A menina e os cães
Naquela madrugada os cachorros da rua estavam inquietos.
Sempre latiam muito na madrugada, mas naquela noite estava além da normalidade.
Pareciam assustados, mais que isso pareciam aterrorizados com alguma coisa ou com alguém.
Eram 2:45 h quando resolvi me levantar e verificar o que estava havendo.
Saí na sacada e fiquei observando, a rua estava deserta. O ar estava parado. Nem um vento.
Mas algo me chamou a atenção.
O que aparentemente causava tal alvoroço nos cães era uma menina.
Sim, aparentava uns 15 anos e andava de modo bem imponente pela rua, não pela calçada, mas pelo meio da rua mesmo.
Ela não olhava para lado nenhum, apenas para frente como se tivesse um objetivo fixo.
E a cada passo que ela dava, os cães latiam mais, E avançavam mesmo com medo.
De repente alguns cães de rua saem de um beco e a cercam, talvez 6 ou sete.
Grandes e aparentemente violentos.
Ela param e fica ali olhando ao redor e depois para cima, como se visse algo que os cães não viam.
Ela está cercada.
Os cães rosnam, escancaram a boca e mostram dentes. Enormes dentes brancos.
A menina continua lá, imóvel mas tranqüila.
Fico a observar de minha janela a cena bizarra.
Levo um susto quando a menina solta um uivo apavorante e cai de quatro.
Os cães a atacam. Latidos, gritos e uivos é o que ouço.
E o que vejo é uma luta entre todos os cães e a tal menina.
Fico ali sem ação quando percebo que a menina não se encontra mais lá, mas sim um outro cão, maior que todos os outros.
Lutando com muita voracidade e violência.
Em questão de segundos a briga acaba, vejo abismado a menina voltando ao nomal, depois que os outros cães fogem, amedrontados e ensangüentados.
A menina então se levanta, está também machucada, dá pra perceber. E um silêncio total é o que se ouve na madrugada.
A menina retoma sua caminhada. De repente ela fica assustada e começa a olhar para todo lado como se procurasse por algo, e para meu desespero, seu olhar se cruza com o meu.
Era como se ela olhasse dentro de minha alma e me falasse com o olhar:
Você não viu nada. Nada.
E com o olhar eu concordei: Não vi nada, nunca.
Ela seguiu seu caminho e fiquei ali parado, depois voltei para a cama e tentei dormir.
Toda noite fico um tempo olhando pela janela. Mas nunca mais a vi.
Quem sabe uma noite ela passe por aqui novamente...