Cinzas - Parte II
Estava tendo um sonho ruim.
Não era bem um pesadelo, mas algo inquietante, uma sensação ruim e ele lutava para acordar.
Abriu os olhos e a principio não reconheceu o lugar, desnorteado e ainda com a impressão ruim do sonho. Não conseguia se lembrar como fora o sonho, mas a sensação ruim persistia.
Piscou os olhos para enxergar melhor, e aos poucos sua mente foi clareando. Lia e ele estavam na barraca, no sitio abandonado. Sorriu. Olhou para o seu lado e Lia estava lá, dormindo de bruços, tão linda e serena em seu sono tranqüilo.
Planejava para amanhã um dia sensacional, especial, onde faria tudo que ela desejasse, todas as suas vontades. E então, à noite, a pediria em casamento lhe entregando as alianças ajoelhado em torno da fogueira, olhando dentro de seus olhos azuis. Depois tomariam vinho, e ele tocaria uma musica para ela, no seu violão. Seria romântico e inesquecível.
Mas agora precisava botar pra fora o vinho que tomou antes de se deitar. Estava apertado, e muito.
Afagou os cabelos dela, beijou de leve suas costas e não querendo acordá-la, abriu o zíper da barraca e saiu silencioso para a noite, procurando um lugar para se aliviar.
No céu estrelado, uma magnífica lua cheia o observava impassível.
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A sorte estava ao seu lado.
E ele que pensava que teria trabalho com o rapaz, ainda nem tinha mesmo definido como ia fazer pra tirá-lo de perto da bonitona, mas eis que o boa pinta vinha para ele! E sozinho!
Era um cara de sorte mesmo!
Estava com sua corda. Enquanto o rapaz rodeava a barraca cantarolando baixinho, procurando um melhor lugar para se aliviar, sem perder tempo ele fez um laço. Já havia trabalhado como peão de fazenda, e sabia e muito bem como fazer pra laçar um cavalo. Neste caso seria mais fácil ainda, pois o cavalo em questão estava desprevenido.
Aproximou-se o mais que pode, levantou o laço acima da cabeça e rodou. Quando o rapaz, talvez pressentindo o perigo, se virou, já era tarde. Atirou o laço uma só vez e já o acertou. O alvo estava parado, então era bem mais fácil.
O rapaz nem conseguiu gritar. Foi puxado com tamanha violência que caiu no chão aós pés do seu algoz, as mãos tentando afrouxar a corda que apertava seu pescoço, mas em vão.
Puxando com todas as suas forças, colocou seu rosto frente ao rapaz, para que pudesse apreciar o momento em que a vida deixava o corpo. Olhando dentro de seus olhos, ele sussurrava tudo que faria com sua namorada, quando ele não estive mais por perto para defendê-la, enquanto suas mãos apertavam a corda com mais e mais força.
Emitindo sons estrangulados, se debatendo cada vez com menos vigor, os olhos aterrorizados do rapaz foram perdendo ao poucos o brilho da vida. Com um ultimo estremecimento dos pés, ele se foi, olhando com um espanto cômico para seu assassino desconhecido. Deixando o corpo ao lado, ele pegou mais madeira e fortaleceu as chamas da fogueira. Jogou o corpo do rapaz já sem vida no fogo.
Sempre sorrindo, ele pensou: Que linda surpresa a belesoca vai ter quando acordar!
Mas ele ainda tinha muitos outros presentinhos para ela. Um deles era grande, grosso e estava novamente duro no meio de suas pernas. Dessa vez ele não ia precisar usar a mão para aliviar o tesão.
Ele era realmente um cara de muita sorte!
Continua...