Cuidado com nossas crianças

Minha mãe morava em um pacato condomínio de classe média. Um ótimo lugar.

Um belo domingo fui visitá-la e me deparei com uma placa no meio do jardim com os seguintes dizeres: Cuidado com nossas crianças.

Confesso que achei estranho a colocação do texto, mas entendi perfeitamente que deviámos tomar cuidado com as crianças que ficavam circulando por ali muitas vezes sem prestar a devida atenção.

Achei até muito válido essa orientação, uma vez que por estarmos dentro de um condomínio, muitas vezes não prestamos muita atenção ao movimento.

Certa vez fui jantar na casa de minha mãe e acabei me estendendo nas conversas e quando dei por mim já passava da meia noite e o papo estava bem animado ainda.

Mas me levantei e disse que precisava mesmo ir pra casa, pois no outro dia eu tinha muito trabalho pela frente.

Ela insistiu para eu dormisse lá, pois ainda mantinha meu quarto arrumado como sempre.

O convite era tentador mas não pude aceitar.

Ela se mostrou muito preocupada, mas achei que fosse pelo horário.

Me despedi e sai.

Entrei no carro e por um momento penser ter visto algumas crianças andando pela rua.

Me assustei e quando olhei novamente não vi mais nada. Apenas a rua vazia.

O céu parecia muito mais escuro do que os outros dias. Não havia lua.

Dirigi alguns metros até sair do alcance da visão de minha mãe que ficou no portão.

Logo após uma curva, para meu espanto, três crianças, duas meninas e um menino estava bem no meio da rua, paradas ali.

Pareciam hipnotizadas. Quase que zumbis com roupas antigas, cabelos espatifados e olhos avermelhados e me olhar.

Senti medo. Tive de parar o carro pois não saiam da rua.

Quando parei senti algo batendo no porta malas, olhei e vi mais crianças lá.

Apavorado, quando me viro novamente para a frente mais crianças estão sob o capô do carro, paradas em pé.

E outras me olhavam pelo vidro fechado. Agora eram muitas. O desespero estava tomando conta de mim.

Dou um pulo ao ouvir meu celular tocando. Minha mãe perguntando se está tudo bem.

Eu fiquei sem voz, não sabia o que dizer.

Ela me disse :

-Cuidado com nossas crianças. Cuidado.

- Feche os olhos e faça uma oração. Faça isso.

Nesse momento eu sabia que ela sabia o que estava acontecendo.

Foi muito difícil fechar os olhos, mas eu precisava fazer isso.

Com um pavor me dominando e vendo o número de crianças aumentando fechei os olhos e orei.

Nesse momento senti que algo horrível acontecia fora do carro. Ouvi ventos, uivos, gritos e senti um calor intenso.

Continuei orando. E só parei de orar quando senti que tudo havia voltado ao normal.

Mas ainda assim tive medo de abrir os olhos e ainda vê-los todos ali.

Senti forte odor de flores e uma paz. Abri os olhos e tudo estava normal.

A lua no céu. Estrelas e as ruas desertas.

Liguei o carro, fiz o contorno e peguei a rua que dava saída do concomínio.

Passei em frente à casa de minha mãe. Ela não estava mais no portão.

Mas via a luz de seu quarto se apagar me dando boa noite.

Continuei indo ver minha mãe, mas nunca mais fui embora após a meia noite.

E agora entendi o porque daquela placa.

Até porque só depois percebi que naquele condomínio não havia nenhuma criança.

Pelo menos durante o período diurno.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 25/04/2011
Código do texto: T2929285
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.