O jantar

Existem situações e sensações pelas quais passamos na vida que nunca mais nos esquecemos, por mais que queiramos.

Vou relatar uma passagem dessas que ocorreu há mais de 30 anos, mas toda vez que me lembro um sentimento gelado me sobe pela coluna, me arrepiando por completo.

Havíamos nos mudado para aquela pequena cidade há poucos meses.

Era um lugar agradável, as pessoas pareciam hospitaleiras e era um bom lugar para se recomeçar a vida.

Abri ali um pequeno comércio e tudo estava indo bem.

Havia já feito boas amizades com muitas familias da cidade, todas me pareciam serem boas pessoas.

Uma familia chamava a atenção pelas suas posses. Eram os mais ricos da cidade, mas devo reconhecer que possuiam hábitos um pouco estranhos.

Estavam sempre sérios, na verdade nunca os vi sorrindo, mas eram amigáveis.

E segundo me informaram, não eram de muitos amigos.

O que tínhamos em comum eram filhos na mesma idade, eu tinha uma filha e eles, um filho.

Na primeira vez que o rapaz apareceu na loja e trocou olhares com minha filha, percebi que algo iria rolar. Dito e feito.

Com o passar dos dias, foram ficando amigos e numa manhã de inverno, o pai e o filho apareceram na loja, compraram as coisas de que precisavam e antes de sairem, para meu espanto, nos fizeram um convite para jantar na casa deles no final da semana.

Aceitamos.

Sábado. O jantar.

Nos dirigimos até lá. A casa ficava bem no centro da propriedade. Na verdade um casarão já bem antigo. Escuro e um tanto sombrio.

Fomos recebidos amigávelmente e apresentados a todos, inclusive à criadagem.

Confesso que fiquei um pouco assustado com a casa e com a riqueza apresentada ali.

A sala de jantar era enorme, com uma mesa bem no centro, com 20 lugares.

Os quadros expostos nas paredes eram de pessoas, com certeza já falecidas e que viveram ali em tempos passados.

Enquanto o jantar era servido. Foi exposto o motivo do convite para o jantar, que como já imaginávamos, era sobre nossos filhos.

Tudo parecia bem..... até que se ouve um grito de um dos criados:

-Apaguem as luzes! Ele escapou. Apaguem tudo.

O chefe da familia concordou e gritou em seguida para que tudo fosse apagado mas que todos permanecessem em seus lugares.

Imediatamente a casa caiu numa escuridão total.

A sensação era muito estranha.

Não se via nada, absolutamente nada.

Todos em silêncio. Apenas algumas vozes perdidas pelos corredores.

Alguns gritos.

Nesse momento sinto algo passando por detrás da cadeira onde me encontro sentado.

Mas não é uma pessoa, sinto algo peludo se encostando em meus braços, como se me cheirasse.

Alguns minutos ficamos nessa desconfortável situação.

As luzes voltam a se acender.

A familia parece não saber o que falar.

E temos medo de perguntar. Medo da resposta.

O assunto sobre os filhos ficou sem terminar.

Um silêncio inesperado nos acompanha durante todo o jantar.

Nos despedimos, agradecemos e vamos embora.

Quatro dias se passaram. Não apareceram na loja.

No quinto dia o chefe da família aparece e me chama para um canto.

-Acho que te devo uma explicação.

Digo que se não quiser falar sobre o assunto, por mim tudo bem.

Ele insiste e me conta que sua família carrega uma maldição há séculos:

A cada três gerações uma criança nasce totalmente peluda, não fala e não consegue viver uma vida normal.

Apesar de ser uma criatura dócil, tem seus dias de violência.

Sinceramente fico sem saber o que dizer.

Conto para minha filha. Arrumamos nossas coisas e fomos embora na semana seguinte.

Nunca mais voltamos àquela cidade ou ouvimos falar sobre eles.

Achei melhor não falar à ele sobre as maldições que minha familia carrega tanbém e que por issso havia fugido para aquela cidade.

Acho melhor assim...

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 27/03/2011
Código do texto: T2874164
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