A Amada Maldita
Esse texto foi feito em parceria com o meu amigo Sidney Muniz. Esperamos que todos gostem e entendam a mensagem, (DICA: As Drogas Matam)... Obrigado, especial a "Diabinha" Michele Dichel, que carinhosamente revisou o texto...
Logo,Logo estarei publicando uma versão com um final alternativo.
É isso ai, espero que vcs gostem da parceria. Forte Abraço a todos.
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O homem caminhava em direção ao cemitério com um embrulho nas mãos. A noite densa era clareada por dois postes de iluminação pública. No final da rua, ele pôde ver os muros do cemitério. Parou por um instante e olhou para o seu relógio de pulso, marcava 23h15min. No alto do poste, os insetos voavam com o zunido característico.
Ele coçou sua nuca e espantou um mosquito que insistia em tentar picá-lo, acendeu um cigarro e continuou sua caminhada.
Quanto mais se aproximava do cemitério, maior os muros pareciam.
- Como vou saltar? – perguntou-se coçando a nuca.
O enorme portão negro do Cemitério dos Prazeres era uma montanha intransponível, suas muralhas altas demais para qualquer pessoa pular sem auxilio. O portão estava um pouco enferrujado e os muros precisavam de uma boa mão de tinta, o que realçava o aspecto de “cemitério maldito”.
O homem procurava uma maneira de entrar, percorreu toda a extensão da muralha e nada. Voltou para o portão, pensativo enquanto fumava seu cigarro.
- Merda. – falou.
De repente, uma idéia lhe surgiu. Caminhou até o portão e o empurrou. O enorme portão negro escancarou-se com um ruído fantasmagórico, pois não estava trancado.
Um sorriso nervoso brotou em seu rosto, caminhou calmamente para dentro do cemitério. Jogou o embrulho no chão e cuidadosamente fechou o portão, selando novamente a entrada do campo santo. Atrás de si, alguns hectares de terra eram delimitados pela enorme muralha.
O Cemitério dos Prazeres tinha a extensão de cinco hectares, seu terreno era todo recoberto por uma rala grama, mas havia pedras de calçamento delimitando pequenos trechos, por onde as pessoas se deslocavam para ir aos túmulos de seus entes falecidos nos dias de enterro e no dia de finados.
O homem apanhou o embrulho e rumou atrás da lápide que procurava, olhou ao redor e não viu ninguém, apenas sentiu o cheiro da morte que pairava sobre todo o lugar.
- Afinal, todos aqui dentro estão mortos. – disse.
Parou um minuto, pois um arrepio percorreu-lhe a espinha. Um pensamento insano era o culpado.
- Nem todos. – corrigiu-se.
Caminhou calado por algum tempo, só tinha o som de suas passadas, o suor em seu rosto e o compasso do coração como companhias. Seu pensamento focava-se no trabalho macabro a seguir.
Finalmente, encontrou a lápide com o nome que procurava era hora de começar a cavar. Abriu o embrulho em suas mãos e deixou cair uma pá e uma picareta que estavam enroladas em uma grossa capa.
Mediu o terreno da cova que iria trabalhar, sete palmos era o que diziam.
Tirou a camisa e deixou o peito cabeludo nu, o frio da noite fez seus pelos se eriçarem imediatamente, começou a cavar.
Atacava o terreno com a picareta, ao acumular uma boa quantidade de terra solta, retirava o excesso com a pá. Meia hora depois, o suor escorria-lhe pela testa e o resto do corpo estava embebido em poeira de cemitério.
Estava mais ou menos na metade do serviço, quando uma coruja pousou na lápide, tentou espantá-la, mas parecia que ela sorria para ele.
Era hora de parar, descansar um minuto. Sentou-se na lateral da cova e ficou alongando os músculos, afinal, cavar é um serviço pesado, felizmente, a terra do cemitério era fofa.
- Devia ter trazido água. – reclamou, pois sua garganta estava seca e queimava.
Olhou ao redor, havia algumas rosas depositadas em uma sepultura vizinha, eram recentes. Ele tomou uma delas, verificou se não tinha espinhos e colocou as pétalas na boca, para que pudesse salivar, aquilo o tranqüilizou por um momento.
Pegou a pá e retirou o excesso de terra, recomeçando o trabalho, agora com mais determinação e intensidade.
Uma hora e meia, depois, ele ouviu um baque oco.
Havia encontrado o caixão.
Retirou toda a terra e limpou com as mãos a enorme tampa de madeira.
O caixão se revelou.
A luz pálida da lua cheia fez o crucifixo metálico incrustado no centro da madeira brilhar.
Sorriu animado.
Um baque surdo encheu o ambiente, alguma coisa queria sair, sorriu mais intensamente. Agachou-se e destravou as dobradiças que trancavam o caixão.
Saiu da cova e esperou
O caixão abriu-se. Uma mão esquelética saiu de dentro dele e começou a empurrar.
A tampa do caixão abriu por completo.
Um esqueleto horrível sentou-se no caixão, a coisa estava vestida com uma mortalha branca, toda suja e empoeirada. Seu longo cabelo, que um dia foi loiro, era de uma coloração macabra, seus olhos azuis e secos se remexiam entre vermes e uma gosma verde no lugar da cavidade ocular, a pele ressecada apresentava uma tonalidade cinzenta.
A caveira levou a mão esquelética até a cabeça e ajeitou o cabelo por trás de um pedaço ressecado da cartilagem que era sua orelha. Um sorriso brotou em seus lábios malditos, mas uma barata saiu de sua boca e um filete de sangue podre escorreu do nariz. Ela limpou com a mão o sangue, porque isso não importava mais, ela voltara à vida.
O homem admirava a cena com os olhos brilhando, pois estava muito feliz, tudo valera à pena. Lembrou-se rapidamente das palavras da velha feiticeira:
-Você a terá de volta, rapaz. - disse ela com um sorriso desdentado. - Ela voltará. Se você fizer tudo corretamente, mas lembre-se: Nada que ressuscite uma pessoa morta pode ser uma coisa boa... Nada.
Ele estava desesperado, há algum tempo ouvia sua amada chamando, dois dias depois ela apareceu morta no rio local. Ela começou a lhe atentar.
Aparecia em sonhos, pedindo ajuda e em visões, clamando por socorro.
Ele não pode se controlar, afinal, amava demais aquela mulher. Quando encontrou a velha feiticeira, ela disse que havia um jeito de trazê-la de volta a vida, não pensou duas vezes.
A velha feiticeira lhe ensinara um ritual secreto. Ele o executou e desde então nunca mais tinha ouvido ou sonhado com sua esposa morta. Tudo indicava que o ritual funcionara, mas agora ele tinha certeza.
-Karina, meu amor. – disse sorridente.
A caveira tentava sair da cova, suas mãos esqueléticas e finas estavam sobre a terra, novamente.
-Eduardo, é você? – sussurrou Karina- Me ajuda meu amor?
Sua voz era fria, assustadora e rouca, muito diferente da doce e meiga voz que ele conhecia, mas não se importou, afinal, a amava muito.
Quando três minhocas fugiram da boca da coisa. Eduardo quis retroceder, mas era tarde demais. Ela havia segurado sua mão e fazia força para levantar-se.
- Que saudades de você. – disse.
Karina ficou em pé, a longa mortalha a fez parecer mais alta, o vento frio da madrugada esvoaçavam os cabelos, revelando um rosto horrível, mas Eduardo não se importava.
Ele abraçou sua amada, em um abraço cabuloso, não se importava com a aparência ou as condições em que aquele corpo em decomposição se encontrava. Ela o abraçou de volta.
Os lábios pútridos de Karina que outrora eram lindos e carnudos encontraram-se com os lábios quentes de Eduardo em um beijo frio como o gosto da morte. Eles se abraçaram, mas quando ela ouviu o coração dele batendo, aquilo a encheu de ódio e ela em um ataque de ira o derrubou no chão.
- Seu maldito. – gritou.
Eduardo arregalou os olhos, sem entender.
- O que foi querida?- disse- Eu não entendo...
Ela não o deixou terminar a frase, com o longo indicador esquelético apontando para o rosto dele, a caveira revelou:
- Você me matou, seu verme.
Eduardo ficou espantado, não acreditava no que ouvia.
- Depois de toda aquela bebida, maconha e cocaína que você usou, nós estávamos curtindo a noite, no acampamento, até que você ficou louco e começou a me surrar. Parecia possuído.
Eduardo tentou se defender:
- Eu não me lembro disso. - disse aturdido e completamente apavorado.
A coisa, em um movimento ágil, abaixou-se e pegou a pá que Eduardo tinha usado para cavar, levantou-a bem alto e acertou em cheio a testa do rapaz, fazendo-o ir a nocaute.
- Agora, maldito, você vai descansar, mas não em paz. Assim como eu. – disse com um sorriso macabro.
Ela o chutou para dentro do caixão.
Trinta minutos se passaram.
A caveira estava agachada junto aquele caixão que ha pouco lhe servia de morada.
- Senti tanto sua falta. – disse Karina - Não poderia ficar sem você, eu precisava fazer isso para que ficássemos juntos. Desculpe-me amor!
Ela passava sua mão esquelética alisando a madeira. Enquanto lembranças de sua vida ao lado dele apareciam em sua mente. Sua face perdida em um misto de felicidade e melancolia.
De repente um grito despertou-a de seus pensamentos.
- Socorro! - era Eduardo.
Ele estava preso dentro do caixão. Gritava e se debatia. Karina ergueu-se, pegou as rosas que jaziam no outro tumulo e jogou-as sob o caixão. Ela pegou a pá e começou a enterrá-lo vivo. A cada pá de terra que jogava se sentia mais livre e ao mesmo tempo tão presa. Um vento gelado a circundava naquele momento. Quando acabou de enterrá-lo todo seu corpo transformou-se em poeira e então ela, simplesmente, desapareceu.