A dama da lua cheia

Foi em uma noite de lua cheia quando a vi pela primeira vez. Ela estava maravilhosamente linda. A luz da lua a iluminava como se ela fosse sua dona.

      Estava do outro lado da rua e me chamou. Garoava. Ela me chamou com à mão. Esperei os carros passarem e atravessei a rua. Foi aí que eu senti seu cheiro. Ela cheirava tão bem. Aquela garoa e aquele vento ajudava a dissipar o cheiro dela que estava tanto me enfeitiçando.

     Ela pegou na minha mão e sussurrou no meu ouvido:

     - Você quer me comer?

     Aquilo quebrou todo o encanto do momento. Estava tudo tão bonito pra ela estragar com aquela frase vulgar. Parecia uma prostituta oferecendo serviços.

     Um carro passou em alta velocidade por cima de uma poça que ao invés de me sujar com água suja, me sujou com sangue e eu acordei.

     Minha mulher não percebeu. Sentei na cama e levei a mão ao rosto. Fui ao banheiro e joguei uma água na cara. Olhei no espelho. Ela estava atrás de mim. Me virei, ela não estava. Estava essa mulher querendo me deixar louco atormentando meus sonhos?

                                     PARTE 2

     Peguei sua delicada mão. Estávamos em um restaurante. O garçom nos serviu bebida.

     Eu olhava seu rosto e o acariciava. Provei do vinho. Era sangue. O mais puro sangue. Ela começou a gargalhar e eu acordei em minha cama.

                                     PARTE 3

     Eu a conheci nas aulas de espanhol. Era minha professora.

     Ela parecia me tratar de maneira diferente da dos outros alunos. Sua beleza me fazia esquecer que eu tinha uma esposa.

     Um dia, confessei todo o meu amor. Ela, me olhando, acariciava meu rosto e me rejeitou fazendo-me sentir um coitado. Aquele olhar transformou todo o amor em ódio. Eu a queria e sabia que ela seria minha.

     Chegou a hora. Era noite de lua cheia. Fiquei esperando por ela no estacionamento da escola que era pouco ou nem um pouco vigiado. Passava um segurança por lá de vez em quando.

     Ela chegou. Abriu a porta do carro. Eu estava mascarado, disfarçando a voz. Lhe apontei a arma pra cabeça e mandei abrir a porta do carona. Ela sentou-se no banco do motorista e eu, no banco do carona. Disse-lhe para dirigir.

     Mandei seguir  até os fundos de um cemitério e disse pra ela tirar a calcinha. Ela estava de saia. Me disse:

     - Não, por favor.

     Ela começou a chorar. Seu choro e o meu carinho por ela me fizeram pensar em desistir, mas aí, me lembrei do olhar. Aquilo fortaleceu mais ainda minhas intenções. Mandei com que se calasse e seguisse o que eu dizia.

     Ela deitou no banco do carro. Deitei sobre ela e a senti. Com a arma apontada pra cabeça, eu a senti e como foi maravilhoso aquele momento. Ela continuava a chorar e eu gozei.

     Ela parecia ter criado um ódio e uma revolta dentro de si que a fez puxar a minha máscara.

     - Você! É você!

     Meus olhos arregalaram-se e eu só consegui pensar na minha esposa e na polícia.

     Como um ato automático, atirei em sua cabeça. Foi instantâneo.

     Me sentei no banco e fiquei imóvel por alguns instantes. Aí despertei da minha letargia e fugi daquele lugar.

     Chamava a mim mesmo de burro e cretino.

     Quando cheguei em casa, minha mulher perguntou-me onde eu estava e lhe respondi:

     - Não sei. Não sei onde eu estava.

     O que foi que eu fiz da minha vida? O que foi que eu fiz com a dela?

   

                                        FINAL

     Ela queria me torturar e me enlouquecer e estava conseguindo.

     Era noite de lua cheia e a dama da lua viria se vingar.

     Estava sozinho em casa, na sala, assistindo TV, luz apagada. Senti alguém colocar a mão em meu ombro e me chamar. Levantei-me e lá estava ela, nua, com seu corpo apodrecido.

     - Você não me queria? Por que agora você não me quer mais?

     - Me perdoe, por favor. Me deixe em paz.

     Lembrei-me do momento que ela implorava e eu a ignorei e só dei razão a mim. Ela era a morte que pretendia me levar, mas eu não iria aceitar.

     Peguei o abajur e o quebrei em sua cabeça. Ela não se ressente, pelo contrário, pega meu pênis e o arranca. Grito de dor e levo as mãos ao local. Ela me dá um tapa e caio bem no meio da sala. Sinto o inferno bem próximo.

     Ela pega o televisor e o joga sobre mim. Já não vejo mais nada. Estou entre este mundo e o outro quando penetra em meu abdômen um objeto cortante. É uma faca. É o fim.

                                     EPÍLOGO

     Estou no inferno. Fogo pra todo lado e pessoas gritando quando, de repente, ela me aparece.

     - O que está fazendo aqui? Pensei que só as pessoas más viessem para o inferno. - disse a ela.

     - A justiça só cabe as mãos de Deus. Quando eu mesma me vinguei, transformei-me em uma pecadora, agora estou aqui. Trouxe-lhe um drinque.

     - O que é? É para refrescar por causa do calor do inferno? - ironizei.

     Mesmo sem saber o que é, tomo e sinto novamente em minha boca o gosto do sangue. Ela responde:

     - É o seu sangue.

Robert Phoenix
Enviado por Robert Phoenix em 10/05/2011
Reeditado em 19/10/2019
Código do texto: T2962057
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