O Imortal (Cap. III)

Balthazar e Bill Thunder chegaram a um casebre de beira de estrada.

O carro foi estacionado de lado. Quando Bill desligou o rádio que tocava “Children Of The Grave” do Black Sabbath, um protesto foi ouvido:

- Ei, eu estava gostando da música! – reclamou Balthazar.

Bill sorriu. Com um gesto de mão chamou o amigo.

Os dois homens caminharam, calmamente até a porta do casebre.

Quando Bill Thunder ia bater na porta, antes que seu punho fechado encostasse-se à madeira, a porta abriu-se com um ruído fantasmagórico de dobradiças enferrujadas. Uma velha senhora curvada pelo tempo apareceu na porta. Ela trajava um velho vestido preto, sobre sua cabeça uma mantilha de renda azul marinho, por entre seus seios um enorme terço de madeira pendia. A velha levantou o rosto e encarou Balthazar, depois olhou para Bill, uma expressão de felicidade brotou do seu rosto, como se visse alguém conhecido no meio de uma multidão.

- Bill Thunder? Quem é seu amigo? – perguntou a velha.

-Uma feiticeira? – perguntou Balthazar - Não acredito, eu simplesmente, não acredito que...

Bill sorriu e levantou a mão, para que o amigo se calasse.

- Você não mudou nadinha, meu caro Balthazar. – disse – Ainda fala muita bobagem.

Balthazar olhou para o amigo assustado.

- Você tem que ver muito além do que seus olhos permitem. – explicou Bill.

Balthazar deu de ombros. Não tinha entendido muito bem o que o amigo tentara explicar, mas também não se importava, também não fazia a mínima idéia de como aquela velha bruxa ia ajudar.

A velha disse:

- Se vocês terminaram sua briguinha, por favor, entrem logo.

Os dois homens se entreolharam, Balthazar balançou a cabeça negativamente, em clara desaprovação, porém, Bill Thunder sorriu e entrou no casebre. Balthazar o seguiu.

Eles encontraram uma casa velha, um pouco empoeirada, com uma pequena lareira. Na sala havia um sofá desgastado pelo tempo, que contrastava com um tapete persa muito bem zelado. O resto da casa não podia ser visto, pois apenas um pequeno corredor escuro era a saída.

- Onde ela está? – perguntou Bill.

A velha apontou para o sofá.

- Vou chamá-la. – disse a velha.

Os homens sentaram-se. Balthazar ficou olhando o ambiente da casa, enquanto Bill, de cabeça baixa, permaneceu em silencio, os dois homens não trocaram uma palavra.

Pouco depois, passos foram ouvidos no corredor.

Uma jovem mulher apareceu. Ela tinha os cabelos loiros compridos, olhos verdes e suas feições tinham traços finos, angelicais. Seu corpo era magro, porém musculoso. Não devia ter mais que vinte anos.

Bill Thunder levantou a vista, uma expressão de surpresa ficou evidente em seu rosto.

- Anagrom. – falou – Você... Você não mudou nada.

A mulher sorriu.

- William. – disse a mulher – você disse que nunca mais apareceria.

Bill levantou-se.

- Mas, lembro- me que você ficou me devendo um favor. – disse.

Anagrom sorriu, novamente.

- É verdade. – ela disse.

A mulher caminhou sensualmente até o sofá. Deu um abraço apertado em Bill Thunder

- Se eu disser que não senti saudades, estaria mentindo. – sussurrou no ouvido dele.

Balthazar pigarreou, tirando Bill de sua concentração.

- Anagrom, esse é Balthazar. – disse Bill. – outro “velho amigo” do tempo do Exército.

Anagrom olhou para Balthazar por um instante. Balthazar esticou a mão para cumprimentá-la.

- Muito prazer. – disse a mulher, mas não fez a menor intenção de retribuir o cumprimento.

Anagrom chamou Bill e Balthazar para um quarto ao lado. Lá, tinha uma mesa com três cadeiras, um pano roxo por sobre a mesa com uma enorme cruz e um zodíaco desenhado no teto. Por sobre a mesa havia duas velas brancas e uma caixa dourada, onde havia um broxe fino feito de ouro, com diamantes incrustados e uma aliança de prata.

Bill falou para Balthazar.

- O que você ver agora, fica aqui! – ordenou - Entendeu?

Balthazar concordou com a cabeça.

- Sentem-se e relaxem. – disse Anagrom – O show já vai começar.

Os dois homens sentaram-se.

- Fique calmo, no começo vai parecer estranho. – disse Bill – eu quase saio correndo na primeira vez que a vi fazendo isso.

Anagrom acendeu as velas. Colocou o anel no dedo e prendeu o broxe no cabelo. Levantou os braços e disse algumas palavras em latim.

Balthazar cutucou Bill.

- Ei, como ela sabe o que viemos fazer aqui? – perguntou – Você ligou para ela antes?

Bill olhou para Balthazar e disse:

- Ela sabe mais sobre nós do que nós mesmos.

Balthazar levantou as sobrancelhas.

- Balthazar, ela não é uma mera feiticeira como você pensa. Ela é muito mais que isso, mas ainda não é tempo de revelar a verdade para você.

-Silêncio! – disse Anagrom com uma voz de trovão.

Uma luz azulada encheu o quarto. Cegando momentaneamente os homens.

Quando Balthazar abriu os olhos, ele finamente entendeu, mas não podia acreditar no que via.

- Mas, como? – perguntou assustado - É impossível.

João Murillo
Enviado por João Murillo em 27/04/2011
Código do texto: T2935369
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