O colar da noiva

Adriana ganhou um lindo colar de pérolas para usar no seu casamento, que estava próximo. Colar, no entanto, que não pretendia colocar no pescoço no grande dia. Não queria usar pérolas no seu casamento. Alguém havia dito que poderia dar azar. E ela acreditara. E assim, enfiara a caixa da joalheria no fundo de uma gaveta.

Durante dias, procurou feito uma louca pela joia perfeita, que adornaria seu pescocinho de cisne durante a cerimônia religiosa. Teria que ser um colar de beleza especial, marcante, que atrairia todos os olhares. Que mataria de inveja todas as suas amigas.

A hora do casamento chegou. Faltava muito pouco. Estava atrasada, como era de praxe. E estava, também, transtornada. Havia pedido para ficar sozinha em seu quarto, com a desculpa de que precisava desfrutar do momento.

Adriana não encontrou colar algum. Minutos depois de se encarar no espelho de corpo inteiro, vestida de noiva e pronta para sair rumo à igreja, onde todos a esperavam, ela entrou em desespero. Seu traje de casamento estava incompleto. Sem um colar, seria como se casar de pijama.

Teve que escolher. Eram as pérolas, dentro da caixa de veludo, ou nada.

Ela escolheu as pérolas. Tudo bem se houvesse algum azar depois, esse era o seu dia especial. O seu momento.

Ao fechar o círculo de pérolas ao redor da garganta, Adriana sentiu-se satisfeita com o que o espelho lhe mostrou. Estava pronta para casar. Sentia-se pronta para qualquer coisa, na verdade.

Mas, não para aquilo.

A noiva refletida no espelho começou a envelhecer. Sua pele corada e macia foi empalidecendo e tornando-se cada vez mais flácida, inconsistente, riscada por feias e grossas veias azuis. Seu cabelo vistoso, preso num coque elegante, tornou-se branco e ralo, o couro cabeludo sob ele era cor de cera, pontilhado de manchas amareladas.

Adriana gritou, horrorizada. Seus dentes eram hastes ósseas quebradas e apodrecidas despontando de gengivas escuras. Fios de saliva voaram da boca escancarada num interminável grito.

Ela bateu no próprio rosto, provocando hematomas sobre as bochechas ossudas. Ainda gritando, tentou arrancar aquela casca enrugada e frágil, procurando a juventude e a beleza de antes.

Trilhas de sangue cobriam o vestido branco. Depois de arrancar tufos de cabelo e tiras de pele das faces, Adriana cravou as unhas bem fundo nos próprios olhos, desabando agonizante sobre o tapete felpudo do quarto.

A caixa de veludo azul dentro da qual o colar viera, jazia aberta sobre a cama. Dentro dela havia um pequeno cartão com a seguinte mensagem, escrita numa caligrafia caprichada:

Para tornar esse dia memorável.

Ass: A Sua Melhor Amiga.

Andhromeda
Enviado por Andhromeda em 17/04/2011
Código do texto: T2914573
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