Loucura

Quando chegamos ao local, juntamente com a polícia, a cena encontrada era simplesmente assustadora.

Quase indescritível. Não só a cena, mas o cheiro era insuportável. Mas tentarei descrever em palavras tudo o vimos.

Fomos informados por volta das 22 horas que algo estava errado no apartamento 446 do Ed. Manacá.

A pessoa que nos ligou parecia assustada e dizer ter ouvido gritos em uma lingua estranha, na verdade pareciam mais urros do que gritos.

Apenas haviam visto o casal entrando no apartamento. Um casal bem jovem que havia se mudado há pouco tempo no prédio, há uns 4 ou cinco meses apenas.

Sempre saiam e chegavam juntos, aparentemente normal, apesar de pouco se saberem sobre eles.

A tal pessoa informou que naquela tarde eles chegaram e entraram no apartamento sem cumprimentar ninguém e isso foi estranho, pois sempre eram educados e sorriam.

Passado uma meia hora aproximadamente, ouviram vozes aparentemente alteradas, mas não chegava a ser uma discussão.

E isso se estendeu por um bom tempo, mas a lingua falada não era conhecida, pelo menos a dele.

Ouviram-se choros, barulhos de coisas caindo, tudo isso intercalados por um total silêncio.

E voltando depois os barulhos. Até que em determinado ponto se ouviu alguns urros.

Assustadores. Urros de dor.

Depois um silêncio de morte, mórbido e sem fim. Nem mais um som.

E logo em seguida ao urro, os apartamentos daquele mesmo andar começaram a sentir um cheiro forte, ruim, quase sufocante. Mas não um cheiro conhecido, um cheiro que nunca tinham sentido.

Aí então rsolveram chamar a polícia.

Chegamos. Porta trancada. Silêncio total.

Arrombar era a solução e assim foi feito.

Creio que assim como eu, nenhum de nós estava preparado para a cena que vimos.

O cheiro que saiu do apartamento era insuportável, fazendo com que recuássemos um pouco, para tomarmos fôlego e coragem para entrar.

Até hoje ainda vejo a cena com cada detalhe quando fecho os olhos.

Muitos móveis estava destruído. Coisas quebradas. E ela estava lá, sentada em um canto da sala, com o olhar perdido, olhando-se sabe lá o que. Os cabelos totalmente despenteados, as roupas rasgadas indicando que houve uma luta. Arranhões pelo rosto e braços.

Um fio de sangue escorria do lado direito de seus lábios.

E em suas mãos, para nosso desespero, vimos que ela segurava de uma forma carinhosa, a cabeça daquele que havia sido seu marido.

Mas o curioso era que a cabeça não havia sido cortada e sim arrancada, deixando á mostra veias e artérias que pendiam do pescoço e de ondem corria um líquido escuro e viscoso.

E ela acariciava os cabelos do marido que permanecia imóvel, com olhos semi cerrados e boca escancarada, como se emitisse um grito, ou um urro de dor.

No meio da sala, estava um corpo, o corpo do marido, jogado, de modo disforme, com um corte enorme na barriga de onde saiam seus orgãos aparentemente puxados para fora por alguém ou alguma coisa.

Mas o sangue em que o corpo jazia inerte era estranho, tinha uma cor bem mais escura que o normal.

E ela continuava lá, olhando para o nada e acariciando a cabeça do marido.

Ficamos imóveis analisando a cena toda, sem ninguém emitir nenhum comentário.

De repente, a mulher olha diretamente para nós. Sentimos um frio e um terror subindo pelo nosso corpo.

E com uma voz estranha e grossa, e seus olhos pareciam de fogo, nos falou de modo calmo, porém assustador.

- Ele não era mais ele. A coisa havia tomado posse de seu corpo. Era preciso expulsá-lo, era preciso libertá-lo.

Eu não queria que fosse assim, mas não tinha outro jeito.

Ele queria que fosse assim.

Não tinha outro jeito.

Ela baixou os olhos e começou a chorar

Ela foi recolhida á um manicômio onde viveu pr mais uns anos, sem nunca falar com ninguém. Apenas andava de um lado para o outro repetindo que tinha de ser daquele jeito.

Foi diagnosticada como psicopata que havia assassinado o marido por ciumes e depois enlouquecido.

O caso foi arquivado.

Mas até hoje ainda me pergunto algumas coisas sobre esse caso:

Por exemplo como e porque aquele sangue tinha uma cor tão estranha?

Onde ela arranjou tanta força para arrancar a cabeça do marido?

E aquele cheiro horrível? O que era aquilo?

São perguntas sem respostas,

Só sei que algo aconteceu lá.

Algo muito ruim.

E nunca saberei pois ela foi encontrada pendurada no banhero na semana passada.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 18/03/2011
Reeditado em 12/05/2011
Código do texto: T2855613
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