Empreitada das trevas
Em seu trono insatisfeito ele olhou seus fiéis seguidores, pensava novas formas de reaver seu antigo poderio, sua glória de guerras e batalhas, o príncipe das trevas em sua maldade absoluta precisa recrutar seguidores.
Sem idéias chamou um de seus demônios preferidos, um que em outros tempos havia dizimado milhões:
- Caro amigo, sei de sua lealdade a mim, de seus feitos heróicos do passado em nossa empreitada trevosa, sua genialidade intriga as mentes mais perversas e a minha também.
- Obrigado meu amo, mas fiz o que me cabia, vossa perversidade é muito generosa comigo, sou um simples lacaio maldito.
- Não amigo sua genialidade maléfica é uma inspiração, câmara da gás, vilipendiação do dito povo escolhido, hahaha, digo sem pestanejar amigo Adolf, és um mestre.
- Mais uma vez agradeço, mas o que pedes de mim, vossa maledicência?
- As coisas andam pouco tenebrosas na Terra, aqui nas profundezas precisamos empreender, inovar e conto com tua sábia vilania para poder me auxiliar neste quesito.
- Estou tendo idéias, vossa pestilência, boas idéias, diabólicas idéias, se me permite dizer.
- Sabia que você me entenderia Adolf, o que você vai precisar.
- Preciso ir à crosta com uma veste carnal, podes me conceder isso.
O Príncipe das Trevas riu com estridência e acenou que sim, imediatamente, de suas narinas saiu uma fumaça negra que envolveu todo o corpo do demônio discípulo, a fumaça se dissipou e Adolf tinha desaparecido...
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Enquanto isso, Clementina estava no mercado que trabalhava prestes a receber sua promoção, tinha sabotado sua “amiga” e agora conseguira o emprego de gerente, Clementina não perdoava, não tinha amigos reais, tinha degraus e capachos que pisava para subir na vida.
Conseguir o cargo de gerente foi fácil, foi só difamar a sua rival e transar duas vezes por semana com o dono do mercado.
Ambiciosa, bonita e destemida, Clementina não tinha limites, pudores ou algum resquício de remorso ou de moral. Subitamente enquanto comemorava sozinha, a aquisição do novo cargo, ela teve uma vertigem e passou mal, viu o mundo ficar negro e apagou.
Foi achada no banheiro sem pulso, o resgate foi chamado e encontraram Clementina ali morta no chão do banheiro com um sorriso no rosto e um batom nas mãos.
Quando iam colocar o corpo na maca, eis que os paramédicos ouvem, um suspiro como que puxa o ar com toda a força do mundo vindo do corpo, em seguida uma tosse. A correria se estabelece os enfermeiros do resgate gritam:
- Está viva, traga os medicamentos...
Sim ali estava Clementina, de volta dos mortos, mas a que preço? Ali não estava mais a Clementina que todos conheciam, a verdadeira Clementina estava nas mãos do príncipe das trevas e seu corpo era agora residência de Adolf. Ao abrir seus olhos poucos notaram a mudança do semblante, as nuances da voz, Clementina era uma pessoa só por opção e por sua perversão, amada e cobiçada por muitos homens que usava, mas não tinha laços, seus irmãos a desprezavam por ser alguém realmente desprezível, seus pais já falecidos poderiam notar que ali não era mais a sua filha.
Clementina se levantou empurrando os socorristas:
- Saiam de cima de mim, escória pervertida.
Assustados com tamanha grosseria um deles arriscou dizer:
- De nada viu...
Uma das caixas do mercado sussurrou com a outra:
- Voltou dos mortos, nem o capeta quis a desgraçada, hahahaha
E riram as duas, mas mesmo baixo, nada escapava aos ouvidos poderosos da nova Clementina.
Ao enfermeiro debochado, Clementina se achegou ao ouvido dele e disse:
-Corno...
O rapaz teve vontade de encher a cara da morta viva desaforada mas preferiu se calar e ir embora com seu colega.
Ao chegar em casa depois de um sofrido dia de trabalho o enfermeiro abriu a porta e ouviu os gemidos de sua esposa... Entrou no quarto e viu o fim de seu mundo, sua mulher na cama com seu vizinho.
- Puta que pariu o que é isso?
Tomado de uma ira descomunal, o enfermeiro trancou o quarto e correu ao guarda roupa pegar sua arma. Matou os dois com a certeza que era o justo a ser feito, primeiro o amante, depois a sua mulher, mas não antes de dizer:
- Aquela maldita deve conhecer vocês.
- Amor me perdoa!!!
- Amor o caralho! Pede perdão ao capeta desgraçada, vadia!
Deu dois tiros no meio dos olhos da mulher em seguida se deu conta da tamanha desgraça que havia feito, enfiou o revolver na boca e deu outro tiro.
As duas moças do caixa, receberam uma maldição também.
Clementina chegou entre elas e disse:
- Gordas...
Elas riram porque Clementina era cheinha apesar de bonita e elas eram muito magras.
- Baleia – retrucaram elas e saíram rindo.
Porém Clementina riu mais, as duas passaram a ganhar peso nos dias que se seguiram uma média de dois quilos por semana. Engordaram tanto que morreram enfartadas 8 meses depois disso.
Mas agora a nova Clementina não tinha mais objetivos menores e sim outras ambições, precisava de meios de trazer a massa para sua influência, ia propagar a vontade perversa de seu mestre.
Saiu do mercado como se nada houvesse para fazer ali e entrou na primeira igreja que achou, uma igreja modesta de um homem de bem. Chegou dizendo:
- O senhor é o pastor?
- Sim senhora sou eu, sou o Pastor Sidney e essa é minha esposa Pâmela, o que deseja?
- Necessito de abrigo, quero ajudar na obra da fé, posso lhe ser muito útil.
- Bem que estamos precisando, a luz está para cortar e não sei o que fazer.
- Vamos orar irmão, assim a coleta de hoje é mais gorda, peça dinheiro na sua prece.
- Sempre peço irmã, mas as coisas estão difíceis para todos.
- Não hoje pastor.
Naquela noite, carros caros pararam na pequena e modesta igreja, alguns chegaram doando dinheiro antes do culto e todos vinham de locais ermos, Clementina ali sentada observava sorrindo o pastor recebendo o “bendito” dinheiro.
No final da cerimônia, o pastor comemorava os R$ 15.000,00 que havia recebido em doações.
- Estamos salvos, nossa obra de Deus está salva – disse ele à esposa.
- Sim estamos querido e acho que a força da fé da irmã Clementina nos trouxe isso.
- Sim, trouxe sim, obrigado Clementina.
- Que é isso nem fiz nada, mas agora amanhã devemos estar preparados pois teremos muita gente aqui.
E assim o foi, casa cheia todos os dias, inexplicavelmente doavam dinheiro e mais dinheiro, pessoas desesperadas com causas “justas” pediam preces e benção, causas como as que Clementina sempre defendeu, promoções pessoais às custas de derrubar outras pessoas, eliminação de pessoas indesejáveis, riqueza, casa nova, carro novo e assim as coisas iam progredindo e cada vez mais e mais a igreja do modesto Sidney.
Clementina a cada desejo de “fé” realizado ganhava mais poder, um desejo feito e uma maldição era lançada a vida da pessoa, aos poucos os iludidos servos, serviam aos propósitos nefastos.
Um dia ela disse ao pastor:
- Está satisfeito pastor?
- Sim e muito Deus nos reconhece como seus eleitos, estamos com 7 igrejas, 15 pastores e isso parece ser só o começo.
- E é mesmo, você é muito bonito Sid.
- O que é isso... sou nada...
- É sim é um homem bonito, inteligente, sua esposa tem sorte de ter um homem assim tão viril... ela deve estar satisfeitíssima com você.
- Para com isso irmã, coisas assim não devemos falar
- Porque não? Você é homem adulto e eu também não falo nada que não saibamos fazer – disse isso exibindo o decote – aliás sei fazer coisas que você nunca fez.
- Mulher para com isso – mas mal ele disse isso e Clementina já lhe enlaçava em seus braços enfiando a língua em sua boca e abrindo a braguilha de sua calça.
O pastor havia caído na derradeira armadilha do mal. Terminando o ato em meio à igreja vazia a esposa entra e vê os dois ali nus atrás do púlpito.
- Sua vadia, eu sempre soube que era isso, vão pro inferno vocês, seus imundos.
- Calma querida espere, disse Sidney abotoando as calças.
- Você estava transando com a nossa tesoureira, eu sempre te achei bom e ela uma amiga sincera.
- Calma Pâmela, foi necessário.
- Como necessário sua puta maldita.
- Sim foi necessário.
Em seguida as portas se fecharam e os dois notaram um cheiro que não haviam percebido antes na igreja, porém que estava ali à muito tempo:
- Esse cheiro é gasolina?
- Sim é sim, meu pastor querido, hahaha
Clementina agora tinha os olhos como duas gemas de sangue estateladas em sua face e as laterais de suas testa se pronunciavam como chifres, aterrorizados os dois gritavam frenéticos vendo o fim que os aguardava, Clementina riu guturalmente e cuspiu uma bola de fogo no chão ateando fogo à pequena igreja que foi consumida junto com os dois donos da igreja...
Ela rindo, os dois gritando e sendo consumidos vivos pelas chamas, até que o fogo os calou o teto veio abaixo e não houve esforço dos bombeiros que tivesse algum resultado o prédio queimou até o final.
Horas depois vasculhando escombros um dos bombeiros grita:
- Meu Deus corram aqui!
Ele levantava um armário de madeira que não havia queimado e ali estava uma mulher desacordada e toda preta de fuligem. Um dos fiéis que chorava por ali gritou:
- É a irmã Clementina! Ela está viva! É um milagre!
E todos que ali estavam se puseram de joelhos diante dela...
LordBrainron