Compartilhar é civilizado (miniconto)
Era uma vila muito atrasada, quase selvagem. A equipe de reportagem já esperava se deparar com indivíduos daquele tipo: esqueléticos, seminus, introvertidos. Só não esperava encontrar aquele tipo especial de hospitalidade.
Os locais foram se achegando, curiosos, meio tímidos, algo temerosos.
Um rapaz, britânico, ofereceu um sanduíche de peito de peru a uma criancinha pelada, mostrando-lhe como devia comê-lo. A menininha comeu o presente sofregamente, olhos esbugalhados de satisfação, e saiu correndo.
Mais tarde ela voltou, acompanhada daquela que devia ser a sua mãe. Sorridente, a mulher, que não devia ter mais do que vinte anos, estendeu ao rapaz estrangeiro um embrulhinho de folhas frescas. O britânico, lisonjeado, tomou da tosca embalagem e ao abri-la, jogou ao chão a miserável oferenda, dando um salto para trás.
A criança, esperançosa, catou a língua humana em franca decomposição e deu uma dentadinha, mostrando ao rapaz que ele devia comê-la.