Encontro Marcado
Era uma pessoa extremamente metódica e fizera tudo conforme as instruções aprendidas e cuidadosamente anotadas em seu caderninho de notas. Seu caderninho era seu diário e agenda, carregava-o sempre consigo como se fosse um amuleto. Fazia tudo seguindo listas e receitas, adorava a ideia de algoritmo e se sentia perdido sem um passo-a-passo para lhe guiar. Espontaneidade nunca foi o seu forte, então anotava tudo o que deveria ser feito em seu caderninho. E nas datas e nos tempos certos, fez tudo com perfeição conforme havia anotado.
12.03.67 - Preparativos. Comprar um traje de sacerdote na cor negra, cálice, vinho, velas pretas, espada medieval.
15.03.67 - Lua cheia. Fazer as reverências recitando em voz alta os cânticos. Ritual do sangue. Aguardar cinco luas cheias.
05.06.67 - Recitação dos cânticos e ritual da adoração até a meia-noite.
06.06.67 (meia-noite) - Reverências. Ritual da invocação.
Durante o ritual da invocação ele viu aquela figura surgir em seu quarto como se já estivesse lá há horas observando tudo. Ficou apavorado, seu corpo começou a tremer e pensou que iria vomitar. O cheiro era muito forte. Mas aquela aparição tinha uma beleza inebriante trazendo traços femininos e masculinos não sendo possível atribuir-lhe um sexo. A figura caminhou vagarosamente em sua direção, pegou a espada, tocou com a lâmina o topo de sua cabeça e a lhe entregou.
Apertando os punhos com força, agora ele tinha a espada em suas mãos. Fechou os olhos e sentiu uma enorme força invadir seu ser como nunca antes havia sentido. O medo e o nervosismo desapareceram dando lugar a coragem e uma profunda e serena paz de espírito. Abriu os olhos e percebeu que estava só. Abriu os olhos e enxergava, agora conseguia verdadeiramente ver. O que via com os olhos da carne nada era comparado ao que via com os olhos da mente. Agora ele sabia. Finalmente enxergava. Abriu os olhos e via.
Ainda com a manta negra, colocou a espada no altar e apagou as velas. Olhou pela janela, vislumbrou a cidade adormecida e sentiu-se senhor em seu próprio domínio. Foi então até a sua escrivaninha, procurou seu caderninho de notas e anotou: dali a sete anos, o encontro estava marcado.
Maio de 2011
Fonte da imagem
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Este texto faz parte do exercício criativo "Agenda, Pra Quê?"
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/agendapraque.htm
Era uma pessoa extremamente metódica e fizera tudo conforme as instruções aprendidas e cuidadosamente anotadas em seu caderninho de notas. Seu caderninho era seu diário e agenda, carregava-o sempre consigo como se fosse um amuleto. Fazia tudo seguindo listas e receitas, adorava a ideia de algoritmo e se sentia perdido sem um passo-a-passo para lhe guiar. Espontaneidade nunca foi o seu forte, então anotava tudo o que deveria ser feito em seu caderninho. E nas datas e nos tempos certos, fez tudo com perfeição conforme havia anotado.
12.03.67 - Preparativos. Comprar um traje de sacerdote na cor negra, cálice, vinho, velas pretas, espada medieval.
15.03.67 - Lua cheia. Fazer as reverências recitando em voz alta os cânticos. Ritual do sangue. Aguardar cinco luas cheias.
05.06.67 - Recitação dos cânticos e ritual da adoração até a meia-noite.
06.06.67 (meia-noite) - Reverências. Ritual da invocação.
Durante o ritual da invocação ele viu aquela figura surgir em seu quarto como se já estivesse lá há horas observando tudo. Ficou apavorado, seu corpo começou a tremer e pensou que iria vomitar. O cheiro era muito forte. Mas aquela aparição tinha uma beleza inebriante trazendo traços femininos e masculinos não sendo possível atribuir-lhe um sexo. A figura caminhou vagarosamente em sua direção, pegou a espada, tocou com a lâmina o topo de sua cabeça e a lhe entregou.
Apertando os punhos com força, agora ele tinha a espada em suas mãos. Fechou os olhos e sentiu uma enorme força invadir seu ser como nunca antes havia sentido. O medo e o nervosismo desapareceram dando lugar a coragem e uma profunda e serena paz de espírito. Abriu os olhos e percebeu que estava só. Abriu os olhos e enxergava, agora conseguia verdadeiramente ver. O que via com os olhos da carne nada era comparado ao que via com os olhos da mente. Agora ele sabia. Finalmente enxergava. Abriu os olhos e via.
Ainda com a manta negra, colocou a espada no altar e apagou as velas. Olhou pela janela, vislumbrou a cidade adormecida e sentiu-se senhor em seu próprio domínio. Foi então até a sua escrivaninha, procurou seu caderninho de notas e anotou: dali a sete anos, o encontro estava marcado.
Maio de 2011
Fonte da imagem
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Este texto faz parte do exercício criativo "Agenda, Pra Quê?"
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