Manhã Tenebrosa

Manhã cinzenta. No curral da fazenda Genésio estava cuidando da ordenha das vacas leiteiras, uma de suas tarefas diária. Tudo transcorria às mil maravilhas, quando, do nada, irrompeu uma forte rajada de vento. A cancela rangeu como se fosse um agonizante gemido e em seguida bateu deixando a impressão de que alguém houvesse entrado no recinto.

Ouviu-se também uma voz amedrontadora chamar:

“Genésio”!!!

As vacas se assustaram e, de olhos esbugalhados de pavor, se amotinaram num dos cantos do curral. Genésio, também, assustou-se com o que ouvira, abandonou a ordenha que estava em curso e se voltou na direção da porteira. E não gostou do que viu. Arrepiou-se todo, desde os fios do dedão do pé até o último fio de cabelo. Estava diante dele um horrendo animal. Um bicho peludo, misto de bode com humano. Supondo estar diante de um lobisomem, rapidamente tirou da cintura o facão de vinte polegadas que portava e partiu pra cima daquela coisa esquisita. A cada facaozada que desferia o feioso, que parecia ter parte com o tinhoso, saltava longe, grunhia algo imperceptível, e exalava um fedor insuportável que infestava todo o ambiente.

- Sai fora coisa ruim!

Seu filhote de Belzebu!

Volta para as profundezas do inferno de onde tu saíste seu “filho de chocadeira”! – Bradou.

À medida que Genésio investia para cima do bicho, este pulava em zigue-zague e o encarava como se estivesse a pirraçá-lo. A refrega durou alguns minutos sem que o homem acertasse uma facãozada sequer.

Sentindo a implacável perseguição o feioso, como num passe de mágica, soltou uma nuvem de fumaça pelas enormes ventas e se envolveu dentro dela; em seguida emitiu um grunhido assustador. Por um instante Genésio perdeu de vista o “coisa medonha”. Quando a fumaça se dissipou a assombração voltou a aparecer para atazanar a vida do pobre homem, mas, desta feita, transmudada numa grande trouxa que ficou pulando, também em zigue-zague, à sua frente. A luta reiniciou ferrenha, com a trouxa que, igualmente ao feioso, desvencilhava-se das facãozadas com uma destreza incomum.

- Volta pro lugar donde tu vieste filho do capeta!

Valha-me Deus todo poderoso! Mande Senhor, essa “coisa” pro raio que o parta! - Tornou Genésio.

Parece que o Todo Poderoso atendeu as suas súplicas. Ele já estava exausto de tanto investir contra a trouxa, sem atingi-la uma vez sequer, quando ela se transmudou numa enorme ave, semelhante a um grande peru e posou no mourão que ficava no centro do curral. Genésio mais uma vez investiu ferozmente, agora contra a ave, com o intuito de abatê-la, mas ela alçou voo e, batendo pausadamente as asas, se afastou do local pronunciando: “Genésio, até a próxima sexta-feira treze". E escafedeu-se.

Valmari Nogueira
Enviado por Valmari Nogueira em 18/03/2011
Reeditado em 17/02/2016
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