Pena de Morte - Capítulo VI - Zumbi?

- Senhor? – A voz de uma mulher havia invadido a sala.

- Sim Laura, quais são as notícias? – Perguntou o Secretário.

- Perdemos o sinal dos soldados de Gelo. Resta apenas o sinal do prisioneiro agora. O sinal do veículo do Soldado Felix também foi neutralizado.

- E o clone?

- Conseguimos localizá-lo senhor. Está numa área protegida pelo novo estado.

- Onde ele está?

- Ele invadiu o monumento aos pracinhas senhor. Foi visto pelas câmeras de segurança. Só conseguimos descobrir que ele estava lá por que ele causou uma queda de energia e então o segurança verificou as câmeras e em uma delas visualizou o presidente, então nos contatou.

- Queda de energia? – Ele disse surpreso.

- Sim. Ele eletrocutou mais quatro membros, Senhor.

- Quem está indo para lá? – Indagou o Secretário.

- Agente Camilo Diaz, Paulo Dutra e uma equipe de dez outros soldados.

- Quero que interceptem a soldado Mara, o agente Silva e o prisioneiro Daniel! Eles são a prioridade. – Ele diz com um tom ríspido na voz.

- Mas e o clone senhor, ele...

- Ele logo virá até nós. E então será meu! – Disse interrompendo-a.

- Mas...

- Saía daqui soldado. Saia logo e faça o que estou lhe ordenando!

- Sim Senhor! – Disse Laura retirando-se da sala.

....

- Então quem é você afinal?

- Não se lembra de mim mesmo Daniel. – Felix sorria enquanto falava. Na verdade há um problema muito maior do que o seu clone, aquele que vocês estão perseguindo.

- Que problema? – Perguntou o agente Silva.

- O presidente! – Disse Daniel.

- Como? Mas o presidente é refém deste lunático.

- Não. Não é, Mara. O presidente está desaparecido á três meses e o secretário fez de tudo para manter este segredo longe dos ouvidos da população.

- Mas nós vimos ele. Ele está no ônibus. – Disse Mara.

- Não, Mara. Nós não o vimos. Era um clone, não é mesmo? Assim como você. – Daniel disse olhando diretamente para Felix.

Mara e o agente olharam para Daniel e em seguida para Felix completamente descrentes. Mas a resposta de Felix viria como um tapa de luvas.

- Isso mesmo Daniel. – Disse ele calmamente.

- Você é um clone Felix? Mas não há como? Você não seria aceito como um soldado do gelo, os registros mostrariam as alterações genéticas e seu rosto seria reconhecido no computador central. É impossível. Não entendo. – Mara estava pasma com a revelação.

- Na verdade não, Mara. Sou um clone biforme.

- Nunca ouvi falar disso! – Disse ela.

- Não há como ter ouvido falar. Sou o único da espécie. Um protótipo. Fui criado há oito anos pelo Doutor Mariano Flores. Sou a mistura de dois indivíduos, um deles era apenas um bebê, dele eu herdei apenas a parte do DNA que digamos está vinculada a minha aparência, o que digamos nada mais é que uma máscara, enquanto do outro individuo herdei todo o resto.

- Então ele forjou seus registros para que fizesse parte da equipe? – Mara concluiu.

- Sim. E desde então pude acompanhar cada passo seu Mara. E executar todas as ordens do Doutor. Ele sempre soube que algo estava errado naquele lugar. Eu não sabia o que era até descobrir o desaparecimento do presidente. O secretário ordenou ao doutor que criasse um clone do presidente. Sem alternativas ele o fez e de repente um clone de um assassino seqüestra um ônibus onde a cópia do presidente estava nele. Há algo errado aqui.

- Mas afinal quem é, ou melhor quem foi você? – Perguntou o agente Silva.

- Lhes apresento meu melhor amigo, meu parceiro, o soldado Pedro Farias. Seu pai Mara. – Disse Daniel.

- Não é possível! Não, não. Não pode ser! Mara estava nervosa com toda a situação. Matheus permanecia ao seu lado e segurava forte sua mão, O agente Silva na outra ponta do banco estava atônito. Daniel estava ao lado de Felix que dirigia o carro, lagrimas descendo de seus olhos.

- Não posso pedir para que me chame de pai ou que tenha algum sentimento por mim, até por que sou apenas um clone. Mas saiba que também nunca deixei de protegê-la e esta foi a maneira que Deus permitiu-me de continuar ao seu lado. E não há como arrancar este sentimento de dentro de mim Mara. Para mim. Sim, você é minha filha e esta certeza ninguém pode arrancar de mim.

- Daniel bateu a mão sobre o ombro de Felix, eles se entreolharam e Daniel piscou seus dois olhos para ele fazendo simultaneamente um movimento com a cabeça na vertical. Mara não resistiu e se jogou na direção do banco em que Felix sentava-se abraçando - o junto ao banco. Quando tocou - lhe notou que aquela era a primeira vez que se encostava nele e algo único aconteceu. Ela podia ver seu pai, não a forma física em que ele estava como Felix, mas sim, Pedro. Ela nunca o havia visto pessoalmente. Nasceu após sua morte, e agora ali estava ele como nas fotografias e vídeos. O seu pai. Ele segurou a mão dela acariciando seus dedos enquanto ambos choravam.

- Perdoe-me! – Ele disse.

- Pelo que pai? – Aquela palavra fez com que ele chorasse ainda mais e as lagrimas desceram abruptamente de seus olhos.

- Por não poder ter te contado nada até agora. Por ter morrido e deixado você e sua mãe sozinhas. Por tudo que não tenhamos feito juntos.

- Isso não me importa! Você está aqui. Aliás, você sempre esteve, por isso me protegia tanto, via meus testes, a fragrância de seu perfume, sempre soube que estava lá. Mas não entendia o porquê disso já deixava tão claro que não me interessava por você. – Mara sorriu ao dizer isso. O agente ergueu as sobrancelhas balançando negativamente a cabeça.

- Tá certo! – Disse ele tentando conter suas lágrimas. Precisamos nos unir agora. Precisamos da ajuda de Daniel mais do que tudo.

- Ele é um assassino! Você o prendeu por isso! Eu só o usei por que sem ele não podemos saber onde o clone está ou o que está fazendo. Me desculpe por isso pai.

- Sim! Ele é um assassino! E talvez eu também seja, Mara! Talvez todos sejamos! A visão verdadeira dos atos de um homem só pode ser vista por ele mesmo. Seja na loucura de seus atos ou na lucidez de seus propósitos.

- Como assim? – Ela perguntou enquanto Daniel sorria para si mesmo. Foi quando a voz metálica invadiu seus ouvidos.

- Veículo coletivo localizado á dois quilômetros!

- O ônibus! – Disse o agente como se tivesse acabado de encontrar um mapa do tesouro.

- Coloque-o no radar, computador. Felix olhava na direção do monitor enquanto Daniel observava ao lado.

- Droga!

- O que foi? – Perguntou Matheus.

- Não é o clone, são soldados do gelo.

- Merda! – Se queixou Daniel. O que eles querem agora?

- Querem nos matar e estão vindo em nossa direção. Estão rastreando as suas algemas. Me esqueci deste maldito detalhe, temos que ir para um local seguro.

- Estas algemas não saem sem uma chave específica. Você está com ela agente? – Perguntou Mara.

- Ficaram lá no presídio. Me desculpem, mas foi por precaução. Eu... – Ele lamentou desgraçadamente como se realmente estivesse arrependido por tê-las deixado lá por escolha própria, temeroso que Daniel tentasse fugir de alguma forma.

- Esqueça-se disto. Você agiu corretamente agente, faria o mesmo se fosse você. – Disse Daniel. - Mas se eles estão tão perto do clone, por que não o prendem logo? – Ele questionou.

- Não sei! O que eu sabia já lhes disse. O secretário quer vocês mortos. Pelo visto ele não quer que vocês cheguem até o clone.

- Maldição! – Disse João. - O que vamos fazer? Quantos eles são?

- Estão num veículo coletivo, agente. São pelo menos dez e altamente armados devido a situação laranja.

- O que vamos fazer pai?

- Não sei. Tenho mais munição aqui. Daniel, o que você acha?

- Recarreguem as armas pessoal! Nós vamos descer. – Daniel disse engatilhando suas pt´s.

- Está louco! – Disse Mara.

- Os nanoinfectos vão nos matar. Comentou João sem entender o que Daniel realmente pretendia.

- Não! Ele está certo. É a única maneira de igualarmos a situação. Temos que correr o risco. Eles vão nos derrubar se ficarmos aqui em cima. – Analisou Matheus.

- E os nanoinfectos estarão atrás deles também. – Entendeu Mara. – Realmente é a melhor escolha!

- Então vamos descer. – Decidiu-se Felix olhando para Daniel.

...

Enquanto isto.

- Diga.

- Está me ouvindo claramente.

- Sim mestre.

- Quantos ainda restam?

- Logo terminará tudo mestre.

- Simplesmente responda minha pergunta! – O tom na voz não o que ele esperava.

- Treze senhor. Restam apenas treze. – Disse o clone tentando disfarçar sua ira.

- Bom! Dei ordens para que tirem Daniel de seu caminho.

- Deixei eles no deserto, logo estarão mortos. – O clone disse deixando escapar um sorriso.

- Ele, a filha do soldado Pedro e o agente ainda estão vivos. Mas por pouco tempo. – Disse a voz que chegava fraca aos ouvidos do clone, como se ele estivesse sussurrando afim de não ser ouvido por alguém.

- Eles não podem me fazer nada mestre. Deixe que eu os mate!

- Não os subestime. Não quero que nada dê errado. Eles não são mais problema seu.

- Entendo! Farei como o senhor quiser.

- Bom. E o clone, como está?

- Está bem!

- E os membros restantes?

- Chorando como criancinhas, Senhor.

- Isto é ótimo! Eu quero que eles sintam muito medo... quero que eles paguem caro por sua insolência.

- Eles pagarão Senhor!

- Bom, Daniel... muito bom, logo estará tudo acabado. E graças a você! O que tem em mente agora?

- Vou cortar algumas cabeças senhor! Alguma indicação? Ambos riam enquanto conversavam. A voz do mestre saia pelos auto-falantes do ônibus e chegava aos ouvidos dos membros.

- Minas e Espírito Santo. Todos se voltaram para os dois membros dos respectivos estados. Ambos imersos em pânico se encolheram em suas cadeiras, gritando como crianças ao acordar de um terrível pesadelo e saírem correndo pelo escuro da noite, loucos por encontrarem a cama de seus pais. Mas os gritos eram abafados, e tampouco poderiam correr já que estavam presos ás suas cadeiras e continuavam amordaçados.

- Ok, senhor! Eles adoraram a indicação. É uma pena que não pôde ver seus rostos cheios de contentamento. O suor está brotando pelos poros de cada um deles, suas peles já fedem a queimado, estão ganhando um tom diferente, a insolação ainda não está provocando delírios, mas logo entrarão em estado critico.

...

- Estaremos no chão em cinco segundos. Todos carregaram suas armas?

- Ok. Disse João.

- Carregada. – Afirmou Mara.

- Afirmativo chefe. – Disse Matheus.

- Há quanto tempo não combatemos juntos parceiro? Pt’s carregadas. – Disse Daniel segurando suas duas armas e revivendo em suas memórias o que há muito tempo já não fazia tanto sentido para ele. Mas agora seu parceiro estava do lado dele.

- Será uma honra Daniel. Preparem-se para sair do carro e nos seguirem. Temos um acampamento não tão longe daqui. Matheus, você cuida da Mara. Vamos! Vamos! – Disse Felix puxando a fila.

Eles saíram do carro enquanto uma espécie de furgão blindado, um pouco menor que um ônibus normal pousou logo depois deles. Um nanoinfecto apareceu na escuridão e chamou os outros com seu grito sibilar. Dezenas de gritos puderam ser ouvidos. Mara segurava-se a Matheus e apontava sua arma para escuridão. João estava atrás deles. Daniel e Felix mais á frente.

- Onde ele está? – Daniel perguntava pelo nanoinfecto que desapareceu de repente.

- Não faço a mínima idéia. – Respondeu Felix. Eles continuavam a andar. Ouviram gritos ao longe, gritos de humanos.

- São os Soldados do Gelo. – Disse Mara tocando no chão. - Estão a cerca de cem metros de distância, e vindo muito rápido.

- Estão seguindo nossos rastos. – Disse Daniel.

- Tomara que os nanoinfectos os encontrem antes da gente. – Torceu Matheus.

Algo então saiu no meio da escuridão e pulou na direção de Daniel, o agarrou e saiu o arrastando para longe, ouviu-se um grito. Ele atirou com uma de suas armas, mas o disparo foi em vão, o monstro segurava seus braços contra o chão e investia contra ele.

- Onde ele está? – Perguntou Matheus dando um giro de 360º, mas ele não pôde ver nada.

- Daniel? Daniel? – Eles não o viam, de alguma forma ele havia desaparecido na escuridão. Daniel se debatia, estava muito escuro, o monstro o atacava, sua boca salivava em sua direção, era impossível um humano lutar contra aquela criatura. Daniel investia com toda sua força, suas mãos tocando aquela pele estranha, bolhas de queimadura por toda a parte, seu cheiro fétido adentrando nas narinas do condenado que resistia como podia.

- Droga! Me ajudem! – Daniel gritava.

- Daniel! Atire para que possamos te encontrar! – Disse Mara.

Ele então deu dois tiros para o alto.

- Ali! – Disse o agente Silva correndo na direção dos disparos.

- Maldição! É um buraco. Ele caiu em uma espécie de vala ou algo do tipo. Venham.

Foi quando os soldados os viram.

- Eles estão naquela direção! Matem eles! – Ordenou uma voz na escuridão.

- Eu conheço esta voz. – Disse Mara.

- Soldado Camilo! – Murmurou Felix. - Temos que sair daqui agora. Pro buraco!

O nanoinfecto continuava investindo contra a garganta de Daniel.

- Maldito! Me solte! – Daniel lutava, mas já estava vencido, foi quando os dentes pontiagudos do monstro pousaram sobre sua pele e ele sentiu uma forte pressão sobre sua garganta. Naquele momento ele fechou seus olhos e a imagem de todas suas vitimas, e de todo um passado vagaram por sua mente. Ele então fez uma breve prece e aceitou seu fim. Um borrão de sangue então esguichou em seu rosto e por fim ele sorriu. A criatura caiu sobre seu corpo. Seu crânio havia sido perfurado por um projétil de calibre 38. Daniel virou seu pescoço para o lado e abriu seus olhos vendo Felix abaixado com a arma ainda apontada em sua direção.

- Esta foi por pouco parceiro! – Ironizou Felix.

- Dá pra ser mais rápido da próxima Pedro! – Disse Daniel passando a mão pelo seu pescoço sentindo as marcas que os dentes da criatura o haviam feito.

- Prometo que vou tentar. –

Daniel se levantou jogando o monstro para o lado.

- Onde estamos? – Perguntou Mara tentando se situar.

- Sinta o cheiro! Percebe agora? – Perguntou Matheus.

- Isso é dos nanoinfectos? – Perguntou João,

- Não! Estamos nos esgotos do Rio de Janeiro.

- Que merda! Este é o pior lugar que poderíamos estar. – Disse o Agente Silva.

- Talvez não. – Disse Matheus. - Dá pra gente ir para o acampamento por aqui. Há um caminho, só precisamos achar uma passagem.

- Isso é muito bom, pois não temos mais fator e logo o sol nascerá. – Observou Daniel.

- Talvez o Felix tenha mais fator. – Disse Felix.

- Desculpe agente. Ficou tudo no carro. Só há mais no acampamento.

- Que droga! – Praguejou João.

- Então, vamos logo. Matheus você nos guia daqui em diante. João você cuida da Mara e Daniel e eu cobrimos a retaguarda.

- Certo! – Eles concordaram e seguiram andando. Ouviram gritos e sons de disparos acima de suas cabeças.

- Parece que eles estão bem encrencados lá encima. – Observou Mara deixando escapar um sorriso.

- Bom pra gente! – Disse o agente.

- Onde estão os nanoinfectos? – Perguntou Daniel.

- Agradeça apenas por eles não estarem aqui. – Disse Felix.

Matheus ligou uma lanterna que estava na sua bolsa. Uma luz então invadiu a escuridão. Ele passou outra lanterna para Daniel.

- Só tenho estas duas. Era um túnel, o esgoto ali não era usado há anos, ratos vagavam pelo chão. O lugar cheirava muito mal, haviam caveiras humanas , crânios para todo o lado, ossos de braços e pernas, esqueletos de crianças, de cães, baratas e larvas rastejavam pelas paredes. Mara via muito daquilo enquanto suas mãos deslizavam pelo concreto cheio de enlodeado.

- Que lugar horrível! De onde é que saíram todos estes ossos! Parecem ossos de crianças! Meu Deus! – Mara parecia estar conectada estranhamente com todo aquele lugar.

- Acalme-se Mara. – Disse Daniel.

- Não são crianças humanas. São crianças deles. Uma nova raça. Eles estão se reproduzindo há anos, mas esta raça não está conseguindo sobreviver. – Revelou Matheus.

- Eles estão se reproduzindo? – Perguntou Daniel surpreso.

- Sim. E comendo suas crianças. Como acha que eles poderiam continuar vivos por todo este tempo. O alimento é muito pouco. Veja o que eles podem comer aqui. Ratos, baratas, larvas. Pense como é difícil achar um cão a essa altura do campeonato. Eles não são seres ignorantes, são inteligentes, a diferença é que algum distúrbio causado pelo fator 3000 os fez evoluir, ganharam força e um apetite por carne assustador, desenvolveram garras, seus dentes tornaram-se mais propícios para caça, e também perderam a habilidade de falar mas se comunicam de uma maneira bastante eficaz quando se trata de comida, e se agrupam inteligentemente. São predadores. Isso é o que são. Uma evolução da nossa espécie Mara. Quero dizer, da sua espécie. – Disse Felix soltando um leve suspiro. Mara pensou em abraçá-lo naquele momento. Foi quando uma bala ricocheteou na parede, fez-se uma faísca e o projétil penetrou no ombro de Matheus.

- Corram!!! – Disse ele ao ser atingido. Todos o seguiram. Escutaram gritos diversos. Nanoinfectos e soldados do gelo. O lugar era um verdadeiro labirinto, túneis por toda parte, Matheus incrivelmente parecia conhecer aquele lugar. Ele entrava em túneis distintos. Daniel e Felix atirando na escuridão. De repente Matheus passou a mão em uma parede lateral.

- É por aqui! Tenho certeza, mas não consigo achar.

- O que está procurando? – Perguntou Daniel.

- Uma passagem secreta. É como uma escotilha. – Ele descreveu.

Mara então colocou a mão sobre a parede. Assim pôde ver toda a extensão do túnel.

- Está dois metros á esquerda, atrás deste espaço não há paredes. É algo oco que eu não consigo ver. Uma abertura circular.

- É a passagem! – Disse Matheus entusiasmado.

Matheus e o agente começaram a vasculhar a parede na direção que ela apontou. Os gritos ainda eram ouvidos, mas eles pareciam tê-los despistado.

-Achei! – Disse João enfiando a mão em um buraco exatamente onde Mara havia dito que ele devia estar. Há alguma coisa aqui.

- É uma porta de cofre de aço muito resistente. Roubamos de um dos antigos bancos do Rio de Janeiro. É só rodar o dispositivo. Ajustamos para apenas quatro números. 6 direita, 5 esquerda, 2 direita e 4 esquerda.

- Então pelo menos aponte a lanterna para o buraco né! – Pediu o agente.

- Certo! – Disse Matheus. O som dos gritos parecia voltar ao rumo deles, as criaturas se aproximavam.

- Andem logo com isso! Logo eles vão nos achar. – Um bando de nano infectos então apareceu na escuridão. A porta se abriu e se depararam com um túnel lateral, mas diferente dos outros este não era de concreto, era manilhado e era muito baixo. Eles tinham que se arrastar deitados por ele. Daniel e Felix atiravam contra os nanoinfectos enquanto Matheus e Mara entraram no túnel. Eram muitos nanoinfectos e vinham de direções opostas do túnel. Estavam se aproximando. Os gritos dos soldados do gelo já podiam ser escutados junto aos das criaturas.

- Sua vez João! Vai logo! – Disse Daniel.

- Vocês primeiro! Eu cubro!

- Está louco! Entre! – Disse Daniel.

- Nem pensar.

- Certo Daniel! Eu vou! – Disse Felix entrando. Daniel e João atirando contra eles.

- Merda! Por que está fazendo isto agente!

- Acho que é hora de eu retribuir! Você salvou minha vida duas vezes hoje! Entre logo Daniel, você é mais útil do que eu e alguém tem que fechar esta porta, deitados no túnel não iríamos conseguir fazer isso.

- Tá certo! – Disse Daniel entregando uma de suas Pts para João. Você vai precisar de mais armas. Daniel entrou e se arrastou pela escuridão do túnel. João atirava e gritava feito um louco.

- Morram seus monstros! Venham me pegar! – Daniel virou-se para trás e viu João pela última vez. Um Bando de nano infectos se aproximava. João olhou para Daniel. Eu disse que seria eu que iria te matar Daniel. Não desisti disso! Ele então fechou a porta.

- João. Disse Daniel de olhos fechados. Eles então seguiram arrastando-se pelo túnel.

- Onde está o agente? – Perguntou Mara.

- Ele ficou para traz.

- Droga! – Ela lamentou.

- Como você está Matheus? – Perguntou Mara.

- Bem, foi só um arranhão. – Ele disse escondendo seu braço.

- Não. Você tomou um tiro Matheus. – Disse Daniel.

- Eu realmente estou bem. Vamos prosseguir.

- Ele está bem pessoal. O Matheus é mais forte do que vocês pensam. Vamos continuar. Vamos matar este clone pelo agente. – Eles rastejaram por aquele túnel por mais alguns minutos em silêncio. Todos tristes pela morte de João.

- Afinal o que você quis dizer quanto ao Daniel? – Perguntou Mara á Felix tentando quebrar o gelo.

- Como?

- Você disse: Sim! Ele é um assassino! E talvez eu também seja Mara! Talvez todos sejamos!

- Ah... Daniel agiu de uma maneira insana. Totalmente diferente do que eu o conhecia. Mas ele descobriu algo que realmente era perturbador. Eu o prendi, pois não sabia de nada e quando descobri me mataram Mara.

- Te mataram? Mas você morreu num acidente de carro!

- Isso foi o que eles te disseram querida.

- Estamos chegando gente. – Disse Matheus apontando a lanterna para o fim daquele túnel, o túnel alargava-se mais á frente, uma escada subia e acima havia uma espécie de tampa.

- Onde isso vai dar? – Perguntou Daniel.

- Na colméia! – Revelou Felix soltando um suspiro de alívio. Então Matheus subiu a escada e deu alguns toques na tampa.

- Código Morse. – Disse Daniel. - Isso é típico de você Felix.

- Sim. Mas o que diz? – Perguntou Mara que pôde ouvir o som mas aquilo já era um meio de comunicação tido como rudimentar.

- Apenas, “Abra”! – Respondeu Daniel.

A tampa se moveu e uma mão feminina puxou Matheus para fora. Os outros subiram logo em seguida, Daniel ficou por último. Olhou para trás, mas não havia ninguém, João estava morto. Os gritos e disparos continuavam a ser ouvidos ali embaixo. Ele então subiu e a tampa se fechou atrás dele.

- Quem é esta? – Perguntou o condenado.

- Fátima Rodrigues, este é o famoso Daniel. Daniel essa é a médica da colméia, Fátima. Fátima aparentava ter cinqüenta anos, cabelos curtos, era negra, olhos castanhos e vestia uma farda da marinha.

- Essa é minha filha Mara.

- Prazer em conhecê-los. – Ela disse praticamente ignorando-os e voltando-se para Matheus. - Mat, o que é isso em seu ombro?

- Não é nada Fatinha, só um arranhão. – Ele disse meio sem graça.

- Droga quantas vezes já te falei! Mesmo que não sinta dor Mat! Seus ferimentos podem causar sérios danos ao seu organismo cibernético. – Mara e Daniel olharam para ele que deu de ombros, fazendo sinal de que ela estava louca.

- E não faça este sinal. Ele é um cyborg! Metade humano e metade robô. O encontramos quase morto, dois nanoinfectos o atacaram, mataram sua irmã e arrancaram-lhe uma boa parte do corpo. Conseguimos fazer um bom trabalho, mas não da pra se fazer carne nova. Então lhe adicionamos alguns apetrechos, como este braço cibernético. Cobrimos com nanopele e pronto, ele ficou novinho em folha.

- Bem legal! Mas isso não foi aprovado pelo governo. Como tem acesso a essas coisas? – Perguntou Mara.

- Temos o cientista mais renomado do mundo ao nosso lado. Então fica fácil conseguir os equipamentos e tecnologia necessária para este tipo de procedimento Mara.

- Qual é o próximo passo? – Perguntou Daniel para Felix.

- Por isso sempre gostei de trabalhar com você Daniel. Não perde o foco. Apenas vamos reabastecer e pegar alimentos. Estamos seguros neste local. Este prédio é uma antiga delegacia. Está desativada há anos. Cavamos este acesso para facilitarmos as nossas fugas. Quanto ao próximo passo. Precisamos saber onde ele está?

- Ok! Vamos lá mocinha?

- Ta certo! Vamos pegar este assassino pelo agente! – Disse Mara levando as mãos aos olhos de Daniel. Eles agora estavam em um lugar estranho. Dois corpos deitados nus, amarrados á um monumento bizarro de forma que apenas suas cabeças ficavam livres. Não estavam amordaçados. Era um monumento, uma cabeça de uma pessoa negra sobre uma espécie de triangulo ou pirâmide, dava para ver ruínas de prédios á sua volta. O clone passava de um lado para o outro andando impacientemente.

- O que vocês acham hein? Eu devo ou não obedecer ao mestre? Como é que ele pode dizer que eles não são problema meu. Temos um acordo! Mas eu mato o Daniel! Eu! Só eu tenho este direito! Mas não posso simplesmente desacatar a ordem dele! Estou ficando nervoso! – Ele disse agora olhando de uma forma perturbadora na direção dos membros. Cristóvão Silva de um lado, o representante de Espírito Santo e do outro, Fabiana Pereira, representante de Minas Gerais. Ambos estavam completamente apavorados.

- O que vai fazer com este machado? Por favor, acalme-se! Podemos te ajudar! Os membros suplicavam por suas vidas.

Então ele levantou um machado que estava em sua mão, era um machado de lâmina avermelhada cujo cabo era de madeira.

- Não se preocupem. Vão morrer feito este aí. Ele ria enquanto falava. Um líder como vocês dois. Veja as coincidências. Morreu na Serra dois Irmãos. Dois! Foi traído por um de seus principais comandantes. Isso é realmente irônico! E sua cabeça foi decepada e dependurada em um local publico até sua total decomposição.

- Meu Deus, nos perdoe! Por favor! – Disse Cristóvão.

- Não há perdão para vocês! Não o meu perdão! – O assassino se aproximou de Fabiana, ela arregalou seus olhos. Ele rodou o machado no sentido horário, lançou um leve sorriso para ela e então aterrisou o machado com toda sua força sob seu pescoço. A lâmina cortou a partir da nuca e separou a cabeça daquele corpo, Cristóvão vomitou naquela hora e por fim desmaiou.

- Maricas! – Disse o clone olhando para a cabeça da mulher, os olhos dela arregalados e a boca estranhamente mórbida e aberta. Virou-se para Cristóvão e cortou-lhe a cabeça com total desdém. Mara e Daniel despertaram do transe.

- Maldito! – Ela disse.

- Onde ele está? – Perguntou Felix.

- Daniel?

- Um líder que teve sua cabeça decepada. Foi traído por um de seus principais comandantes e morreu na Serra dois Irmãos. – Disse Daniel. - Não faço a mínima idéia.

- Nem eu! – Disse Mara.

- Já ouviram falar do dia de Zumbi? – Perguntou Fátima enquanto cuidava do braço de Matheus.

- Nunca! – Disse Daniel atento.

- Humm... e que tal Dia da Consciência Negra? Pela descrição este nada mais é que o monumento Zumbi dos Palmares.

- Mas é claro! Zumbi dos Palmares. – Daniel lembrou-se de uma aula que havia tido há muito tempo atrás. Sua professora estava sentada na quina da carteira, uma régua de madeira em mãos, um ato de discriminação racial havia sido cometido na escola e ela dava uma aula justamente desprezando aquilo. Explicava a grandeza daquele homem.

– Ele é o símbolo da negritude. O monumento foi inaugurado em 1986 por Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. – Completou Fatinha enquanto seus olhos lacrimejavam. Era estranho como alguém ainda sentia algo assim em tempos tão difíceis, mas Fátima havia passado por muitas situações na vida.

- Felix saiu correndo. Vamos reabastecer! Temos que sair daqui agora! Termine logo com isso Matheus, e Mara tenho algo pra você.

- Hora da ação! – Disse Daniel seguindo Felix.

Continua...

Zumbi nasceu em 1655 na localidade dos Palmares, em Alagoas e morreu na serra dois irmãos em 1695. Foi o líder mais famoso dos Palmares. Foi criado por um padre e batizado com o nome de Francisco. Aos 10 anos já sabia Latim e falava português. Mas aos 15 anos fugiu e voltou para os palmares onde adotou o nome de Zumbi. Não se sabe ao certo o significado de seu nome. Em uma carta o padre Antonio Melo refere-se ao menino como “dono de um engenho jamais imaginado na sua raça e que bem poucas vezes encontrara em brancos”.

Leiam também...

Pena de Morte - capítulo I - O Condenado

Pena de Morte - capítulo II - O Clone

Pena de Morte - capítulo III - A Cilada

Pena de Morte - capítulo IV - Afogados

Pena de Morte - capítulo V - Monumento aos Mortos

Galera desculpem pela demora. Logo posto o próximo.

Um abraço e fiquem com Deus!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 22/03/2011
Reeditado em 14/11/2011
Código do texto: T2863743
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.