DONA MORTE
DONA MORTE
Inverno congelante,escuridão,uma névoa densa,Nunes dormia só em seu quarto,pesadelos reviravam seu sono,sentiu um toque gélido em sua face,deu um pulo assustado,era uma bela mulher que lhe acariciara,linda,cabelos longos,olhos negros,perfume suave,Nunes lhe pergunta ainda em estado de choque:
-Como entrou em minha casa?
A dona lhe responde:
-Tu deixaste a porta aberta para mim.
Nunes rebate prontamente:
-Nem a conheço!
E a dona diz em um tom de voz sussurrante:
-Tem chamado por mim e me procurado por dias a fio,não me reconhece agora?
Nunes se cala e sem reação alguma,fixa os assustados olhos naquela mulher maravilhosa,tentando ao menos entender o que estava acontecendo,educadamente,Nunes pede que a mulher se retire de seu quarto para que pudesse colocar sua roupa,a dona prontamente atende o pedido e caminha lentamente em direção a sala,Nunes,numa mistura de pavor e curiosidade,sai de seu quarto e segue em direção a moça,sentada no sofá,a bela mulher se vira em direção a Nunes,questionando o porque de tê-la chamado com tanta insistência.
-Sinceramente não te conheço,sou um homem solitário,não tenho amizades,como posso tê-la chamado se nem sei ao menos seu nome?
A dona pacientemente responde a Nunes:
-Te recorda de quando era apenas um adolescente e se revoltou com tudo e todos?
Nunes começa a entender,mas inserguro não responde.
-Lembra de quando começou a flertar com a morte?
Nunes se irrita e grita:
-Diga de uma vez quem és e o que quer comigo!
-Paciência!Diz a dona.
-Sente-se que te direi quem sou,mas terá que se manter em silêncio.Concorda?
Nunes aceita e exclama:
-Assim que terminar,terá que ir embora da minha casa!
Sentados de frente um ao outro,trocam olhares penetrantes,a mulher misteriosa se prepara para contar tudo o que Nunes deseja saber:
-Quando tinha exatamente 15 anos,você começou a se drogar e praguejar contra tudo e todos,fez muita gente chorar com sua revolta,ao invés de se abrir,se fechou em um mundo só seu e fez apenas o que lhe parecia correto,sem se importar com as outras pessoas,foi a primeira vez que chamou por mim,não atendi seu pedido,pois não via verdade em seu chamado,viveu assim por anos e pensei que tivesse me esquecido,já não mais me recordava de seu apelo,achei que não precisasse de mim,que não me queria,pensei que estava feliz,até que então,sua vida foi do céu ao inferno em apenas um segundo,se tornou um pai de família,honesto,trabalhador,sem vícios,suas virtudes se destacavam,de repente o céu que vivia,ficou nublado,se viu sozinho,sem amigos,família e apoio,recuperou o uso das drogas,praguejava com intensidade feroz,colocou a culpa de toda desgraça em todos,menos em você mesmo,insistiu no erro por anos até que gritou meu nome novamente.Esperei,paciente que sou,que se arrependesse e se apegasse na fé e na esperança para viver,minha espera foi em vão e como atendo aos apelos de quem me chama com fervor,corri para te atender,está feliz em me ver?Já descobriu quem sou eu?
Nunes aos prantos eleva a voz e diz:
- Como posso estar feliz em vê-la se não consigo saber quem és?
A mulher segura Nunes com sua gélida mão e o guia até seu quarto,ao adentrar Nunes se espanta com o que vê.
-O que eu faço ali deitado em minha cama?Como pode ser possível se estou falando contigo?
A mulher então se apresenta:
-Eu sou a morte!Vim aqui para te buscar!
Nunes fita os olhos ao redor do quarto e nota a garrafa de vinho vazia no chão e sobre a cama o frasco de calmantes,totalmente vazio,somente então ele se dá conta do que fizera contra a própria vida,foram várias e várias tentativas de suicídio frustradas,um dia isso acabaria acontecendo,Nunes flertou e clamou tanto pela morte que enfim foi atendido.
A maioria das pessoas não acreditam nas pessoas que tem tendências suicidas,Nunes foi um desses desacreditados que atingiram seu objetivo,a bela moça toma Nunes em suas mãos e o conduz em direção a porta,sussurra em seu ouvido:
-Vamos meu anfitrião,já é hora de partir.
GRISANUNES