O VISITANTE
Nasce o sol todo poderoso,tão adorado por akhenaton e até mesmo pelos profetas de tebas,hoje não só deixou de ser um Deus como tornou-se uma espécie de castigo que queima o solo nordestino dia após dia, causando improduções,fome,sede,sofrimento e muita fé,....fé que um dia vá chover.
No nordeste chove pouco ,mais em cizal não chove nada,cizal é uma cidadezinha pequena ,castigada pela sua localização geográfica e administração pública e isso a torna uma cidade simples de pessoas simples,fervorosas,esperançosas e todos sem exceção católicos com direito a capelinha de nossa senhora no quintal.
Estavam no último mistério do terço que rezavam na casa de Dona Maria quando já se via o manto luminoso que o sol estendia por sobre a serra de pura caatinga e ia deslizar lentamente na face de nossa senhora,as rezadeiras achavam que era o espirito santo abençoando o terço,mas era apenas o sol se despedindo de mais um dia de secura e calor e isso queria dizer que em questão de meia hora a noite se faria presente,e em cidade de segurança e iluminação precária o melhor lugar pra se estar de noite é no aconchego de sua casa sob a luz da lamparina,batendo uma prosa e esperando o sono lhe chamar para a rede.
Todas as senhoras e seus maridos já haviam deixado a casa de Dona Maria, sobrou em frente a capelinha apenas as cadeiras de plástico e as xícaras de café que tinha ganhado da vizinha da direita no aniversário do ano passado, xícaras sujas que Dona Maria lavava com muito gosto,tudo que ela fazia era bem feito, já fez tira de roçado quando tinha saúde pra plantar, e suas pernas eram bem feitas,recebia até elogio do “véi chico” seu esposo há mais de 50 anos
_ Arriégua mar que tira de roçado bem prantada. Era como o “véi” elogiava a companheira.
Ela ficava toda especial,e até hoje ela fica quando escuta aquele arriégua, mais ao invés de tira de roçado, ela hoje faz bordado, cada um mais merecedor do que o outro,merecedor de um belo arriégua do “véi chico”.
Hoje em especial Dona Maria ia dormir mais cedo causando a cebecinha careca do “véi” uma dúvida que culminou numa pergunta.
_ E já rai drumi uma hora dessa?
_É que farta linha vermeia. Respondeu a velhinha com um tom de desconsolo
Dona Maria estava bordando o sagrado coração de jesus que nada mais é do que uma imagem de nosso senhor Jesus Cristo de peito aberto e o coração exposto todo iluminado, ela tinha bordado a parte da face quando chegou no coração a linha vermelho acabou,e esse era o motivo de Maria deitar-se mais cedo,mas antes ela iria botar o milho para os porcos enquanto o “véi” colocava leite para os gatos,foi quando ele sentiu falta de um dos gatos aquele que era completamente branco foi só levantar a vista e pronto lá estava o animal correndo no terreiro,o “véi” chico colocou suas últimas forças do dia par alcançar o gato que corria e brincava com um sapo pelo terreiro escuro,e com muito esforço ele agarrou o bichano e o bichano ao sapo, o “véi” tonto que estava tentou se situar e achar a porta da sala e na busca pela porta ele encontrou outra coisa,vira uma figura como se fosse uma pessoa quase com uma postura curvada que se movia lentamente lá no fim da estrada de barro,se não fosse visagem era com certeza um sujeito muito judiado de passo pesado,arrastado e os braços suspensos como se não pudesse mais levantá-los,mais o “véi” chico não quis esperar pra ver o que era, com o bichano debaixo dos braços correu pra dentro de casa,chamou a dona maria e os dois ficaram olhando pelas frestas da porta ,a figura a passos lentos quase que se arrastava na estrada escura, ela ameaçava entrar na mata que ficava mesmo enfrente a casa dos dois velhinhos só ameaçava, ela virou de frente pra casinha e ficou parada ,só observando com uma respiração tão pesada que dava-se para escutar de dentro da casa,o ''véi'' tava aliviado por não ser uma assombração mas também tava assustado por não saber quem é a pessoa que usava uma espécie de manto negro cobrindo todo o seu rosto e vários farrapos pendurados pelo seu corpo, o cheiro era muito forte e a brisa noturna colaborava pra aumentar o clima de tensão.
As pessoas mais católicas principalmente as mais velhas acreditam que jesus bate a porta das pessoas como se mendigo fosse pedindo algo,e foi pensando nisso que os dois velhinhos superaram o medo e resolveram abrir a porta para saber o que aquela pessoa queria.
_Boa noite o senhor tá querendo argo? Peguntou a velhinha.
A criatura nada falava, continuava escondido na escuridão
_ O sinhô tá perdido? Questionou o velhinho.
Não obteve resposta. Quando os dois já se preparavam para fechar a porta receosos e com medo daquela figura silenciosa e incapaz de responder a uma pegunta,foram interrompidos,por um gesto vindo da pessoa misteriosa,ela enfiou a mão dentro do saco que carregava nas costas e puxou um prato de alumínio sujo e enferrujado,esticou na direção dos velhinhos assustados e aliviados ao mesmo tempo.
_ Eu tenho um feijãozinho serve? Sujeriu Dona Maria.
Nenhum movimento de cabeça recebeu como resposta,mas mesmo assim pegou o prato e encheu com feijão e um pouco de farinha de mandioca, e serviu ao visitante,que sem exitar avançou como um porco faminto em cima do prato e comeu sem um pingo de educação ou sutileza e matando possíveis dez dias de fome.
_ O senhor tá sartisfeito? Peguntou o “véi”.
O visitante olhou para o velho com a face petrificada sem demostrar nenhuma emoção ou reação apenas respirava e não emitia nenhuma palavra,pegou o prato jogou dentro do saco,colocou o saco no chão e fez uma espécie de travesseiro onde descansava sua cabeça e seu corpo ali mesmo no meio da estrada.
_ Chico vem cá,vem cá ...chico vai qué Jesus home,vai qué Jesus ,arrente num pode dexá ele drumi ali no mei do mundo não.
_E onde nós vai colocar ele muié? A nossa casinha mar cabe nós
_Lá perto da capela,arrente dá as cortina pra se enrolá,e só até amanhã mermo. O “véi chico” concordou,os velhinhos se aproximaram da pessoa tiraram o manto da cabeça e descobriram que se tratava de um homem que dormia como se fosse uma pedra,tentaram de todo jeito acorda-lo e não conseguiam,então arrastaram ele até a capelinha ,arrancaram as cortinas que cobriam nossa senhora e cobriram o homem,sentindo-se mais aliviados então foram dormir. A noite silenciosa tornava o sono mais pesado e saboroso,mas nada que o sol sobre as telhas não interrompesse,já era manhã, o “véi” levantou ,lavou o rosto,abriu a porta e foi ver como estava o hospede mas nada encontrou,nem hospede nem saco,nem cortinas,nada e não tinha como sair do quintal se não fosse atravessando a casa que estava completamente trancada e isso fez arrepiar até o ultimo pelo da cabeça do “véi chico”,resolveu checar mais de perto e viu uma coisa que lhe assustara mais ainda,viu a imagem de nossa senhora com a cabeça no chão,os anjinhos todos degolados e sem asas e as outras imagens em cacos espelhadas pelo chão cobertos de terra ,com as pernas tremendo o “véi'' correu desesperado para avisar a esposa,chegou perto da rede e percebeu algo esquisito o arco que ela tinha parado de bordar por falta da linha vermelha,estava perfeitamente terminado,com todos os tons de vermelho que se podia imaginar,imguinorou tal fato e foi acordar sua companheira que se encontrava coberta dos pés a cabeça como não costumava fazer,o “véi chico” quando puxou o lençol teve sua alma perfurada,e seu coraçãozinho esmigalhado pelo impacto do que via diante de seus olhos,não aguentou, caiu de joelhos em prantos, seu coração não queria mais trabalhar,parou repentinamente como se tivesse vontade própria levando ao chão o pobre velho, agora falecido fazia companhia ao corpo de Dona Maria que estava com a cabeça degolada o sangue escorrendo pela rede pintando um clima de morte fresca, descia pelo seu braço e agora tornava-se muito mais rubro com os raios do sol que se intensificavam,era o sinal que um novo dia recomeçaria para aquela pequena cidade do interior do Ceará,cidade de gente simples que naquele dia aprenderia uma lição.
Além de Jesus o Demônio também faz visitas.