é hora de descansar!
Então uma das crianças caminha sorrindo na direção de Jorge, era um sorriso macabro e ele percebe que todos os dentes daquele menino eram negros e podres. Então, a perdida alma infantil o responde:
-- Já estamos tentando descansar, mas não conseguimos, queremos que você se junte a nós.
De repente se ouve passos fortes pelo corredor, Jorge olha para a porta aberta as suas costas e como que num passe de mágica, ao voltar o seu olhar para o interior do quarto, ele não ver mais nenhuma daquelas crianças. Ele percebe somente o bater da janela do quarto e ao aproximar-se da mesma, ele avista o misterioso cemitério, iluminado por faixas de luz que penetravam nas sepulturas.
Ele sai apressado do quarto, olha o corredor, mas não ver ninguém. Caminha em direção ao seu aposento e ao penetrar em seu interior, ele observa a presença, em um canto escuro, da freira Izabela e da dona Iara. Ele, ao dar alguns passos porta adentro, percebe sentado no chão, aquele ser estranho, que ao se levantar, Jorge se assusta com a monstruosidade do mesmo. Assustado e pressentindo o perigo, ele consegue rapidamente se apossar de uma garrafa de água benta que ele sempre carregava. A grande criatura negra emitindo um som horripilante, atravessa a parede ao ser atingido por aquelas gotas sagradas. A freira com uma voz ríspida diz ao Jorge:
-- Nós não aceitamos estes objetos religiosos aqui!
Jorge responde à freira:
-- Mas são objetos sagrados, você como uma religiosa devia compreender!
A freira com uma risada de deboche o responde:
-- Meu filho eu não sou religiosa e não vejo a hora de pagar a falha que cometi para com o meu mestre e me ver livre deste disfarce.
Iara, atrás de Jorge lhe dá um forte e doloroso abraço, ela tenta transportar o jovem para o cemitério. Mas ele começa a rezar por sua alma e a recitar alguns versículos da bíblia, Iara com um desconforto enorme, o solta. A freira estende as duas mãos na direção do jovem, inicia uma medonha mutação no semblante daquela mulher. Seus olhos se convertem em uma totalidade negra, um estranho sorriso se estampa em seu rosto e com um forte golpe ela atinge o assustado e desnorteado Jorge. Ferido, ele se levanta segurando sua bíblia, sai apressado pelo corredor, desce as escadas, sai pela porta do casarão e ao se aproximar do portão, que parecia o último obstáculo para a sua liberdade, a cor cinza do dia se converte em trevas. Os vultos das almas das crianças mortas o recepciona e o jovem desaparece na escuridão do cemitério.
Na manhã seguinte caminham a freira Izabela e a dona Iara em direção ao cemitério, elas observam a bíblia do Jorge caída ali, próximo ao portão do orfanato, com o vento movimentando as suas páginas. Elas chegam em uma sepultura nova e colocam uma cruz com o nome: Jorge Cruz dos Anjos. Então chegam próximo delas uma monstruosa criatura negra que pergunta:
-- Este é o primeiro da cota masculina?
A Freira lhe responde:
-- É sim, meu senhor, mas está ficando cada vez mais difícil, se você puder nos fazer uma outra proposta, ficaremos satisfeitas.
O espírito negro lhes responde:
-- Se vocês conseguirem convencer a ceifeira a trazer uma alma pura, totalmente pura, considerarei a cota completa.
A freira Izabela, perturbada com a difícil tarefa lhe diz:
-- Mas como meu mestre, eu irei encontrar uma alma totalmente pura neste mundo conturbado? Talvez seja uma tarefa difícil se procurarmos até mesmo entre as crianças.