A Dama de Negro (Republicação)

Pedimos por Paz(de Espiríto)

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No campo de batalha, eu era o único que ainda estava de pé, com minha espada na mão e o meu escudo despedaçado na outra. Meu clã havia sido destroçado, os McLain iriam se vingar, enquanto ainda houvesse um bravo guerreiro desse clã em pé, ele estaria buscando vingança, eu Duncan McLain iria atrás dela, iria honrar meu kilt e minha família.

No campo de batalha só sangue e corpos começando a apodrecer restavam, a batalha foi dura e sangrenta, os McLain contra os Campbells. Eles eram muitos e conseguiram nos derrotar, mas eu me vingaria. Sentei a sombra de um grande e velho carvalho, tomei um pouco do meu uísque. Fiquei alisando a minha barba ruiva enquanto descansava, um ferimento profundo na cintura era meu companheiro. Acabei adormecendo.

Foi ai que ela apareceu, desceu de sua carruagem e veio andando em minha direção, seu lindo cabelo negro balançava ao suave toque do vento, não sei como ela me encontrou, pois estava na sombra do carvalho e ainda mais com toda aquela destruição ao meu redor. Ela me acordou e perguntou:

- Bravo guerreiro, o que fazes deitado ai? – ela não me deixou responder - Não deveria estar se preparando?

- Para isso minha senhora, eu preciso de alguns homens, preciso de alguns cavalos. - falei pensando que ela se referia a batalha.

- Para lutar e matar seus irmãos? Sem um pingo de amor ou um único momento de amor a Deus? – ela me disse.

- Minha senhora, me empreste um dos seus cavalos, eu preciso voltar para a minha tribo, preciso avisar que fomos derrotados. Nós precisamos de um contra-ataque.

Ela então se ajoelhou ao meu lado e começou a falar:

- Eu não me importo com guerras, a estupidez dos homens é muito grande, aposto que você não sabe sequer o motivo de matar seus irmãos do sul, a guerra só transforma homens em animais, mas essa sede de sangue dos guerreiros, tão fácil de ser iniciada e impossível de ter fim é o motivo do meu desgosto com a minha missão.

- Quem... Quem é você? – perguntei.

- Isso não importa, quem sou eu? Eu sou a mãe de todos os homens, sou aquela que irá encontrar todos em algum momento da vida, ,principalmente, no final dela.

Aquela mulher que me aconselhou tão sabiamente, era a minha morte, ela vinha me buscar, fiquei um momento calado, não podia lutar contra a vontade dos Deuses, não envergonhei meu clã em vida e não envergonharia agora.Perguntei:

- Estou morto?

- Você não está morto, mas você está morrendo, alias desde o dia em que você nasceu que está morrendo, quando bebeu seu primeiro uísque, quando pegou pela primeira vê em uma espada, quando matou seu primeiro inimigo.

Confesso que temi andar sozinho pelo vale das sombras. Perguntei para ela:

- Você pode ficar?

Ela sorriu para mim. Como era lindo. Seu sorriso era perfeito, seus longos cabelos negros balançavam de leve ao vento, eles combinavam perfeitamente com o seu vestido preto. Aquela era a morte, não era tão feia quanto diziam tão forte é a morte que leva o gato e o rato, que leva o homem, eu te detesto e te amo.

- Ó dama, estenda-me sua mão e deixe-me descansar ao teu lado.

- Tenha fé e acredite em mim. – disse ela.

Colocou a mão em meu peito e eu o senti cheio de vida, as dores do meu corpo, eu já não sentia mais. Ela disse:

- Não existe nada nos números, não caia em um erro tão tolo, mas quando precisar de mim fique tranqüilo, eu não estarei longe.

Após suas palavras, ela deu-me as costas, incapaz de dizer qualquer coisa, apenas a observei distanciar-se de mim, até que suas vestes negras desaparecessem.

Acordei assustado, passei a mão por sobre meu ferimento, nada, havia cicatrizado milagrosamente.

Desde aquele dia, que não sou mais um guerreiro, desde aquele dia que eu tento pacificar os clãs da velha Escócia sem guerra, mas é quase impossível, eu sei que agora tenho alguém do meu lado, mas nem por isso minha missão é mais simples, mas meu coração se renova, a cada lembrança que eu tenho daquele dia. Se um dia ela vir até você, absorva sabiamente todas suas palavras, faça de sua coragem e sua presença, seu prêmio e diga ''olá'' por mim!

João Murillo
Enviado por João Murillo em 07/06/2011
Código do texto: T3020369
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