Neste mundo ou no outro...

Em transe o assassino ouviu a sua sentença:

- Neste mundo ou no outro, passe o tempo que passar hei de ter ver agonizando no inferno!

Dois amigos, Ronie e Duval, cresceram juntos e nunca se desgrudaram.

Pareciam dois irmaõs gêmeos idênticos na personalidade e nos gostos.

Brincaram juntos na infância, participaram das radicalidades da juventude e se distanciaram apenas, quando depois de arrumar uma namorada, Duval resolveu se casar.

Ronie se viu em mudança para outra cidade e nunca mais se viram, até o dia que o destino reservara para ambos, o reencontro, em fatídico episódio.

Duval vinha com seu carro do trabalho para casa e passou por um posto de gasolina.

Estava dentro da loja de conveniências, quando todos do recinto perceberam uma movimentação extranha do lado de fora que em segundos estourou dentro da loja. Cinco homens armados, adentraram e anunciaram um assalto.

Bem facilmente esvaziaram os caixas e enquanto a cena ocorria, Duval reconhecera o amigo da infância, que famigerado, comandava os movimentos da quadrilha.

Lembranças do amigo correram por sua mente em flashes e quando deu por sí, ouviu a gritaria lá fora.

Saiu rapidamente e viu seu amigo apontando um revólver para um frentista que se negava a sair da frente do carro.

A posição do rapaz era crucial, pois se Ronie atirasse ia mandar tudo aquilo pelos ares.

Ao perceber tudo Duval deu um grito que assustando Ronie o fez se virar para ele.

Duval gritou assim:

- Nãooooooooooooooo Ronieeeeeeeeeeeeeeeeeee! Não faça issooooooooooo amigooooooooooooooooooooo!

E caiu estatelado acertado pelo tiro.

No susto, o motorista ligou o carro e atropelando o frentista o esmagou junto ao pilar que sustentava a bomba na saida do posto.

Ronie não reconheceu Duval e seguiu seu caminho, sem remorsos.

Ao dormir, a cena do morto caindo por causa do tiro surgiu em sua frente.

Percebia uma agonia no rosto da vítima e ficou intrigado.

Por meses aquela cena não saiu de sua cabeça.

Passado sete dias, reza a ciência espiritual escatólogica, que a alma se desapega totalmente do corpo e vaga por vinte e um dias, tentando sanar ou acertar contas com os que ficaram, para depois seguir seu destino.

Foi no sétimo, que Duval apareceu nitidamente para Ronie, a dizer de forma agora clara, o que balbuciava apenas, na hora crucial de sua morte.

Boquiaberto Ronie viu a sua materialização em sua frente e esse lhe disse:

- Eu tentei evitar que você cometesse uma tragédia e você tirou a minha vida!

Fomos amigos um dia, mas a partir de hoje, neste mundo ou no outro, quero ver você queimando no inferno.

Perturbado, a partir dai, Ronie tinha pesadelos horríveis.

Sonhava que estava sendo cozinhado vivo e o calor do tacho era tão intenso que se via derretendo feito uma sopa de lentilhas.

Doutra feita, que era conduzido dentro de um caixão para uma fornalha ardente e era deixado alí, queimando vivo.

Acordava sempre aos sobressaltos e com a cama molhada de suor.

Ficou aterrorizado até o fim de seus dias e na sua morte, sentiu seu caixão sendo empurrado, não para uma cova de terra, mas como na boca de um vulcão em labaredas incandescentes.

Uivou feito um cão selvagem e seu grito ecoa pelos séculos, pois sujeito de uma maldição eterna, nunca mais haverá consolo para ele.

ANA MARIA GAZZANEO
Enviado por ANA MARIA GAZZANEO em 25/03/2011
Reeditado em 25/03/2011
Código do texto: T2869067