Vestígios de vida

Eu tinha acabado de me deitar e tentava conciliar o sono quando o quarto foi tomado por uma luz estranha, de um cinza-escuro, como a da aurora em dias chuvosos. Não me vi invadido pelo pânico, muito pelo contrário, uma calma pesada e cheia de maus presságios instalou-se no meu peito, me lembro apenas de haver murmurado: Aí vem coisa. E Agostinho, meu pai, adentrou pela porta fechada como num desses filmes de ficção científica, passou simplesmente através da madeira, primeiro a cabeça, depois os braços, o tronco e finalmente as pernas. Não o via desde que eu tinha cinco anos de idade, mas era ele sim, não envelhecera, o rosto permanecia quase adolescente com sua barba indecisa, uns pelos alourados que seriam dádivas para um desses barbeadores descartáveis. Usava chinelos de tiras de couro cru trançado, calça vermelha boca de sino, camisa cor de abóbora e os cabelos despencavam pelas costas em caracóis castanhos claros. De seu corpo emanava um cheiro forte, nauseabundo, de suor, sujeira e maconha. Meu pai relançou os olhos azuis de anjo renascentista pelo quarto, sorriu, deu alguns passos pelo assoalho – Como vai, Sunshine? perguntou-me – e começou a esfumaçar-se, ganhou uma transparência de vidro e sumiu completamente. A claridade cinza-escura permaneceu ainda por um instante inundando o quarto, depois deu lugar à escuridão. Meu pai acaba de morrer, murmurei convicto. Acendi a luz do abajur sobre o criado-mudo e me pus a analisar a súbita presença do espectro com a cautela com que examinamos algum sonho maluco em busca do significado oculto. Ele surgira no quarto exatamente como era nos anos mil novecentos e setenta. Em 1969 meu pai foi aos Estados Unidos para assistir ao Festival Woodstock, lá conheceu uma garota e fui concebido no momento em que Janis Joplin esgoelava no palco a canção Work Me, Lord. Eu era, portanto, a combinação de óvulo e espermatozóide saturados de rock e substâncias tóxicas. Minha mãe morreu de overdose de heroína dez meses após meu nascimento, meu pai voltou ao Brasil trazendo-me nos braços, entregou-me aos cuidados da vó Verônica e se perdeu nas entranhas do mundo – mas no meu aniversário ele surgia na cidade, trazia-me um presente qualquer, geralmente colares, pulseiras, esses artesanatos que os hippies faziam para sobreviver, ficava três dias ou no máximo uma semana na casa materna e novamente ganhava a estrada – sempre com um violão pendurado nas costas, cabeludo, envolto em roupas coloridas, risonho, entorpecido pelo uso constante de drogas. Nunca senti por ele nenhum afeto, amizade ou interesse, tanto isso é verdade que, quando ele foi dado oficialmente como desaparecido, olhei minha vó chorando e, perplexo, continuei a brincar com meu hamster chinês. Ante essas lembranças, cheguei à conclusão que a visita fantasmagórica resumia-se num enigma sem solução, apaguei a luz do abajur e tentei dormir. Em vão. Sabia que mergulhar no sono a partir daquele momento seria impossível. Meus olhos estavam ressecados, irritados como se houvesse grãos de areia sob as pálpebras, a garganta começou a doer e fui acometido de tosses secas como as de um fumante inveterado.
Saltei da cama, calcei os chinelos e fui-me pelo corredor iluminado por uma lâmpada de quarenta velas, cheguei à sala iluminada apenas pelo clarão da lua cheia entrando pela vidraça e sentei-me numa poltrona disposto a passar a noite vendo algum filme na televisão. Não cheguei a ligar o aparelho, minha atenção foi atraída por um brilho azulado que começou a emanar dos lados da mesinha acomodando o pequeno aquário de peixinhos tropicais, um brilho muito bonito, um azul raiado de fachos brancos, difusos. Junto ao aquário estava um menininho de uns seis anos, enfiava a mão na água e brincava com os peixinhos. Os peixes estavam alvoroçados com a energia desconhecida. Ele sorria concentrado na brincadeira, depois soltou uma gargalhada fina, divertia-se o garotinho com os corpos dos peixes nadando através de sua mão e do pulso. Era uma cena curiosa. Prestei atenção à criança, era lourinha, mas os cabelos aqui e ali estavam plasmados com uma coisa gelatinosa, escura – então senti o cheiro de sangue. Eu estava perplexo e, antes de entrar em pânico, retornei ao quarto, vesti-me, saí da pensão pela porta da cozinha.

A três quadras da pensão ficava o Maneco’s bar, uma espelunca que funcionava das dez da noite até o dia raiar. A fauna de sempre se espalhava pelas mesas, ladrõezinhos rastaqueras, viciados, traficantes, prostitutas, bêbados, trabalhadores braçais, homens e mulheres empregados do comércio. Cumprimentei alguns fregueses, não me deram a mínima. Lá comigo mesmo lamentei minha incapacidade de possuir amigos – eu frequentava o Manolo’s fazia pelo menos uns dois anos e não tinha conseguido vínculo de simpatia nem com os bêbados falastrões que às vezes encerravam a noitada dando testadas nos postes e muros quando a caminho de casa. Houve um tempo em que cismei que fedia, era por isso que as pessoas se afastavam de mim com repugnância. Passei a farejar as minhas axilas e as roupas em meu corpo, depois de certo tempo cheguei à conclusão que, de fato, de mim emanava um miasma nojento. Passei a tomar banhos demorados, a inundar os sovacos de desodorante, ousei mesmo lavar o rosto, peito e pulsos com perfumes fortíssimos – até que confessei minhas frustrações a uma prostituta que habitualmente me prestava seus serviços sexuais, ela me ouviu atentamente e me informou, brutalmente, que eu não precisava de perfumes, mas que porra, eu não exalava mau cheiro, na verdade eu era desagradável por causa da minha aparência de capacho, dos meus olhos aguados, da minha palidez de cera, da minha voz de enfermo, da minha estatura insignificante, da minha magreza que dava a impressão de ser um morto de fome. Mas eu tinha uma qualidade, disse, eu sempre pagava sem reclamar do preço acima da tabela.
Sentei-me na banqueta em frente do balcão, pedi um conhaque ao Maneco, um gigante com braços de halterofilista cobertos de tatuagens. Ele continuou limpando o balcão com um trapo, ignorando minha presença. Então uma garota sentou-se na banqueta ao meu lado. Analisei-a detidamente – tinha os cabelos louros amarrados num rabo-de-cavalo, os lábios finos eram de um vermelho natural, o rosto pequeno e anguloso. Vestia uma camiseta branca de malha fina, quase transparente, encobrindo uns seios pequenos de grandes mamilos castanhos. A calça comprida era de brim desbotado com singelas flores bordadas na altura das coxas magras. Trazia nos pés um par de tênis meio estropiado, da cor roxa. Uma garota recém saída da adolescência, comum, prosaica, absolutamente sem sal, não fosse pelo odor que seu corpo exalava, um cheiro de flores mortas, uma fedentina de fim de velório. Sentindo-se observada, ela me encarou e pude ver nos seus olhos de um azul-acinzentado laivos do mais puro desespero. A seguir ela levou as duas mãos ao estômago e começou a regurgitar uma gosma negra. A baba lutuosa escorria pelos cantos da boca, espessa, pesada, descia pelo pescoço e invadia o decote da camiseta. Olhei para o Maneco, ele continuava a servir seus fregueses. Passeei os olhos pelo bar – o pessoal bebia, dava risadas, conversava, ninguém parecia estar presenciando a cena macabra.
O que você tem? perguntei, sentindo que os pelos do meu braço esquerdo se arrepiavam.
Não sei, parece que estou pegando fogo por dentro. Quero encontrar minha mãe, mas estou perdida. Se a vir pode dizer que não estou mais com raiva, que eu a perdoo por se intrometer no meu namoro?
Posso, eu disse, apenas com a intenção de confortá-la, e me surpreendi com o longo suspiro de alívio que esvaiu de sua garganta. Ela levantou-se da banqueta, rumou para a porta de entrada e, antes de ultrapassá-la, esfumaçou-se.
E o meu conhaque, Maneco? indaguei ao botequeiro. Ele nem me olhou, pegou alguns copos sujos numa bandeja e foi lavá-los na pia. Maneco estava com raiva de mim, com certeza. Lembrei-me que na noite anterior eu havia bebido muito e, num momento de insânia, quebrei uma garrafa de cerveja na quina do balcão e saí em defesa de uma mocinha que apanhava na cara de um pilantra. Da briga com o cafajeste eu não conseguia ter a mais remota memória, mas certamente eu lhe aplicara uma lição exemplar e, claro, sem me ferir, já que fisicamente eu estava ótimo. Teria causado prejuízos de grande monta ao estabelecimento? Provavelmente.
Esperei ser atendido por cerca de meia hora, depois desisti, era melhor procurar outra espelunca. Saí do bar. Na calçada, olhei o céu estrelado, depois consultei o relógio – estava parado. Um carro passou avermelhando por instantes o asfalto imerso no abandono. Eu estava morando naquela região há mais de três anos, atraído que fui por seu característico sossego. Tomei o rumo da pensão, cada vez mais perplexo com os últimos acontecimentos, formulando a mim mesmo perguntas complexas, repudiando teorias sobrenaturais contrárias aos meus princípios de ateu convicto, temendo a perda de juízo. Em dado momento tive a sensação de que estava sendo seguido, parei debaixo da luminária de um poste e esperei. Uma mulher aproximou-se, usava um enorme casaco branco de pele de ovelha, tinha os olhos pintados exageradamente, a boca pesada de batom vermelho-sangue e nas orelhas viam-se imensos brincos de argola e no pescoço colares de contas coloridas. Abriu a grande bolsa de couro a tiracolo e retirou um cigarro sem filtro de um maço de Continental.
Tem fósforo? ela perguntou.
Não fumo.
Não? Que esquisito, a maioria dos homens que conheço fuma como uma maria-fumaça.
Eu tenho asma.
Ah! Você sabe onde fica a zona?
Que zona?
A zona de mulheres.
Não sei onde fica.
Ah, vá! Que homem não sabe onde fica a zona de sua cidade? Eu tô procurando a casa da Zuzu, é a maior da zona.
A zona foi excluída do perímetro urbano de Cantuária faz muito tempo.
Claro que não! Eu tinha o endereço da Zuzu escrito num papel, mas perdi.
Eu não posso te ajudar, sinto muito.
Tentei falar com uns motoristas de táxi, mas eles fingem que não me vê. Todo mundo me ignora como se eu fosse leprosa, que diabo tá acontecendo com essa maldita cidade? E eu tô desesperada, preciso encontrar a casa da Zuzu. Tô vindo de São Paulo fugida do meu cafetão. Se ele me pegar, vai acontecer uma desgraça.
Diga-me uma coisa, em que dia e ano nós estamos? perguntei sem realmente querer uma resposta.
Que foi, tá bêbado ou com o rabo cheio de bolinha? Hoje é sábado, 31 de julho de l965.
Ah, tinha me esquecido...
Não quer fazer neném num hotel?
Não estou a fim de sexo.
Não sou boa o bastante pra você?
Não é isso. Na verdade estou bêbado, a minha coisa não iria funcionar.
Então tá. Tchau!
Tchau.
Ela arrumou no ombro a grande bolsa de couro e afastou-se pela calçada. Uma enorme faca estava enterrada até o cabo em suas costas.

Eu precisava urgentemente de um trago, eu precisava emborcar, desesperadamente, um litro todinho de conhaque, era isso, tinha que tomar um porre para amortecer um pouco minha mente entrando em parafuso. Como meu relógio estava parado, presumia que fosse muito tarde, o vento sacudindo as árvores das calçadas era cada vez mais frio, as estrelas no céu se tornavam mais cintilantes. Apertei os passos, transitei por ruas desconhecidas com casais de namorados ganindo de prazer apoiados em muros protegidos pelas sombras espessas, passei por vielas ouvindo gatos vadios chorando de amor sobre telhados musgosos – não via botecos abertos. Em dado momento descobri-me andando pelo calçamento irregular das alamedas do Bosque Municipal, no centro de Cantuária. O ambiente afundado nas brumas da noite era melancólico, as grandes árvores, remanescentes da época em que a região foi desbravada pelos pioneiros, farfalhavam grávidas de vento e as lâmpadas dos postes, as poucas que não foram quebradas pelos vândalos, espalhavam focos de luz trêmula formando figuras imprecisas nos paralelepípedos gastos e na vegetação luxuriante que certamente assustariam uma pessoa mais afeita às influências das fábulas sobrenaturais. O que não era o meu caso. Desde sempre frequentei o lugar, quando criança vinha brincar no parquinho infantil construído por ali, naquele tempo famílias inteiras compareciam aos domingos para dar voltas pelos passeios e apreciar a natureza, casais de namorados circulavam de braços dados e não raramente encontravam refúgio entre os troncos robustos do arvoredo para a troca proibida de carícias urgentes; anos depois o bosque perdeu sua inocência, favoreceu mendigos em busca de sossego, protegeu as prostitutas, garotos de programa, viciados e traficantes – quando rapazinho eu varava as noites zanzando por suas entranhas com um baseado entre os dedos.
Sobressaindo-se dos ruídos do vento, escutei uma voz possante, peculiar, agradável – alguém estava cantando. Segui a voz à medida que ela se tornava mais altissonante. Em pouco dei de cara com o cantor Ciro Matias. Sim, era ele, aquela barba imensa descendo pelo peito o tornava inconfundível. Ciro estava sentado num dos bancos de granito à beira da clareira onde tinha existido o parquinho infantil e me encarou por um instante, sorriu daquele jeito dos muito bêbados ou empanturrados de cocaína, deu um tapinha no banco me convidando para sentar e recomeçou a cantar um blue ou jazz, não sei bem, a voz modulada, meticulosa, dentro do compasso. Sentei-me ao seu lado – éramos conhecidos de longa data, ele comprava discos de vinil e livros de literatura policial no sebo de minha propriedade, às vezes demorava meses para pagar os fiados, mas eu sabia que era puro esquecimento, Ciro Matias era muito rico. Começou a cantar profissionalmente ainda na adolescência, mudou-se para o Rio de Janeiro, gravou muitos discos de música sertaneja que venderam feito água, fazia shows quase todos os dias – chegou a fazer mais de trezentas apresentações por ano em ginásios, estádios, feiras agropecuárias. Um dia parou de raspar a barba e decidiu que era o momento de encerrar a carreira, deu entrevistas no rádio, na televisão, aos jornais e revistas, espumando de raiva desancou a música sertaneja, declarou seu amor incondicional ao blue e jazz e voltou para Cantuária, comprou postos de gasolina, supermercados e, até, uma funerária. Aposentado como cantor aos trinta anos, às vezes dava canja em bares, em festas de aniversário e casamento – desde que não lhe pedissem para cantar o abominável estilo sertanejo.
Agora, ali no bosque, Ciro Matias parou a cantoria, levantou-se e começou a procurar alguma coisa em torno do banco, procurou que procurou, depois voltou a sentar-se ao meu lado.
Eu tinha trazido um litro de vodca ainda lacrado, onde diabos será que eu deixei a peça? murmurou para si mesmo. Balançou a cabeça como para expressar a desolação pela perda, deu de ombros, por fim. Eu lambi os lábios ressequidos, estava louco por um trago, mas não ousei fazer minha própria busca pelo litro, sei lá, comecei a sentir um frio estranho me percorrer a espinha.
Pensei que ia morrer, disse Ciro Matias, lançando um olhar perdido para os paralelepípedos do passeio. Estou dando uma festa lá em casa, hoje é meu aniversário, sabe? Tudo ia muito bem, meus convidados se divertindo a beça, eu muito feliz porque afinal não esperava completar trinta e cinco anos de vida. Bebo muito, cheiro qualquer substância de aparência branca, me pico como um demente, trinta e cinco anos é um marco, não é? Pois então. Aí meu esbodegado coração disparou como uma metralhadora. Nem sei como consegui sair da festa... Vim morrer aqui, cara; adoro este bosque. Como você está vendo, eu não morri, já estou bem, já posso voltar para a festança. Quer vir comigo?
Eu fiquei emocionado com o convite. Nesses meus quarenta e poucos anos de vida, jamais alguém me convidou para uma festa. Na verdade, nunca recebi nem mesmo um convite para comparecer a um velório. Mas as campainhas de alarme estavam soando doidamente dentro do meu cérebro, assim, respondi que estava cansado e precisava dormir, o melhor seria voltar para a minha pensão.
Você é quem sabe, disse Ciro Matias, levantou-se novamente do banco com um gemido, como se lhe doesse alguma parte do corpo, acenou-me um adeus e se foi pelo passeio. Segui-o com o olhar até vê-lo se perder nas sombras da noite. Sentia a garganta seca, lembrei-me do litro de vodca perdido por ali e passei a procurá-lo com a urgência dos alcoólatras. Mexi nas moitas de ervas daninhas, fiquei de quatro e comecei a apalpar o chão, vasculhando com sofreguidão cada reentrância do terreno desnivelado envolto na escuridão, machuquei os dedos em pedras pontiagudas e touceiras espinhentas não encontrei o litro. Em dado momento percebi que o tronco da árvore onde me sentara estava gelado, corri a mão sobre ele, precisava verificar se aquela frialdade era por causa do orvalho - e dei com a imensa barba de Ciro Matias. O cara estava ali, mortinho. Após o susto, comecei a raciocinar. Deveria pegar meu celular e ligar para a polícia? Não, não faria isso. Decidi ir à casa do cantor e relatar a ocorrência aos seus empregados domésticos, eles que tomassem as providências.
Saí do bosque, andei pelas ruas desertas sem que minha memória ajudasse a localizar o lugar exato onde Ciro residia. Quando dei por mim estava indo em direção à casa da minha vó Verônica. Àquela hora da madrugada, vi que todas as luzes da residência estavam acesas, havia uma gentarada circulando pelo jardim, adolescentes namorando embaixo das árvores do pomar, e, constatei, imperava no ar saturado de solenidade uma melancolia cansada. Entrei pela porta aberta e percebi que algumas pessoas estavam sentadas em cadeiras junto às paredes, entre elas vó Verônica trajando um vestido negro, cabelos ajeitados num coque antigo e um xale rendado, preto, em cima dos ombros. Alguns indivíduos desfilavam ao lado de um caixão aberto circundado por círios ardentes, cada um olhava por segundos a face do morto e depois ia render condolências à senhora enlutada. Também fiquei curioso, fui ao esquife e fitei o rosto do falecido. Ali, na urna fúnebre, vi-me distendido com chumaços de algodão enfiados nas narinas – a cabeça estava envolta em gazes. Então compreendi: alguém me dera um tiro nos miolos. (Psicografado pelo médium Alexandre de Monte Cristo).