O DIABO E O PARABELLUM

Acabara a revolta, a guerra civil que instigou a sanha dos demônios numa guerra paralela a dos homens achava-se rastejante em seus últimos momentos na terra, não havia mais espírito algum para ser disputado, o cheiro de enxofre pairava entre os despojos de guerra, e a pequena vila aglomerava no interior de uma pequena capela os últimos sobreviventes para uma missa de ação de graças pelo fim da mortandade...

Todas as hordas demoníacas partiram, vieram e se refestelaram nas batalhas recrutando compulsoriamente almas para seus recantos infernais.

Por sobre a fumaça do fogo que queimava as ultimas catapultas recheada de corpos, desceu como uma sombra psicodélica o maior dos encarceradores de almas, olhos vermelhos, uma enorme presa ao meio da boca, e mãos prateadas brilhantes segurando uma espada dourada com empunhadura negra.

Esgueirando-se entre os corpos putrefatos escolheu o de uma mulher esfarrapada, mas com poucos sinais de deterioração.

Nesta metamorfose o demônio sabia que retornava a vida humana, teria que ir a capela, infiltrar-se e liquidar o ultimo anjo ainda guardião naquela terra arrasada, se falhasse não retornaria ao reino de onde veio, iria jazer como um ser qualquer, mas a seu ver o mais seguro para eliminar o anjo, pois a camuflagem era perfeita, sabia a que tempo daquela cerimônia, a redenção ou o fracasso definitivo o aguardava.

Arrumou-se nos farrapos que lhe cobria o corpo, situou a espada junto ao corpo, invisível a outros seres humanos e caminhou até os fundos da capela entrando por uma porta lateral...

Sentou-se ao fundo, e viu deslocar-se de um lado a outro do pequeno altar a figura esguia do sacerdote, um longo manto da cor do ouro cravejado de pequenas pedras verdes, e ao meio uma cruz, cobria o seu corpo. O olhar do demônio fez um raio x do frade e reconheceu o anjo também num corpo humano e também vulnerável a extinção se atacado de maneira mortal.

E durante o evento, repugnou-se várias vezes o demônio com a paz e a misericórdia reinante, escondeu a face, mas numa das vezes que a levantou para conferir o seu alvo, sentiu o calor do suor descendo no rosto do sacerdote e seu coração acelerado, olhou mais uma vez o corpo dele e não vislumbrou armas que pudesse lhe oferecer defesa, não estava entendendo, deveria haver algo para defendê-lo, indagou-se por algumas vezes se não seria prudente desistir do intento, mas não, atribuiu a sorte aquela facilidade que teria para liquidar aquele filho dos céus, inimigo milenar.

Os minutos arrastaram-se, chegou à hora da eucaristia, uma longa fila foi formada entre a entrada da capela e o altar, a mulher, agora um demônio, postou-se na fila para aproximar-se do sacerdote, neste ínterim, devido ao momento de reflexão poucos levantaram a cabeça e ele passou entre todos, vendo cada vez mais perto de si a figura pálida e serena do frade, e quando finalmente podia ver o suor antes sentido, pôs a mão embaixo da vestimenta, tinha a espada empunhada, e o corpo direcionado para a mesa do altar onde em frente estava o religioso, seria agora o ato...

O sacerdote que estava com o cálice de hóstias na mão, pareceu para o demônio um alvo liquidado, e neste êxtase, quando começou a puxar a espada, num gesto rápido o sacerdote, girou o cálice, com o fundo para o demônio abriu com um clique um dispositivo e despejou 4 tiros de parabellum no crânio do demônio, que estupefato com o gesto, arfou os últimos momentos até cair com a cabeça despedaçada diante de todos, ainda rastejou, no que foi atingido por mais dois tiros... Esta batalha o céu ganhou...

Parabellum: Pistola automática, usada pelo alemães na II guerra mundial.

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 18/05/2011
Código do texto: T2978873
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.