Pássaros
Depois de rodar por muitos quilômetros pela estrada sem cruzar com nenhuma construção ou pessoa, admiti para mim mesmo que estava perdido.
O sol estava insuportavelmene quente.
Do asfalto via-se levantar um bafo quente e trêmulo.
O céu estava azul sem uma nuvem sequer. Eu suava em bicas.
Mas ainda estava calmo.
Dirigi por mais quarenta e cinco minutos até avistar ao longe um posto de gasolina enfiado no meio daquele deserto.
Tive medo de ser uma miragem.
Chegando até ele, desci do carro. A impressão que dava era de que há muito tempo ninguém passava por ali.
Entre na pequena e mal cuidada loja de conveniência.
Um senhor velho e empoeirado estava sentado imóvel atrás da caixa registradora ouvindo cowntry num velho rádio.
Me cumprimentou sem mesmo se dar ao trabalho de olhar para mim.
Perguntei como fazia para chegar até a cidade para onde eu me dirigia.
Ele respondeu com um meio sorriso quase assustador; me dizendo que eu estava na estrada certa, mas que ainda faltava muitos quilômetros para chegar lá.
Agradeci, peguei algumas coisas, voltei ao caixa, paguei e saí.
Quando eu estava na porta, o velho me chamou. Me virei para ver o que ele queria.
Ele continuava lá, imóvel, parecendo um animal empalhado e me disse:
- Você vai encontrar na beira da entrada há alguns quilômetros daqui, um vilarejo.
Não pare lá, siga em frente. E tome cuidado com pássaros.
Agradeci pelo conselho, caminhei até o carro, entrei e segui a viagem.
Fiquei pensando no que o velho do posto me disse sobre tomar cuidado com pássaros.
Não via nenhum pássaro há horas.
E porque eu não deveria parar no vilarejo?
Continue dirigindo sob o sol escaldante.
E como ele me disse, há alguns quilômetros adiante uma vilarejo foi aparecendo no horizonte.
Eram pequenas casas, alguns comércios e uma placa muito convidativa convidava de modo muito cocrtês:
Sejam bem vindos ao Vilarejo dos pássaros negros.
Ignorei totalmente o conselho do velho e entrei no vilarejo, estava com fome e sede.
Vi algumas pessoas bem sorridentes caminhando e me cumprimentaram de modo simpático.
Entrei em uma lanchonete, as pessoas me olahram com curiosidade.
Pedi um lanche e um refrigerante. E as pessoas agora me olhavam de um modo estranho.
Confesso que me senti meio sem jeito.
Não sorriam mais.
Pedi duas garrafas de água, paguei e saí.
Ao caminhar para a porta, percebi que todos me acompanhavam com os olhos.
Quando me vi fora da lanchonete avistei meu carro, mas aparentemente bem mais distante de onde eu o havia deixado.
O estacionamento parecia muito mais amplo. Segui caminhando e sendo observado por olhos curiosos.
Caminhei alguns passos e me senti estranho. Tudo ao redor parecia girar em mudar de posição. E quando olhei para cima notei alguns pássaros voando em círculos. Há uma altura considerável.
Senti uma fraqueza em todo meu corpo e minha visão foi ficando escura até o ponto de não ver mais nada.
Apenas ouvia muitas vozes. Mas não conseguia entender nada do que falavam.
Quando minha visão voltou ainda um pouco embassada, eu estava caído no chão quente.
Rodeado por pessoas me olhando cuirosas.
Ao olhar para cime vi os pássaros voando baixo e fazendo sons estridentes.
Eu queria gritar por ajuda, mas minha voz não saía. E nem me mexer eu conseguia.
Os pássaros se aproximando.
Eu ali imóvel, senti medo como nunca havia sentido antes.
De repente senti uma bicada em meu braço, outra na perna, e mais outras.
A dor era terrível. Não via mas sentia que a cada bicada, um pedaço de carne era arrancado, minha carne.
Podia ver os pássaros voando com algo vermelho em seus bicos, algo pingando.
Sentia o sangue escorrendo pelos meus braços, pernas e tórax.
Para meu desespero senti as bicadas agora em meu rosto.
Meus gritos abafados não saíam.
Fechei os olhos esperando pelo pior.
Uma bicada seca e certeira me furou o olho esquerdo. Quase perdi os sentidos.
Tudo parecia vermelho e negro.
O barulho dos pássaros eram alto demais. E as pessoas continuavam ali, só observando.
Ouço uma voz se aproximando. Reconheço a voz, é o velho do posto.
Ele enxota as aves. Coloca as mãos sobre minha cabeça e diz:
- Eu te avisei não foi. Porque vocês insistem em não aceitar conselhos???
Ele diz algumas palavras em uma língua estranha. Me sinto zonzo novamente e minha cabeça gira sem parar, sinto que vou vomitar.
As vozes vão sumindo. Vou voltando para a realidade.
Abro os olhos. Estou em pé parado na porta da loja do posto.
O velho senhor me olha fixamente nos olhos e me pergunta se estou bem.
Digo que sim e me viro para sair.
Ele me diz: Não se esqueça meus conselhos ok.
Afirmo com a cabeça que não esqecerei.
Entro no carro e sigo viagem.
Alguns quilômetros à frente, desponta um vilarejo, alguns pássaros voando.
Uma placa de boas vindas.
Não resisto e dou seta para a direita.
As pessoas me sorriem educadamente....
Estou com fome e sede....