carne
Me lembro de quando eu era criança, e ainda não havia eletricidade e claro que geladeiras também não haviam.
Morávamos no centro da cidade e éramos uma família abastada. Tínhamos uma boa vida.
Me lembro de quando eu entrava na cozinha, o que era raro, pois tínhamos lá um homem, acho que era cozinheiro e ele não gostava que fossemos até lá. Ele considerava aquele local sagrada.
A dispensa estava sempre cheia e havia linguiças dependuradas, grandes pedaços de toucinho salgado e grande latas cheias de gordura animal e dentro delas pedaços de carne que nos eram servidos praticamente todos os dias.
Naquela fase de criança não nos preocupamos com quase nada, apenas brincar e ser felizes.
Mas algo me marcou muito.
Em um certo dia, quando nos sentamos para o jantar, o tal cozinheiro, entrou na sala e disse para minha mãe que estávamos o estoque de carne e derivados estava se esgotando e que daria somente para mais alguns dias.
Minha mãe olhou para ele com um olhar de cumplicidade, o que me levou a imaginar que eles tinham algo mais do que apenas empregado e patroa, até porque meu pai havia desaparecido de modo misterioso quando eu ainda era bem criança.
Depois de olhar para ele, minha mãe se virou para mim e disse:
Acho que é sua vez de trazer uma amiga da escola para jantar conosco !