Amarelinha

Naquele fim de tarde, já quase noite, tudo parecia tranquilo naquela pequena cidadezinha encravada entre as montanhas no interior.

As pessoas sentadas nas cadeiras nas calçadas conversando entre vizinhos.

O cheiro bom da comida caseira saindo pelas chaminés.

Bons tempos onde as preocupações com problemas de cidade grande não existiam e as pessoas não tinham medo de ficarem nas ruas, mesmo com a iluminação suave e por vezes bem fraquinha produzida pela lua.

Mas naquele dia, ou melhor, naquele começo de noite a lua já estava aparecendo e parecia que iluminaria muito aquela rua.

Mas nem tudo é como esperamos que seja.

E na rua de terra batida, os meninos jogavam bola ou corriam com seus carrinhos de rolimã, disoputando corridas a alta velocidade, bem, pelo menos para ele era.

As meninas? Sim haviam meninas naquela rua e brincavam animadas também.

Bonecas, pulavam corda, passa anel e amarelinha.

Na verdade algumas mães não gostavam dessa brincadeira, talvez por terem em suas extremidades as palavras céu e inferno.

Mas elas, as meninas gostavam e as mães acabavam por deixar com que todas elas brincassem.

E lá estavam elas na maior animação. Pulando, jogando a pedrinha e avançando rumo ao céu ou....ao inferno.

Eram todas quase que da mesma idade. Loiras, ruivas, morenas, enfim eram todas belas meninas.

A lua já estava alta, mas como era verão, as pessoas continuavam a conversar. E as crianças continuavam a brincar.

De repente um grito rasga o céu estrelado fazendo com que todas as mães corram para onde as meninas pulavam amarelinha.

Marie, a mais loirinha da turma, estava petrificada olhando para o chão.

Sua expressão é de pavor, de desespero.

A pedrinha que ela jogara estava bem no meio do quadrado riscado no final do "tabuleiro" desenhado no chão de terra batida. Inferno é o que indica a palavra.

Segundo o jogo ela devia pular para o inferno e perder o jogo.

Todas muitas vezes já cairam nesse "inferno" e saíram do jogo.

Mas Marie está ali, parada, olhos arregalados. Chorando, tremendo e com medo.

Um medo que ninguém havia visto até agora numa inocente bricnadeira de amerelinha.

A mãe dela a abraça e a consola, tentando saber o que houve. Ela não diz nada.

Vai para a casa com a mãe.

As outras mães voltam para suas conversas e as meninas depois de alguns minutos voltam a brincar animadamente.

Jogando a pedrinha e pulando para onde ela indica, umas vão para o céu, outras para o inferno.

Risos, conversas e o cheiro bom de comida no ar.

Verena está na sua vez, vai jogando e pulando e nem se dá conta de que está indo muito longe e em direção ao inferno.

As meninas ficam ali paradas vendo os quadraos com números irem se multiplicando e Verena se afastando cada vez mais.

Algo está errado, a brincadeira não é assim. Não.

Verena se volta e olha para as meninas. Sorridente e joga a pedra, mais uma vez e mais outra.

Ela está longe. Bem longe.

Inferno. Ele está lá. E ela joga a pedra bem no centro dele.

Um buraco se abre no chão e as meninas percebem que de dentro dele sobe um vapor. Verena olha de novo para as meninas, mas dessa vez não estã mais sorrindo. Seu rosto está apavorado. mas mesmo assim ela salta para o buraco aberto no chão. Inferno.

Todas as meninas entram em total desespero, gritando e chorando.

Do buraco aberto no chão sobe um vapor e gritos podem ser ouvidos.

Gritos de Verena e muitas outras meninas que foram para o inferno.

Quando as mães chegam ao local, o desenho feito no chão já recuou, voltando ao normal, o buraco não existe mais no chão.

As meninas ainda então em choque e nem conseguem explicar.

Verena nunca mais apareceu.

E as meninas nunca mais brincaram de amarelinha.

Mas o desenho ainda continua lá.

Quase apagado no chão de terra batida.

Há quem diga que já viu o inferno se abrir outras vezes e soltar seu vapor e os gritos das meninas.

Mas não se sabe se realmente viram isso mesmo.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 29/05/2011
Código do texto: T3001460
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