Ligação de Sangue
Minha avó sempre me dizia:
“Não brinque com o que você não conhece”
“Nunca ande por um cemitério sozinho”
“Vá à igreja e reze”
“Nunca xingue quem já se foi”
“DER VALOR A SUA FAMILIA”
Bom, minha avó me dava tantos conselhos que nunca obedecia. Minha avó era um tipo diferente, as crianças do bairro tinham medo dela, mas isso ficou no passado, pois ela morreu de câncer, 2 anos antes da historia que eu vou contar. Minha mãe era filha única e resolveu que deveríamos nos mudar para casa de minha avó, minha família era pequena eu, minha mãe e a Carla, minha irmã, meu pai ninguém sabia onde estava, ele agora tinha uma nova mulher, e os dois viviam viajando.
A casa da minha avó era grande, bastante espaçosa, Um jardim, pequeno, rodeado por flores mortas, e as ervas daninhas se multiplicavam feito coelhos pelo jardim. Tinha medo daquela casa velha, feia e estranha, porém, nunca confessava. No dia da mudança fiquei com o quarto da minha avó. Era grande e espaçoso, com uma grande janela com vista para o jardim morto.
-Pó, Mãe eu não quero esse quarto - Reclamei, indo em direção da minha mãe,e esperando que ela me desse uma solução.
-Rogério, Eu já disse que você vai ficar nesse quarto e ponto final - Ela me respondeu, virando-me as costas e partindo para sala, com uma caixa cheia de tralhas nos braços moreno.
-MAS QUE SACO - Reclamei alto. Estava de saco cheio. A Carla ficava com o quarto que ela queria e eu não - QUE MERDA, Tô saindo!
-PRA ONDE VOCÊ ESTA INDO - Minha mãe perguntou, o eco pela casa ainda vazia, se repetindo na minha cabeça.
-Não sei, vou andar- Respondi de má vontade. Realmente eu não sabia pra onde estava indo só queria sair dali.
Mal sair de casa eu me sentei na calçada, Pombas. Tinha 16 anos e minha mãe me tratava feito um bebê, realmente não agüentava aquilo, havia largado tudo que eu gostava, eu agora morava em uma cidade grande, havia saído de uma pequena cidade do interior, larguei meus amigos e minha namorada, pra viver naquela imensa cidade. Eu resolvi que não iria ficar ali parado e resolvi andar, estava zangado não foi minha opção ir morar ali, mas aconteceu.
Eu me levantei e olhei para minha nova casa e vi a minha mãe na janela da sala me observando, ela deu um leve aceno pra mim, mas não retribui fechei a cara e comecei a andar, eu não conhecia nada daquela cidade, só havia passado férias ali quando eu tinha 10 anos e não me lembrava de nada, continuei andando e olhando para os meus tênis, eu estava precisando de um par novo. Foi quando ouvir um barulho de sirene da policia levantei os olhos do meu velho tênis para um carro em alta velocidade, e a ultima coisa que vi foi um homem de blusa preta sorrindo e apontando uma arma para mim.
Vinte anos se passaram desde aquele episodio terrível, eu me lembro como se fosse hoje minha mãe indo de encontro ao meu corpo, eu não sei como ela sabia que eu havia sido atingido, mas ela já sabia. Me pegou em seu colo e chorava, minha irmã veio ao seu alcance, ela também chorava e gritava. Os bandidos fugiram, a policia parou para me socorrer, minha morte foi triste, nunca esperei morrer com uma bala na cabeça aos 16 anos, hoje passado 20 anos, minha Irmã mora na casa com os dois filhos e o marido, eu vago pela casa vendo minha família, minha mãe já esta bastante velha, e eu a ouço falando que logo, logo me encontrará e eu espero isso, às vezes tenho tantas saudades do contato físico que tento abraçar minha mãe, mas não consigo e nem posso chorar, mas não estou sozinho minha avó me faz companhia enquanto espero minha mãe.