Levado pelo Saci

Ouvi minha mãe contar essa história muitas vezes quando era mais jovem.

Ela contava que quando era recém casada e morava nas fazendas e meu irmão mais velho era bem pequeno, ela trabalhava na roça com meu pai.

E levavam meu irmão e o deixavam brincando sobre uma espécie de tapete embaixo de algum pé de café. E eles ia trabalhando e iam mudando a criança de lugar para que não ficasse muito longe deles.

Assim faziam todos os outros casais, era um procedimento normal na época.

Mas uma certa vez algo aconteceu.

Quando se distanciaram e minha mãe voltou para pegar meu irmão só encontrou o tapete e alguns brinquedos. Ela ficou desesperada e assustada. Ao ouvir o grito dela meu pai e outras pessoas correram até onde ela estava e encontraram chorando e mal conseguindo falar para explicar o ocorrido, mas eles logo perceberam que a criança havia sumido.

Todos se uniram na tarefa de busca, e se espalharam pelo cafezal.

Chamaram pelo nome, olharam por debaixo de cada árvore e depois de muito procurarem o encontraram embaixo de um pé de café.

Estava sentado entretido com alguns brinquedos que não eram os dele e também não pertenciam a nenhuma criança daquelas familias que ali também trabalhavam.

Me irmão balbuciava as palavras e não conseguia explicar o que havia acontecido.

Ele ainda mal dava uns pequenos passos. Não poderia ter feito o trajeto caminhando.

Mas suas roupas também não estavam sujas.

Ele estava muito alegre. Ninguém havia feito mal a ele.

Voltaram para casa e depois de alguns dias todos já haviam esquecido do incidente.

Passado alguns anos meu irmão desapareceu novamente no meio do cafezal, mas logo foi encontrado dessa vez. E ele relatou o que aconteceu.

Ele disse que o mesmo menino daquela vez apareceu e o convidou para ver coisas legais.

E ele simplesmente foi, como se estivesse hipnotizado.

Quando questionado como era esse menino, ele disse que era negro, muito sorridente com um gorro na cabeça e que algo que o impressionou era que o garoto só tinha uma perna.

E que ele já conhecia daquela outra vez que ele sumiu quando era bem pequeno.

As pessoas ficaram assustadas e nunca mais deixaram suas crianças sozinhas no meio do cafezal.