O LENÇOL DE LINHO BRANCO

 
Sou friorento. Durmo nu. Contraditório, não? É que sou do Nordeste, do Ceará, para ser mais exato, nordestino, calor causticante nestas bandas. Porém, temos inverno e quando este vem, sofro, porque sou friorento.

Ela chegou a minha porta, uma velhinha mirrada, cabelos encanecidos, olhar cativante, um embrulho na mão, oferecendo-me. Trocava por comida. Abriu-o. Um lençol de linho branco, alvíssimo. Comprei-o pela sua real necessidade, por sua simplicidade cativante e porque sou friorento.

Estreei-o no mesmo dia, na mesma noite. Deitei-me encasulado em múmia branca. O sono veio rápido.  Horas mais tarde, sei lá, senti algo sufocando a minha garganta, faltando-me o ar. Acordei e, para meu espanto, deparei-me com o lençol como se uma cobra branca fosse, rastejando sobre meu corpo, se enrolando no meu pescoço. Lutando com dificuldades desatei-o de mim. Revivi aliviado.

Lembrei-me da velha. Ela não estava barganhando o lençol. Estava, isso sim, se livrando do maldito lençol. Era maldito o lençol. Pensei em queimá-lo, guardá-lo. Ele era um problema, ou quem sabe, uma solução. Por que não? Tenho inimigos, como exemplo, o meu chefe, lá no escritório. Além de me escalar nos piores serviços, ainda por cima não me promove. Nos últimos dias andei-o observando. Vi-o olhando demais para as pernas da minha esposa.

Vou convidá-lo para passar o fim de semana na minha casa de praia. Como bom anfitrião, vou lhe oferecer o meu lençol alvíssimo de linho branco.  

Sagüi
Enviado por Sagüi em 11/05/2011
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