O acidente

Naquela noite estava chovendo muito. A noite estava escura e relampagos cortavam o céu criando desenhos assustadores.

Mesmo apesar da chuva forte estávamos correndo um pouco mais do que devíamos.

Eu estava no banco do carona, um amigo dirigia e mais duas amigas e outro amigo no banco de trás.

Era sexta feira e estávamos ansiosos para voltar para casa depois de uma semana puxada de provas na faculdade.

Ainda faltavam umas duas horas para chegarmos.

No bando traseiro podia se ouvir o ronronar das meninas dormindo.

Quase não dava para enxergar nada na estrada, era uma rodovia de pouco movimento e se sofressemos algum acidente provavelmente só seríamos encontrados no dia seguinte quando o dia amanhecesse.

Estavámos falando sobre algo que nem me lembro mais, devia ser algo sem importância quando de repente ao fazermos uma curva avistamos de longe um vulto, algo branco, parecendo ser uma mulher.

Pedi para que meu amigo diminuisse a velocidade e quando nos aproximamos, pudemos ver claramente.

Sim, era mesmo uma mulher, e estava toda suja de sangue e desesperadamente correu até a porta do carro, abri o vidro e pude ver que ela estava toda molhada, com ferimentos pelo rosto, nas mãos e chorava muito.

Estava também muito pálida.

A chuva havia dado uma trégua e agora era apenas uma garoa.

Perguntamos o que havia acontecido e ela ainda chorava e depois de alguns segundos tomou fôlego e em poucas palavras disse que seu carro havia despencado na ribanceira que beirava a rodovia e que sua filha e seu marido estavam presos dentro do carro.

Ela falava agitadamente e acabou acordando as pessoas do banco traseiro.

Ficamos ali meio sem saber o que fazer e como ajudar.

Quando me virei para falar com meu amigo que estava ao volante, e rapidamente me voltei a olhar para fora ela não estava mais lá.

Levei um susto e senti muito medo. Teria sido minha imaginação? Perguntei se mais alguém havia visto a mulher e sim, todos haviam visto e ouvido.

Saímos do carro e notamos que estávamos mesmo próximos de uma pequena ribanceira. Não sei se todos a viram, mas quando olhei para baixo puder ver algo branco descendo, só podia ser a mulher.

Sem pensar desci pelo barranco e os outros me seguiram, havia mesmo um carro lá embaixo.

Estáva caido de lado, bem destruído.

Devia ter capotado várias vezes até parar ali.

Lá estavam dentro do carro um homem e uma menina, ambos aparentemente desmaiados.

Havia muito sangue no estofamento e em outras partes.

Ligamos para a emergência e ficamos por ali.

A cena toda era de terror. Mas a mulher não estava lá.

Com a lanterna comecei a olhar ao redor.

E quase desmaiei quando a vi. Havia não muito longe do carro uma pessoa, uma mulher que deveria estar dirigindo o automóvel e que foi arremessada para fora do carro em função do acidente.

Ela estava de costas, mas pude reconehcer pelas roupas que era a mesma mulher que nos pedira ajuda na beira da pista.

Senti um frio tomar conta de mim e um medo como nunca havia sentido antes.

Quando todos correndo para onde eu estava, ficaram abismados.

Logo o resgate chegou e socorreram o homem e a menina. Mas a mulher já estava morta, provavelmente havia falecido quando foi jogada para fora do carro.

Eu estava em choque. Uma psicóloga que acompanhava o resgate me prestou apoio.

Eu nunca havia passado por tal situação e não entendia o que havia acontecido.

Como pode a tal mulher nos avisar? Era mesmo ela?

Com muito esforço as vítimas foram levadas para a rodovia onde a ambulância os esperava.

Quando todos estavam em segurança no acostamento a chuva voltou a cair, foi como se tivesse dado uma trégua para que pudesse fazer o resgate.

Antes de entrar no nosso carro, dei uma olhada para o local onde estava o automóvel capotado, que ficaria esperando por um guincho para puxá-lo para cima.

Apesar da chuva estar bem grossa, puder ver um vulto próximo ao carro. Era ela, parecia chorar mas depois notei que me olhava e fez um aceno com a mão e sentou se ao lado do carro.

Acenei e entrei no carro.

Nunca comentei com meus amigos sobre essa última cena.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 07/06/2011
Código do texto: T3019592
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