O Choro do Bebê

Ariane estava jogada em cima de sua cama fatigada. Seu bebê Uriel tomava todo seu tempo, não sabia o que era ter vida própria. Ele chorava o tempo todo e demorou 5 meses para ela acustumar-se ao choramingo e a esteria do seu filhinho. Pensava: "como uma criatura tão pequenininha pode fazer tamanho escândalo?". Mal se alimentava e se arrumava, seus dias giravam em torno do pequeno Uriel.

Ela estava na cama e ele no berço, começou a chorar aos berros. Olhou com tristeza em direção ao berço, era impossível dormir com um barulho estridente daqueles. Pegou o bebê e o balançou:

-Calma menininho, mamãe está aqui! está com fome? quer mamar? mamãe vai te dar leite. Ela colocou o seu seio dolorido e inchado na boca de Uriel. Ele sugava o leite com sofreguidão, até cuspir o líquido e chorar compulsivamente.

-Ó meu Deus, ele não quis o leite. O que ele quer? não consigo fazê-lo parar de chorar. Achei que estivesse com fome, bebê?

Ela chora junto com o seu filhinho.

Balança ele no colo e canta uma canção de ninar:

-"Boi, Boi, Boi da cara preta pega esse menino que tem medo de careta".

Uriel a olha mais assustado com os versos ridículos e como se protestasse contra a cantiga, abriu novamente o berreiro. Ela o olha exausta, e fala sozinha:

-Meu Deus! eu cansei. Há meses eu não durmo, eu não como direito, só tomo café para dar conta desse pequeno tirano. Eu me arrependo do dia que dei a luz a esse bebê. Tenho saudades da minha vida de solteira!

O bebê chora mais alto, ela o amassa contra o peito e o joga na cama.

-Cala a sua maldita boca pirralho!

Uriel berra com o grito. Ela vai até o espelho e se choca ao ver como está feia, maltrapilha, cadavérica e acabada. É tomada por uma possessão desconhecida. Caminha até a cama onde está Uriel; pequenininho, careca e com um imenso par de olhos azuis, ele chora e se cortorce para chamar a atenção da mãe.

-Menino mau! vamos tomar um banho para acalmar um pouquinho..

Ela tira o macacãozinho dele e o deixa nú. Liga o chuveiro com ele no colo chorando. Enche a banheira, a água está quentinha. Coloca-o dentro da banheirinha com seus briquedinhos, ele não dá treguá e molha o pijama gasto de Ariane, ela está em lágrimas. Os dois choram alto. Ela saí desesperada do banheiro e caí molhada na cama, ouve os berros de Uriel e volta. Abaixa-se até ele e empurra sua cabecinha delicada na água da pequena banheira, ele fica uns segundos submerso e ela o traz de volta, ele cospe água e tossi, ela repete o ato criminoso, o bebê se debate com suas pequenas mãozinhas e seu pézinhos, ela não o deixa, até Uriel parar de contorce-se na água, seu corpinho jaz imóvel na banheira. Ela o solta e pega seu filhinho morto e enlouquecida pensa: " Só assim para você parar de chorar".

Ela veste o bebê com uma roupinha branca e as lágrimas escorrem e caem em cima dele.

-Por que você fez a mamãe fazer isso? eu te amava Uriel..

-Você não amava sua mamãe!!

Termina de ajeitar a roupinha no corpinho gelado, enrola-o em uma manta e pega-o no colo. Caminha em direção a porta, desce as escadas do apartamento, vai até o carro e entra no automóvel. Tira-o da garagem e saí em direção a estrada. Dirigindo a mais de quatro horas chega ao litoral. Estaciona o carro na orla e caminha na areia até uma parte deserta, carrega o bebê morto em seu colo , sobe as pedras até ficar em cima de um penhasco. Amassa ele contra seu peito e chora.

-Por que você fez eu fazer isso Uriel? lamenta-se.

Ela atira o bebê enrolado na mantinha lá de cima, olha o corpo do pequeno serzinho sendo tragado pelas ondas.

-Adeus Uriel, seja um bom menino.

Desce atordoada pelas pedras, caminha na areia e volta para o carro. Pará em frente ao um bar e pede:

- Por favor eu quero beber algo forte

O atendente a olha assustado e diz:

-Sim moça, vou preparar um drinke.

Ele coloca o copo no balcão e a serve.

Ela toma o preparado alcoólico muito forte, pede mais um e mais um, até ficar bêbada. Consegue sair do bar e chama um taxí. Hospeda-se em uma Pousada simples. Entra no quarto e joga-se na cama e adormece em um sono profundo sem sonhos.

Anna Azevedo
Enviado por Anna Azevedo em 04/05/2011
Reeditado em 05/05/2011
Código do texto: T2948884
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