A televisão
Muitas vezes assistimos filmes de terror ou lemos livros e sentimos medo.
Mas nada é comparado ao que você sente quando realmente vive a situação.
Certa dia, comum em minha vida, nada de novo aconteceu, pelo menos até aquela hora da madrugada.
Fiquei assistindo aos programas na TV, mudando de canal, tentando achar algo que prestasse, o que é raro hoje em dia na TV aberta.
Por fim acabei encontrando um canal exibindo um filme bem antigo e acabei por assisti-lo por falta de coisa melhor.
Lá pelas duas da madrugada o filme terminou e junto com ele minha disposição para continuar ali vendo a TV.
Meio sonolento, procurei pelo controle que jazia jogado em algum canto do sofá, ou em outro canto da sala.
Ao encontrá-lo aperto o botão POWER, o aparelho se apaga todo, juntamente com meus olhos cansados.
Me arrepio inteiro ao ouvir novamente sons vindo do aparelho desligado.
Penso ter apoiado a mão sobre o controle e talvez ligado a TV novamente.
Pego o controle e novamente clico o POWER mas nada acontece.
Fico ali paralisado de medo, sim, isso é fora da normalidade.
Tento me enganar achando que é um defeito no controle.
Clico várias vezes, inutilmente.
A televisão continua lá, ligada, despejando imagens e sons.
Ainda tento controlar meu medo.
Me levanto, trêmulo.
Caminho até a tomada e a arranco num puxão, na esperança de que o silêncio tome conta e a TV se desligue.
Puxo o fio. Silêncio.
Apenas 8 ou 10 segundos de silêncio.
Ainda estou abaixado quando ouço novamente vozes e música preenchendo toda a sala.
Confesso que nesse momento o desespero toma conta de todo meu ser.
E fico gelado. E se pudesse me ver no espelho com certeza veria uma pessoa totalmente sem cor.
Lá fora só a escuridão e o silêncio mórbido e gelado.
Gelado como estava meu sangue e coração.
Volto e me sento no sofá. Imóvel. Assistindo à programação.
Assistindo à uma TV que nem a tomada está mais conectada.
A cena é bizarra. Assustadora. Surreal.
Mas é real e está acontecendo e estou eu ali, sentado e imóvel.
Consigo ouvir as batidas de meu coração.
Sinto que o medo se embola em meu estômago e sobe até minha garganta.
Sinto que meus olhos estão se embaçando e vou chorar.
Não sei como descrever o sentimento de pavor e desespero sentido nessa hora.
Sinto o suor escorrendo pelo meu rosto e minha costa já encharcada.
Meu coração parece que vai estourar a caixa toráxica e saltar no tapete da sala.
De repente, acordo num pulo, minha respiração ofegante, suado e desesperado.
A televisão continua lá. Ligada. Olhando para mim.
Me desafiando.
Estou com o controle na mão mas tenho medo de apertar o POWER.
Tenho medo do que pode acontecer.
Continuo ali sentado por quase meia hora.
Crio coragem e dou um clique.
A imagem some. Fica o silêncio e a escuridão.
Mais tranqüilo me arrasto até a cozinha, tomo um copo de água e vou dormir.
Na manhã seguinte, acordo normalmente.
Saio pra rua. Vou tomar um café no barzinho da esquina. Hoje não to a fim de fazer nada.
Dou umas voltas pelas ruas e volto pra casa.
Penso no sonho que tive e das sensações tão reais.
Volto pra casa. Me jogo no sofá e ligo a televisão.
Nada, Só uma tela preta e muda.
Clico novamente. Nada.
Verifico as pilhas do controle. Tudo Ok.
A tomada. Penso na tomada e me arrepio. È a última coisa que vou ver e tenho medo do que vou encontrar.
Um vento gelado passa pela sala quando confirmo o que mais tinha medo.
A tomada está fora de seu lugar, jogada no chão.
Volto pro sofá e fico lá olhando para a tela negra e muda.
E ela olha para dentro de minha alma.
Fico ali, esperando que ela me mostre o que ela quer que eu veja.