O Procedimento de Dr. Jones

Nunca houve um médico como Dr. Jones. Não, nunca houve um homem como Dr. Jones.

Trabalhava em um pequeno cômodo no alto de um antigo prédio, em uma viela sem saída de Londres. Não havia local mais propício. Passava dia e noite com seu jaleco branco manchado, seus cabelos negros e espessos sobre a testa.

Seus pacientes eram trazidos geralmente sob a neblina e a escuridão da cidade.

A propaganda de Dr. Jones era o boca a boca. Leve aquele seu parente doente há tanto tempo no Dr. Jones, diziam. Ouvi dizer que Dr. Jones cura como nenhum outro.

Dr. Jones aceitava apenas casos graves. Casos que outros médicos diagnosticavam como incuráveis. Ninguém jamais foi ver Dr. Jones por um simples enjoo, ou nem mesmo uma forte gripe. Os casos preferidos de Dr. Jones eram os psiquiátricos. Geralmente eram mais difíceis, mas Dr. Jones não se importava.

A dificuldade se dava porque muitos destes não se conformariam em ir com Dr. Jones. Dr. Jones teria de usar da força e truculência. Dr. Jones não se importava nem um pouco em usar a força e truculência, muito pelo contrário.

Naquele tempo, era difícil saber de alguém que não havia ouvido falar de Dr. Jones na velha Londres. Para a maioria, uma lenda urbana. Mas Dr. Jones era tão real quanto qualquer um de nós. Quando necessário, sua existência poderia ser comprovada ao subir os cinco mal iluminados andares pela velha escada do prédio onde Dr. Jones atendia às famílias e seus pacientes. Por vezes, alguém ia até lá por conta própria. Eram casos especiais. Se houvesse realmente necessidade, Dr. Jones o tratava. Após alguém entrar e bater a porta atrás de si, Dr. Jones então começava seu trabalho.

Levava o paciente para um velho espaço com uma cama, detrás de uma cortina verde e suja. Os acompanhantes, quando se faziam presentes, permaneciam do outro lado, quase invariavelmente confortando uns aos outros e chorando. No fundo, todos sempre sabiam o que Dr. Jones faria.

Após devidamente acomodar seu cliente, Dr. Jones abria a gaveta de um pequeno armário e pegava a seringa. Na porta dupla de cima, apanhava o frasco contendo uma solução de cheiro forte. Preparava a seringa. Respirava fundo.

Mesmo com sua experiência, cada vez para Dr. Jones era uma sensação diferente.

Dr. Jones então injetava a seringa na criatura que se encontrava na cama. Ruídos, espasmos e silêncio.

Seu trabalho estava completo. Saía de cena. O que cada um faria do pobre ser que levara para ver Dr. Jones, não era seu problema.

Quando era uma pessoa sozinha, Dr. Jones chamava o velho zelador Williams para dar um fim ao que restara.

Dr. Jones então se sentava na sua poltrona na penumbra e esperava por mais um serviço.

Dylan Jokerman
Enviado por Dylan Jokerman em 06/03/2011
Reeditado em 07/03/2011
Código do texto: T2831900
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