A Primavera (Parte 6 dse 9)

Quando acordei reconheci o lugar. Na verdade não reconheci, foi como um dejavu.

As paredes azuis, a mobília de madeira de lei, o divã de couro lustroso, os livros em estantes de mogno e pinho. Tudo muito familiar e ainda assim eu não podia ter estado ali nunca.

Sou um homem doente. Minha mente me prega peças constantemente. A própria Deva é sinal disso. Uma garotinha de lindos cabelos louros cacheados com sua compulsão por contar tudo. Uma menina que eu sei que não existe, que não passa de um delírio da minha mente doente.

MAs se é assim, por que quando acordei e olhei em volta não me surpreendi com a foto dela na escrivaninha? Uma criança de carne e osso com um lindo vestido azul de babados e rendas, exatamente como eu imaginava que ela se vestiria.

Talvez eu tivesse imaginado tudo. Quem sabe cada coisa que eu passei até agora não tenha sido fruto da minha mente doente...

Deva exista, eu, quem sabe, devo sere uma criação da mente dela. Tudo é possíuvel, ha muito tempo eu não tomo meu remédio.

Quando o homem de terno elegante entrou no escritório eu tremi. Aquele cheiro de loção caríssima era como um convite a uma memória escondida que agora relutava em ser arrancada das profundezas da minha mente.

- Você não lembra de mim, lembra? - Perguntou.

- Eu sou doente, não lembro de muita coisa... - choraminguei esperando que de alguma forma ele tivesse pena de mim. Não teria, eu sabia. Fiz muito mal aquele homem, mas não tinha idéia de como ou por que.

- Lembra dela, ao menos? - Perguntou apontando a foto de Deva. Não respondi, mas meu silêncio me denunciava. é claro que eu reconhecia aquele rosto, ele me assombrava desde que aconteceu o acidente. - Seu nome é Débora. Débora Valéria Rocha Pinho. Deva para os íntimos. Morreu numa tentativa de fuga do Hospital Psiquiátrico. Você estava com ela.

- Uma garotinha num hospício? - Tentei evitar o sorriso quando imaginei Deva numa camisa de força, onde ela estaria agora?

O homem se ajoelhou em minha frente e sorriu de volta.

- Ela tinha 27 anos quando morreu. Vocês se conheciam desde pequenos, ambos eram perturbados mentalmente, mas ela estava muito bemn quando você foi arrastado para aquele reformatório. Lembra disso? Ela tinha 7 anos e você 9. Deva ia bem até você retornar, nunca mais teve um ataque psicótico nunca mais matou ninguem.

- Então era ela que matava? Por que ninguem acreditou em mim?

- Você assumiu a culpa. Se não fosse menor de idade teria sido diferete.

- O que você era de Deva?

- Marido. Ou melhor... Você me tornou o marido dela. Se não tivesse feito o que fez, Deva estaria viva numa clínica psiquiatrica, você seria um homem rico, e eu estaria gozando a vida ao lado da mulher que amo.