A Mosca

Especismo: Discriminação baseada na diferença de espécies. A discriminação especista, pressupõe que os interesses de um indivíduo de outra espécie animal, são de menor importância pelo mero fato de pertencer a um determinado grupo.

Quando dizem que a humanidade é a pior criação de Deus, muitas pessoas discordam, porém outras concordam. Muitas vezes, dizemos que somos o único ser que mata seu semelhante, sem um motivo aparente. Será que se algum outro animal dominasse o planeta, como nós; existiria alguma diferença?

***

Um belo dia, Bruno acordou deitado de bruços. Estava sonolento demais para querer levantar-se. Ficou esparramado, pensando em alguma banalidade que tinha feito na semana passada e no que tinha jantado na noite anterior.

Lembrou-se que a tarde teria que ir até o trabalho, para pegar uns documentos e depois teria que ir visitar seu tio, afinal, era aniversário do seu primo de cinco anos. De repente, a idéia do bolo e da cobertura doce o fez ficar ansioso. Ficou pensando na deliciosa combinação de açúcar e em toda aquela sacarose, transformando-se em frutose e glicose. Como era bom.

Lembrou-se de que em festa de criança sempre tem brigadeiro, balas, beijinhos, pirulitos e todo o tipo de doce em geral. Aquele pensamento despertou sua gula, todo o seu apetite. No começo, achou um pouco estranho, pois não era muito chegado em açúcar, mas depois, achou que era apenas um desejo estranho daquele dia.

Remexeu-se e percebeu que não estava deitado em sua cama. Tentou mover seu braço, mas notou que seu corpo estava dormente.

Bruno abriu os olhos e olhou ao redor. Não estava em seu quarto. Estava na sala de sua casa. Deitado de frente para a enorme janela aberta, que parecia muito maior vista dali, uma fraca luminosidade entrava, pois parecia que o dia estava nublado.

A dormência foi passando e ele começou a sentir as mãos, mexeu com uma, depois a outra e mais outra.

- Meu Deus... – gritou.

Bruno levantou-se assustado e caiu. Olhou, novamente onde estava. Ele estava caído em uma das prateleiras do seu armário. E para aumentar sua agonia, ele sentiu asas em suas costas.

Bruno tinha virado uma mosca.

Com algum esforço ele pôs-se de pé. Suas seis patas eram complicadas de se equilibrar. Por reflexo, suas asas se moveram, fazendo um barulho estranho.

Na sua frente, ele viu o pequeno espelho de maquiagem de sua namorada, que agora era gigante, em relação a ele. Foi até ele e viu seu reflexo.

Ele tinha o tórax negro, seu exoesqueleto de quitina com seis patas e um par de asas membranosas, seu abdômen esbranquiçado era nojento e grotesco, podia ver os claros resquícios da metameria nele. Mas, seu rosto ainda era humano. Ainda tinha o rosto jovial e o nariz afilado, mas sua expressão era incrédula e de horror.

Sentiu náuseas e colocou uma das patas na boca, mas notou que estava suja de alguma substancia marrom gosmenta. Seu rosto foi sujo de leve, porém o cheiro horrível da pata foi o bastante para fazê-lo vomitar.

- Minha pata está suja. – disse.

Bruno ouviu passos e vozes vindos em sua direção. Ele olhou para o lugar de onde vinha o barulho e seu horror duplicou, um monstro gigante surgiu em sua frente.

Mas, depois de um momento, ele notou que não passava de uma pessoa normal se aproximando. Baixou a cabeça um momento e ficou aliviado, pois, talvez pudesse pedir ajuda.

A pessoa veio caminhando e parou em frente de onde ele estava. Bruno pode reconhecer seus próprios tênis e sua calça jeans, levantou a vista e viu sua camisa vermelha escrita “BAZINGA”, em garrafais letras amarelas.

Quando Bruno levantou a cabeça, todo o seu medo foi triplicado, pois a pessoa que estava na frente dele, na verdade não era um ser humano, no mínimo, era um monstro horrendo.

No lugar de uma cabeça comum, a coisa tinha a cabeça de uma mosca, com dois enormes olhos avermelhados cobrindo quase todo o seu rosto peludo, duas pequenas antenas saiam do espaço entre os olhos e uma enorme probóscide em forma de desentupidor de pia e com uma pequena boca esponjosa, muito nojenta que quase tocava o seu peito.

Bruno ainda quis gritar, mas não teve tempo.

A criatura pegou uma lata de inseticida e pulverizou sobre a prateleira do armário.

Bruno ficou atordoado, pois não conseguia respirar. Ficou tonto por um momento, cambaleou e caiu. Mas, um momento depois estava de pé, novamente.

O gigante, cabeça de mosca pegou uma revista quinzenal atrasada e enrolou-a, depois pegou impulso com a mão e deu uma bordoada em cima do corpo artrópode de Bruno, que morreu esmagado.

João Murillo
Enviado por João Murillo em 16/05/2011
Código do texto: T2972781
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