Sonho?
O dia estava um tédio. Sexta feira. Praticamente nada para fazer.
Já tinha jogado paciência. TInha fuçado na net e o tempo parecia ter estagnado.
A hora parecia não passar.
Ainda faltavam quase uma hora para ir embora.
Tédio.
O sono começou a dar sinal de vida.
Suas pálpebras foram ficando pesadas de repente.
Quase incontroláveis. Me levantei, fui ao banheiro e joguei água fria no rosto.
Mas sem êxito. O sono parecia insuportável.
Voltei para minha sala, me sentei em frente ao computador e abri o thunderbird para ver se algum e-mail havia chegado.
Apenas algumas propagandas entulhando minha caixa postal.
O sono quase me faz bater com a testa no monitor.
Começo a sentir minha visão se embaçando e saindo do foco.
Muito estranho a sensação que estou sentindo.
As outras pessoas do escritório parecem irem desaparecendo aos poucos, uma após outra.
De repente me vejo sozinho.
Sinto um arrepio quando ouço vindo de algum canto do escritório, um choro de criança, não um choro normal, mas um choro melancólico, cheio de dor e medo.
Impossível, eu penso. Não aqui. Como uma criança estaria aqui??
Os sons de choro parecem ficar mais audíveis e próximos.
Sinto medo, muito medo.
Continuo com os olhos fixos na tela do monitor.
Tenho medo de olhar para os lados.
Mas não preciso olhar para os lados para ver o que vi e que até hoje ainda sinto a mesma sensação daquele dia.
Num canto da sala, bem à minha frente vejo uma criança. Ela está agachada e chorando.
Aparenta ter uns 5 anos e está mal vestida, roupas rasgadas e bem suja.
Seus cabelos estão desgrelhados.
Tento não olhar para ele, mas sinto que ele me olha fixamente.
Ele para de chorar e continua a me olhar.
Tio - ele diz com uma vozinha quase inaudível - Me leva pra casa?
To com frio e com fome.
Eu fiquei ali paralisado sem saber que atitude tomar.
Ele repetiu a frase.
Apesar do medo que estava sentindo; me levantei e andei até ele, mesmo com minhas pernas não querendo obedecer ao resto do meu corpo.
A criança então ficou em pé, era um menino. Puder ver que tinha várias escorriações pelo corpo.
Ele me estendeu a mão. Uma mao bem pequena e fria, quase gelada.
Vai me levar tio? - Ele perguntou.
Sim, lhe respondi como se estivesse anestesiado.
Saímos. Chegamos ao carro, ele entrou e pedi para que fosse me dizendo o caminho de sua casa, se é que ele tinha uma casa para morar. Sei lá, de repente morasse na rua, sob algum viaduto, vai sabe.
Paramos em um mercado e comprei algumas guloseimas e entreguei a ele, que devorou com voracidade.
Ele não falava muito, só respondia o que eu perguntava e ainda assim com palavras curtas.
Rodamos pouco tempo e ele me disse: É aqui tio.
Gelei. Aqui? Em frente ao cemitério? Perguntei.
Em fretne não tio, moro lá dentro.
Imaginei que tivesse algum barraco lá dentro.
Ele disse que podia me deixar ali que ficaria bem.
Ele se dirigiu ao portão e fiquei ali parado observando.
Ao chegar ao portão pude ver que ele colocou a sacola com algum lixo no chão, me acenou e entrou
Acenei e saí.
Quando dei por mim, estava ainda sentado em frente ao computador.
As pessoas se despedindo e saindo do escritório.
Será que me viram cochilando? Pensei encabulado.
Sai agradecendo por aquele dia ter terminado.
Mas o sonho não saia de minha mente, parecia tão real.
E sem perceber acabei mudando a rota que normalmente eu fazia para voltar para casa.
E de repente eu estava passando bem emfrente ao cemitério, sim, o cemitério que vi no sonho.
E para meu espanto quando estou bem em frente ao portão, notei ali no chão uma sacolinha de supermercado e por coincidência o mesmo supermercado onde no sonho eu entrei com o menino e comprei as guloseimas.
Senti um vento frio passar pelo meu rosto, senti um arrepio estranho, e tive medo, afinal todos os vidros do carro estavam fechados.
Continuei meu caminho, mas fiquei com a dúvida, teria sido uma coincidência ??
Teria sido tudo apenas um sonho mesmo?
São perguntas que me afligem desde aquela sexta feira tediosa.
E sempre passo em frente ao cemitério e algumas vezes até entrei mas nunca mais vi o pequeno menino.
Mas sei que ele está sempre por lá, sinto que me olha quando eu passo por lá.