O consultório
Durante quinze dias tive o mesmo sonho, um sonho pertubador.
Sonhava estar em sala de espera de uma espécie de consultório juntamente com outras pessoas.
A sala era toda branca, e tinha um cheiro suave de flores. Havia luzes embutidas no teto, de modo que eu não sabia exatamente se era durante o dia ou noite, pois as luzes permanciam sempre acesas e o ar condicionado ligado.
As pessoas não conversavam entre si, o silêncio era total.
Não havia janelas e também não consegui ver a porta de entrada, apenas uma porta ampla que se entreabria apenas quando um dos paciente era chamado, mesmo assim não permitindo que se pudesse ver o que havia na sala onde as pessoas entravam.
Em canto da sala havia uma pequena mesa onde uma moça permanecia sentada, sempre de cabeça baixa e com um capuz.
Ela chamava o nome do nome do paciente que deveria entrar sem ao menos levantar a cabeça.
Sua voz era doce, suave, quase sensual.
Algo me assustava, as pessoas entravam mas não saiam. Outro nome era chamado, a pessoa então entrava, mas nunca ninguém saia, iamginei que houvesse outra porta de saída pelo outro lado, mas mesmo com essa hipótese, ainda estava assutado.
E todos os dias de meus sonhos, quando chegava a minha vez de entrar na sala do suposto atendimento, a secretária anucniava que não haveria mais atendimento que as pessoas que não conseguiram entrar naquele dia deveriam voltar outro dia.
Então ela se levantava, de cabeça baixa, sem tirar o capuz e entrava pela porta que se fechava após isso.
As pessoas que ali ficavam iam emborora sem questionar nada.
Quinze dias nessa angústia, nesse pesadelo.
Me lembro que sempre eu acordava angustiado, ofegante, decepcionado e ao mesmo tempo aliviado.
Mas ainda assim eu precisava saber o que acontecia depois que a pessoa entrava pela porta.
Eu precisava muito saber.
No último sonho que tive, antes que a secretária avisasse que seria o último atendimento, me levantei e fui até ela. A distância para chegar até sua mesa parecia infinita.
Tive a impressão de demorar horas. Mas afinal cheguei.
E perguntei como eu deveria fazer para ser atendido.
De repente, tudo na sala sofreu uma assustadora transformação.
As pessoas que ali estavam desapareceram. O branco das paredes se tornou em cinza escuro.
O ar ficou pesado. O cheiro mudou, passando para um cheiro de hospital de morte, de sangue.
Quando a secretária levantou a cabeça e me olhou diretamente, quase caí de costas ao ver tão horrenda criatura.
Na verdade tinha o rosto masculino e era muito branco, quase albino, em suas frontes vi calombos parecidos com chifres, porém curtos e arredondados.
Seus olhos eram grande e vermelhos. Sua blusa aberta deixava á mostra seios de tamanho médio.
Sua boca era bem pequena e quando começou a falar comigo, sua voz em nada se parecia com a voz doce de antes.
Era uma voz grossa e rouca.
Ela ou ele me disse depois de uma risada esganiçada:
-Você tem certeza disso? Quer mesmo saber o que acontece ali dentro?
-Acha que está preparado?
Fiquei ali parado, minha voz não saia. Apenas olhando para aquele ser bizarro.
Ouvi as mesmas perguntas seguidas vezes. Muitas vezes.
Uma névoa tomou conta da sala e junto um cheiro forte de enxofre tomou conta do ar.
Não consigo relatar em palavras o medo que senti nesse momento.
Segurei firme o crucifixo que trazia pendurado no peito. A névoa foi sumindo juntamente com o cheiro ruim do ar.
As paredes foram ficando brancas novamente. A criatura foi voltando á sua posição anterior, abaixando a cabeça e me perguntou novamente, porém dessa vez com a voz suave:
- Então? Você tem certeza que quer mesmo saber? Quer mesmo entrar?
Não havia mais ninguém na sala e agora eu vi uma porta de saída.
Saí numa corrida sem olhar para trás.
Quando saí pela porta me achei em uma rua desconhecida, escura, aparentemente em uma época bem anterior à que nos encontramos hoje.
Acordei desesperado e quase aos gritos.
Era madrugada. Não dormi mais, fui até a janela de meu quarto, olhei para a rua e tudo estava normal.
Mas a sensação que senti enquanto estava sonhando ainda me parece bem real.
Desde aquela madrugada estou circulando pela cidade. Tenho medo de tudo e de todos.
Mas principalmente tenho medo de dormir e de sonhar.
Tenho medo de a secretária me chame para entrar na sala.
Meu último sonho ou melhor, pesadelo foi a cinco dias.
Meu corpo já não está mais se aguentando.
Sei se eu dormir não acordarei mais.
Sei disso.