Aokigahara

Amor

1

Em sua juventude, Pedro nunca imaginou que um dia estaria indo passar uma temporada na Califórnia, tampouco que chegaria a visitar os montes Fuji no Japão. Nascera numa pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul, onde de lá se lembra de muito pouco, com exceção de brincar de bonequinhos com seu vizinho, entre as grades que separavam seus terraços.

Alguns dias depois de completar seu décimo aniversário, mudara-se para a região metropolitana de Porto Alegre. Um verdadeiro inferno, como dizia ele. O calor absurdo constantemente era alvo de críticas e queixas a sua mãe. No mesmo dia de seu aniversário de quinze anos, teve uma briga feia com sua mãe. Disse a ela, tudo o que mantivera guardado nos últimos anos: o ódio daquela cidade suja e quente, a falta de amigos e a culpa pela morte de seu pai. Isso era algo que jamais deveria ter dito a ela, a expressão de raiva que a mulher havia adquirido na discussão sumiu de repente, sendo substituída por um semblante pálido e entristecido. Lágrimas saíram involuntariamente de seu rosto, e sem dizer uma única palavra, ela trancou-se em seu quarto.

Pedro teve pena dela, talvez ele não devesse ter dito aquilo, mas a verdade é que sentiu uma sensação de alívio ao ter tido coragem para falar todas aquelas coisas que estavam apertando seu peito.

Assim o tempo passou, eles voltaram a conversar normalmente três dias depois daquele incidente, mas a relação dos dois nunca mais fora a mesma.

2

Pedro agora estava se arrumando para a cerimônia de formatura. Trajava um terno risca de giz com uma gravata vermelha e sapatos apertados, mas que sua mãe insistiu para ele usá-los -segundo ela eram italianos e ela havia pagado uma nota por eles-.

A partir do Ensino Médio, sua vida melhora. Havia feito bons amigos e se relacionara melhor com sua tia e seu primo, que moravam na mesma cidade. Ambos inclusive eram colegas em um curso de inglês, e seguidamente jantavam no McDonald após as aulas.

Outro ponto que havia mudado em Pedro Bittencourt era a vontade de crescer. Possuía amigos e vivia bem, graças ao salário de sua mãe como gerente de um banco. No entanto, desde a briga que tivera com ela, havia decidido que o céu era o limite. Ele queria ser grande, fazer coisas diferentes, e não ter uma vida monótona e repetitiva. Isso eram coisas de pessoas medíocres, e ele não era medíocre.

A cerimônia de formatura passou-se rápido, e quando Pedro menos percebera haviam passado alguns meses, e ele preparava-se para entrar na faculdade.

Dois anos após a cerimônia de formatura e o ingresso na faculdade, recebeu um telefonema de seu primo. Era tarde, Pedro estava indo dormir. Tivera um dia muito cansativo ajudando sua mãe com tarefas de casa (ela queria que ele fosse pagar algumas contas, porque era seu dia de folga e ela não queria sair de casa).

-Alô, o Pedro está?

-Sou eu mesmo. Renato, é você? – disse Pedro, anda sonolento.

-Ele mesmo. Cara, não vou me prolongar... Tenho um convite para você.

-Hmmm... Sabe que no último convite que você me fez, foi bom só para você, né? – retrucou Pedro, lembrando-se do dia em que Renato pedira que ele fosse encontrar algumas garotas no parque. Uma delas -a que era bonita- era a pretendente de Renato, enquanto ao Pedro sobrou a outra que não era nem um pouco atraente.

-Aquele dia foi um pedido hoje é um convite. Sabe que a minha irmã foi para a Califórnia, não é? Ela me ligou hoje me convidando para ir passar uns dias com ela, ou um mês se eu quiser, e disse para convidar um amigo.

-Esse amigo sou eu?

-Exato. Sei que você está de férias da faculdade e não está trabalhando.

-Renato, vou falar com minha mãe mas não lhe garanto nada, ok?

-Ok. – E os dois desligaram o telefone.

No dia seguinte Pedro falou com sua mãe, e mesmo ela insistindo que poderia chegar alguma proposta para um novo emprego, ele convenceu ela de que seria interessante passar uns dias no exterior. Assim poderia praticar seu inglês, concluiu.

Pegaram o primeiro avião no Salgado Filho, desceram em São Paulo, para de lá pegar outro que os levasse até Congonhas de onde partiriam em sua última viagem, à Los Angeles.

No aeroporto, assim que descera do avião, ambos foram recepcionados pela irmã de Renato, que os esperava ao lado do seu namorado: um cara alto, vestindo calças jeans rasgadas no joelho. Ele era musculoso e parecia mais forte, usando uma camiseta cinza apertada, onde seus músculos pareciam que iriam rasgar as mangas da roupa. Pedro suspeitou que ele viesse a ser modelo, e mais tarde, sua prima confirmara sua suspeita.

A irmã de Renato chamava-se Steffany, e havia ido a cerca de 5 anos para o exterior, através duma agencia de modelos, quando mal havia completado 18 anos. Ela também era alta, levemente menor que Pedro que tinha seus 1,80.

Ao saírem do aeroporto, os dois jovens foram surpreendidos por uma bela Mercedes Benz, que pertenciam ao casal. Ao longo do caminho, Steffany e Johnny(como era chamado por ela) contaram um pouco sobre a cidade e seus pontos turísticos. Eles contaram sobre Hollywood, a vez que encontraram Eddie Murphy num restaurante e tiveram o prazer de jantar ao lado dele, contaram sobre o vale de São Francisco, e Johnny prometera levá-los a um jogo de basquete dos Lakers, esporte que Steffany detestava.

Ambos moravam em uma bela cobertura a cinco quadras de uma das praias daquela maravilhosa cidade. Pedro ficou impressionado com tudo aquilo. Sentia-se uma verdadeira estrela ao colocar seus pés no hall de entrada, todo decorado com belos quadros. Haviam algumas réplicas de Monet e Picasso nas paredes, e os sofás de couro pareciam mais confortáveis que sua cama no Rio Grande do Sul - isso que ele pensava viver muito bem no Brasil.

A noite, enquanto comiam pizza, planejaram o que iriam fazer ao longo das duas semanas que passariam ali.

3

Os dias passaram rápidos. Fizeram tudo que haviam programado. Foram a praia e se encantaram com aquela bela visão, jantavam em um restaurante novo todos os dias, conheceram Hollywood, trocaram algumas palavras com Ashton Kutcher,viram um jogo dos Lakers ( Steffany foi junto, um pouco contrariada) e Johnny levou ambos a conhecerem o estádio dos Los Angeles Galaxy, onde Pedro tirou uma foto na sede do clube ao lado de David Beckham. Foto a qual foi anexada num e-mail enviado a sua mãe. No entanto, o que mais marcou Pedro foi a ida ao Show do Guns 'n Roses, graças a um amigo de Johnny que havia comprado 2 ingressos e desistiu.

Nele, Pedro conheceu uma garota chamada Naomi. Era uma oriental descendente de japoneses, que embora fosse bem menor que Pedro, não tinha medo de esbarrar em meio a tantas pessoas altas. Vestia uma baby look do com a capa do disco "Apetite for Destruction" e segurava uma bandeira do Japão em sua mão. Ela estava ao lado de Pedro o show inteiro e ao anunciarem começarem a tocar I Used To Love Her, ela pediu para subir nas costas de Pedro. E ai se passaram Sweet Child O mine, Madagascar terminando com Live and Let Die.

O final do show quando as pessoas começaram a sair, ela desceu de suas costas e o agradeceu com os olhos quase fechados em doce beijo em sua bochecha. desaparecendo assim que uma de suas amigas a puxou para fora.

Pedro ficou mais duas horas após o termino do show, até avistar Renato e partirem para casa.

4

Dois dias após o show, Steffany recebeu a noticia que seus desfile em Berlim havia sido cancelado. Algo a ver com um forte protesto contra anorexia e 'blablablá' como ela havia dito aos visitantes. No dia seguinte, quando Pedro a viu de manhã ela havia envelhecido alguns anos. Johnny, no entanto, estava bem com sua carreia, e iria viajar até Milão. Ele insistiu para que Pedro e Renato ficassem em Los Angeles por mais uns dias, para apoiar Steffany já que ele estaria fora.

Passou uma semana e Johnny telefonou dizendo que iria demorar mais alguns dias - não sabia exatamente quantos-, mas iria ligar assim que soubesse. Steffany estava melhor, mas estava ficando preocupada por não receber nenhum contato da empresa de moda.

Certo dia seu agente ligou para ela, falando que havia um convite para ela. Uma empresa japonesa estava trazendo seus produtos para a América, e queria que ela fizesse uma propaganda para a televisão. Ela ficou com receio, nunca fizera algo desse tipo. Steffany sempre desfilara, mas o convite parecia generoso e segundo o empresário os representantes nipônicos pareciam ingênuos. Ela teria que gravar trinta segundos dizendo que os produtos da companhia eram bons, talvez mexer num computador e acabou. Ela apareceria na televisão e voltaria a estar em desfiles.

Steffany pensou, e no mesmo dia disse confirmou o negócio.

5

Eles haviam combinados de se encontrar num jantar, onde o próprio presidente da empresa iria conhecê-la pessoalmente, e então poderiam acertar os negócios. No e-mail que recebera, dizia que ela poderia levar seu acompanhante, pois era mais um jantar para se conhecerem do que uma reunião de negócios.

Como Renato estava doente, e Johnny fora da cidade, Pedro foi junto a prima ao restaurante embora contra sua vontade. Vestiu um terno preto, camisa branca e gravata vermelha e lembrou-se de sua formatura. Steffany também estava bem vestida, pusera um vestido verde com um tope nas costas, e um salto quinze. Segundo Pedro, ela havia ficado exatamente uma hora no banheiro, escolhendo qual maquiagem usaria e o que faria com seus cabelos: deixaria solto ou faria um coque. Optou pelo coque.

Foram de táxi até o restaurante, embora ele ficasse a poucas quadras de seu apartamento, exatamente em frente à praia. Logo que saíram do táxi, foram encaminhados até uma mesa, onde um velho(que lembrou Pedro levemente do Mestre Myagi).

-Sou Takagi Miyamoto.- Disse o homem dos cabelos grisalhos, assim que os dois se aproximaram-se da mesa.

-Sou Steffany e este é Pedro, meu primo. – Os dois cumprimentaram o velho com um aperto de mãos.

-Tomei a liberdade de fazer o pedido. Escolhi esse restaurante pela fama do prato especial feito pelo chefe, acho que vocês vão gostar.

-Não temos problemas quanto a isso. – Explicou Steffany. – Mas, por que o senhor escolheu a mim?

O homem sorriu e bebeu um pouco do vinho que estava sobre a mesa e então tratou de explicar.

-Meu pai fundou essa empresa a trinta anos e até pouco tempo, só atendíamos a região do Japão. Há cinco anos, criamos uma sede aqui na Califórnia e agora já temos sete sedes ao longo dos Estados Unidos. Vocês já devem ter visto nossa propaganda na televisão, acredito elas são discretas e passaram em horários com pouco telespectadores, mas estão por ai.

Pedro se lembrara de ter visto alguma coisa na FOX. Certa vez, não conseguia dormir e ligou a televisão para passar o tempo, lembrou de ver propaganda sobre computadores e uns kanjis com o nome Myamoto embaixo.

-Computadores? – Perguntou Pedro.

-Também. Temos diversos produtos na área de tecnologia e agora estamos expandindo. Vou explicar minha história melhor. Nasci em Tóquio e me casei quando jovem, aos 20 anos. Tivemos um longo relacionamento e a dezoito anos atrás tivemos uma filha. Minha esposa morreu no parto. Nessa mesma semana, meu pai faleceu e passou a empresa para mim e meus dois irmãos.

-Que triste. –Disse Steffany. No entanto, esse pequeno comentário pareceu não ter agradado muito ao velho.

-É o destino. – Falou com certo incomodo. – Peguei minha filha e tempos depois vim para a Califórnia, onde passei os últimos anos.

-Agora queremos crescer, Há vi em um desfile e pensei que você seria a garota ideal para promover a empresa. Já atuamos fornecendo tecnologia para o governo, estamos muito bem, mas agora queremos atingir a todos os públicos e você nos ajudará.

Da porta do restaurante, entrou a garota que Pedro conhecera no show do Guns. Naomi vestia jeans e uma blusa de alça rosa, bem simples, mas que a deixavam linda, ainda mais com os cabelos longos e esvoaçantes que a garota tinha. Ela caminhou até a mesa, onde eles estavam, após ser orientada por um dos garçons.

-Oi!- Disse Pedro timidamente.

-Porque demorou tanto? E Porque está vestida assim? Você sabia que poderia comprar o que quisesse.

Naomi olhou de relance para Pedro, sem dar muita importância para a presença do jovem. Ela sentou-se ao lado do pai, e o retrucou.

-Comprei o que eu desejo vestir, oras.

O homem fez uma cara de poucos amigos, e voltou-se a virar para os dois convidados. Apresentou Pedro e Steffany a Naomi e vice-versa.

-Pelo visto, vocês já se conhecia.

-Nos conhecemos no Shopping, esses dias. Ele estava meio perdido, tinha me pedido algumas informações.

Pedro surpreendeu com a resposta, e olhou no mesmo instante para a garota. De modo cínico, ela lançou seu olhar para ele e depois para seu pai. Não podia dizer a ele que fora no show daquela banda, ainda mais sabendo que ele odiava Axl Rose por ele ter causado vários transtornos à sua empresa. Takagi suspirou, não acreditara nas palavras da filha, mas não podia acusá-la de mentir e começar uma discussão naquele lugar.

Os minutos que antecederam a entrada, foi composto de conversas sobre o trabalho e uma bela propaganda da empresa. O sr. Myamoto demonstrava orgulho do sucesso de sua empresa e de sua forte tradição familiar. Gostava de ressaltar a união de sua família e o fato de manterem a tradição vinda de seus ancestrais mesmo estando longe de casa. Já Naomi mostrava-se impaciente, não parava de bater os pés, seguindo uma bateria imaginaria enquanto olhava para todos os lados, para por fim, apoiar os cotovelos na mesa, enquanto seu cabelo caía sobre seus olhos.

O velho se irritou, levantou-se a bateu forte na mesa.

-Naomi! Deixe de ser uma garota mimada!

-Não é justo. –Bufou a garota, fazendo seu cabelo se esvoaçar.

-Você me faz vir aqui apenas porque a sua nova mulher não passa de uma drogada!

Pedro nunca tinha visto tanta fúria nos olhos de alguém. Pensou que aquele homem iria se levantar, arregaçar a mangá e esbofetear a garota como se ela fosse uma prostituta. Antes que tomasse qualquer ação, ela recolheu a bolsa que deixara na cadeira e saiu do restaurante. Pedro tentou segurar sua mão, quase involuntariamente, mas ela se desvencilhara com certa violência.

-Estúpida. –Sussurrou o Sr. Myamoto.

Os dois primos se entreolharam sem saber o que fazer. Foi nessa hora que Pedro levantou-se, envergonhado, e disse que iria encontrá-la. Myamoto olhou para ele com desprezo, parecia que ele ia mandá-lo sentar.

-Vá. –Disse o velho com insatisfação.

Pedro parou na frente do estabelecimento olhando para todos os lados, a procura daquela garota. A viu caminhando de braços cruzados no outro lado da rua.

-Devia ter mais educação. – Disse Pedro, assim que alcançou a garota.

-Você também. – Retrucou a garota, enquanto acelerava o passo.

-Olha, nem todos ao seu redor tem culpa de você não se dar bem com o seu pai.

Ela parou de andar. Passou a mão sobre seus cabelos esvoaçantes, enquanto tentava olhar para o rosto de Pedro.

- Eu só... Só ando meio estressada. Eu gosto dele, mas ele me irrita às vezes.

-E o que ele fez pra te irritar assim?

-Pensa que só porque deixou eu subir em suas costas num show, pode virar um psicólogo? –Implicou a garota.

-Como se fosse difícil. A maioria dos homens já serviu de psicólogo à uma mulher algum dia.

-E a maioria deles queria simplesmente pegar ela. Não sou tão ingênua.

-Nunca disse que você era ingênua. –Disse Pedro, abrindo um leve sorriso.

-Você está me cantando, é?

-Talvez. Mas é que você me lembra alguém que conheci, sabe como é, não consigo ficar sem ajudar...

-Sei...- Respondeu a garota. Naomi começara a ficar interessada no garoto. Ao menos, parecia amigável e não alguém que só estava de olho em sua bunda.

-Então venha. - Retirou as sandálias, segurou a mão dele e foi em direção à praia. Para uma avenida movimentada, a praia estava vazia. Havia alguns idosos caminhando na areia, e um ou outro casal sentados na areia. Devido a essa região ser voltada a negócios, as pessoas procuravam ir a praia mais ao norte, que ficavam mais próximas dos hotéis e do transporte público.

Naomi soltou a sandálias e a bolsa e sentou-se na areia junto à Pedro. Ambos ficaram a fitar o céu azulado e sem estrelas e sentir a brisa noturna tocar suas faces.

-Nunca reclamei de meu pai ter outra mulher, ou algo do tipo. O problema é que..

Pedro que estava distraído voltou seu olhar para Naomi. A garota olhava fixamente para o céu, seus olhos verdes brilhavam, enquanto ela tentava conter algumas lágrimas.

- Namorei um rapaz, ano passado. Meu pai fez de tudo para nós terminarmos. Todo dia discutíamos por conta dele, até cogitou me mandar para outro estado. Ele me proibiu de ver meu namorado, acredita?

Uma lágrima escorria de seus olhos. Naomi passou a mão no rosto e em meio a soluços, e prosseguiu.

-Ele até arranjou um cara para mim. Eu e meu namorado, o verdadeiro, mantivemos a relação em segredo, mas ele não aguentou e terminou comigo.

Pedro aproximou-se de Naomi e colocou seu braço em volta. Ela aproximou-se dele e recostou sua cabeça em seu ombro, fechou os olhos e esqueceu de seus problemas.

-Então, fale da garota que se parece comigo. – Disse Naomi, após alguns instantes.

-Na verdade, falei só por charme.

-Sabia, seu bobo.

Naomi sorriu e fingiu dar um leve tapa no rosto de Pedro. O tempo passou e os dois ficaram ali conversando por cerca de uma hora. Antes de irem embora, Pedro a beijou, derrubando-a sobre a areia. Ela se surpreendeu, mas acabou por ceder.

Naquela noite, Pedro não conseguiu dormir pensando naquela garota. Tinha que voltar ao Brasil e isso o perturbava.

5

Johnny voltara para casa dois dias depois do jantar. Steffany o recebera com um longo abraço enquanto segura um papel com informações da gravação do comercial. Com isso, Renato e Pedro poderiam começar a se preparar para a viagem de volta.

6

Compraram a passagem para embarcar na sexta feira, pela manhã. Como tinha ainda três dias para aproveitar e já tinha conhecido tudo que desejava, Pedro resolveu ficar no apartamento de sua prima. Pensou várias vezes em ligar para Naomi e pedir para se encontrarem, mas para sua surpresa, foi ela que ligou para ele.

Marcaram de se encontrar no mesmo lugar daquela noite, quarta as sete horas. Quando Pedro chegou lá, Naomi que vestia um simples, mas bonito vestido verde, sentava em um dos bancos em quanto o esperava. Caminharam na praia boa parte do tempo em volta da praia. Ele começava agora a conhecer um pouco mais daquela garota, sabia aonde estudara, um pouco mais sobre a empresa de seu pai e principalmente sobre o Japão

O relógio marcava dez horas quando ela o convidou a ir para a casa de sua amiga, onde ela estava dormindo até que tivesse coragem de olhar para a cara de seu pai. Era uma bela casa, de dois andares, também em frente ao mar. Pedro a comparou à casa de Charlie Harper de Two and a Half Men o que levou a Naomi a brincar com ele, chamando de Sr. Waffles.

Beberam cerveja,comeram pizza e quando foram ver, Pedro estava tirando o sutiã de Naomi, enquanto cobria seu pescoço de beijos.

7

-Bom dia,sr. Waffles. – Disse Naomi, tomando uma xícara de café.

-Que horas são? –perguntou Pedro, enquanto procurava suas roupas ao lado da cama.

-Nove horas. Você dorme demais.

-Não tenho culpa se você me cansa, pequena. –Disse enquanto terminava de colocar seus tênis.

-Já vai ir?

-Sim, minha prima já deve estar preocupada. Não avisei que não ia voltar, e meu avião chegará amanhã.

Naomi ficou um pouco triste. Esperava poder vê-lo mais alguns dias até que ele voltasse ao Brasil. Mas não importava, pois ela já havia prometido que voltaria para o Japão para ver seus familiares assim que completasse dezoito anos. Percebeu que não poderia adiar mais essa viagem, e no fim seria bom poder esquecer todos os problemas que tivera em São Francisco.

- Quando voltar ao Japão, você irá me visitar?

-Se me convidar, sim. –Disse ela, enquanto caminhava até a porta.

-Mandarei alguns e-mails para você, quem sabe.

Pedro sorriu e aproximando de Naomi a beijou.

-Se cuida, pequena.

-Não me chame de pequena. – Disse ela, mostrando a língua para ele.

-Ok, senhora Waffles. Te vejo por ai.

-Cuidado para não acordar minha amiga, ela ta dormindo na sala.

Foi a última vez que conversaram pessoalmente ao longo de dois anos. Trocavam e-mails quase todas semanas, mas com o tempo o espaço entre os e-mails foi ficando maior, e após seis meses não se comunicavam mais. Pedro voltara ao Brasil, e Naomi ao Japão.

8

Ao longo desses dois anos, não mudara muita coisa na vida de Pedro. Continuou cursando a faculdade e conseguiu juntar uma bela quantia no banco. Vivia com sua mãe, e o emprego e a faculdade ficavam perto de sua casa, por isso os custos eram mínimos. No fundo, economizara ao longo desses meses esperando pelo convite de Naomi para ir visitá-la. Poupou quase todo o salário que ganhava durante o mês, não ia muito a festas e caso esse convite nunca chegasse, poderia comprar um carro.

Ao tirar um extrato de sua conta bancária, dois anos e meio após a viagem à Califórnia, surpreendeu-se. Havia em torno de vinte e quatro mil reais. Pensou que talvez fosse a hora de tentar viver sozinho, alugar um apartamento, mas sua mãe logo o convenceu do contrário. Segundo ela, ele era muito jovem e poderia ficar por ali por mais alguns anos. Assim que se formasse, encontraria um emprego que lhe desse ainda mais dinheiro. No fim ela o convenceu a aplicar esse dinheiro. Compre um carro, disse por fim.

No mesmo dia em que fora até uma concepcionária ver um carro, recebeu um e-mail de Naomi. Ela pediu desculpas por não ter respondido antes, mas no fundo queria esquecê-lo. Ela dizia não entender o que sentia por ele, afinal se viram apenas três vezes (e trocamos uns dez e-mails de 3 páginas cada, pensou Pedro). Contou um pouco mais sobre o Japão, o fato de quase ter casado contra sua vontade e de ter se reconciliado com seu pai, parcialmente.

Ao fim da carta, disse que sabia que em Agosto era período de férias e perguntou se ele não iria querer fazer aquela visita que haviam falado dois anos antes.

9

Passou algumas noites pensando sobre isso. Queria ir, mas havia um problema em simplesmente dizer que estava indo para o Japão.

Na noite em que ele contou a sua mãe, eles brigaram feio. Por sorte, Pedro já havia preparado tudo. Falara com seu chefe sobre as férias atrasadas e que gostaria de tirá-las junto a férias da faculdade. Encaixou as datas, viu os preços dos aviões e verifico as escalas e quanto esses argumentos, sua mãe não teve como reagir.

Nessa mesma noite, respondera ao e-mail de Naomi contendo o dia e os horários de sua viagem. “Estou muito contente. Estarei lá, te esperando”, foi a resposta que ele obtivera.

10

Ao descer do avião em Tóquio, lá estava Naomi vestindo uma daquelas saias de colegiais e uma blusa branca. Estava quente, e segundo o termômetro do aeroporto faziam 29º graus. Ela estava diferente, seu cabelo que outrora fora longo, agora estava curtinho, com as pontas batendo em seu ombro. Ela veio até ele, e abraçando-o fortemente, e lhe beijando o rosto. Antes de soltá-lo, deu-lhe um breve selinho.

Ela dirigia um Suzuki Grand Vitara. Pensava que seu encontro seria um pouco tímido, mas foi o contrario. Conversaram ao logo de todo o caminho. Ela disse que estava morando numa casa aos pés do monte Fuji.

Era uma casa de madeira, em meio a floresta. Não era muito afastado da cidade, dez minutos de carro e já estavam cercados de casas e de lojas comerciais. Mas após atravessar a pequena ponte de madeira e entrar naquela casinha cercada por árvores, teve uma agradável sensação de isolamento.

-Como pode ver, acho que ainda sou um pouco americana. – Disse Naomi quando entraram em sua casa.

-Mora sozinha aqui? – Perguntou o rapaz, assim que pode largar as duas malas que trouxera do Brasil.

-Nem sempre moro aqui, as vezes moro com meu pai na casa dele do outro lado de Tóquio. Mas prefiro aqui, é mais agradável...embora deteste a solidão que fica á noite.- Completou.

-Entendo. Mas é um belo lugar, poderia morar aqui para sempre.- Disse Pedro encantado.

-Eu sei. Você me contou que gostaria de um lugar assim. Por isso, convenci meu pai a comprar essa casa. – Aproximou-se de Pedro, colocando seu indicador sobre os seus lábios. Beijou sua boca e deitaram juntos no sofá.

À noite, comeram macarrão e depois sentaram-se à frente da casa, onde ficaram abraçados olhando para a estrada. Naomi adormeceu em seus braços, e assim que o relógio marcou 23 horas, Pedro a colocou na cama.

A primeira semana foi ótima, e ambos pareciam recém casados. Naomi o levou ao palácio Imperial, ao templo Asakusa, mostrou-lhe o parque Yoyogi e um Maid Café, lugar que Pedro tanto queria conhecer.

Antes de voltar, passaram uma noite próximo a Torre de Tóquio e seus 333 metros de altura. Tudo perfeito, até Pedro encontrar o sr. Myamoto...

11

O tempo passou rápido. Quando notou, suas férias já estavam acabando e teria de começar a pensar em voltar ao Brasil, sentindo-se mal por isso.

-Por que não fica aqui? –Perguntou Naomi, sentando-se sobre o colchão.

-Ficar aqui?

-Claro. – Respondeu com um sorriso meigo, enquanto colocava seu braço em volta de Pedro.

-E o que vou dizer para a minha família? Tenho faculdade e não posso viver das minhas economias para sempre.

Ela beijou sua testa, e com a voz mais serena possível, disse: - Tranque a faculdade. Fique até o final do ano. Tranque a faculdade e retome depois, se for o caso. Não quero ficar longe de você de novo.

-Vou pensar. –disse após um longo suspiro. Colocou suas mãos sobre a cintura de Naomi e a derrubou sobre a cama. Aproximou seu rosto ao dela e encostou seus lábios ao dela em um longo beijo. Deitaram sobre a cama e amaram-se.

No dia seguinte, ele tomou a decisão: ficaria ali com Naomi. Sentia algo especial por ela e não queria perder isso. Além disso, é só meio ano pensou. Depois disso, pensaria no que ele deveria fazer.

Naquele mesmo dia, mandou um e-mail para sua mãe e pedindo para trancar a faculdade e avisar seu chefe. Ela respondeu dizendo “OK. Espero que você saiba o que está fazendo.” Essa frase o incomodou. Sabia que sua mãe não diria não naquela situação, mas essa frase o perturbava. Era a maneira de sua mãe poder dizer “ eu avisei” se tudo desse errado.

Uma semana depois, Naomi voltou a trabalhar. Era um trabalho temporário em uma agência de moda. No início, trabalhava apenas um turno, as vezes à tarde, as vezes a noite, não tinha horário fixo. Durante a noite, quando sentavam na escada ao lado de fora da casa, Naomi o ensinava a falar japonês, e ele em troca, a ensinava um pouco sobre o idioma de sua terra Natal. Durante o dia, deitava-se no sofá com um livro que comprara. Muitas vezes, passava a manhã inteira lendo e muitas vezes falando sozinho, tentando dominar aquele novo idioma.

No entanto, com o tempo aquilo tornara-se chato. Sentia-se como se os papeis estivessem alterados: Era ela quem trabalhava o dia inteiro e ele que ficava em casa, como um simples amante. Até quando isso iria durar? Só não voltou para casa, porque toda vez que Naomi chegava em casa, vestindo um de seus terninhos, a primeira coisa que ela fazia era ir até ele e abraçá-lo. Nunca deixara de ficar com ele, algumas vezes após ele adormecer, ela levantava e sentava em frente ao notebook para fazer seus trabalhos.

Isso o fazia se sentir um lixo, começara a pensar que ela só se esforçava para ficar com ele, por ter se sentir responsável pela sua decisão de ficar no Japão. Ele era um peso morto.

12

Estava tomando café, quando percebeu um carro parando em frente a casa. Não sabia quem poderia ser. Naomi havia saído há duas horas, não tinha como ser ela. Segurando a caneca na mão, afastou a cortina para o lado e enxergou um carro preto parado. Dele saiu o sr. Myamoto A única coisa que pensou, eram em se arrumar rapidamente. Vestiu um pequeno casaco de lã, arrumou rapidamente o cabelo em frente ao espelho.

-Bom dia, sr. Myamoto –Disse Pedro após abrir a porta, colocando um sorriso falso no rosto.

Myamoto não foi tão simpático. Foi logo entrando na casa e sentou-se no sofá, fitando o rapaz.

- Como anda a minha filha?

-Bem. Está trabalhando. Ela é muito esforçada. – Respondeu, enquanto em sua cabeça, perguntava-se o que ele realmente queria.

-Lembro de quando ela era criança. Cuidamos dela, para que ela se tornasse uma boa esposa, nunca imaginei que ela iria ter de trabalhar.

Sentiu-se alfinetado. Na verdade, era como se tivesse levado um soco em cheio no seu rosto, com direto a deslocar sua mandíbula e quebrar o seu nariz.

-Não se preocupe. Estou aprendendo o idioma. Logo vou conseguir emprego e poderei sustentá-la.

-Ela é orgulhosa, puxou a mãe. Esses dias ela me ligou, e disse que não queria mais receber meu dinheiro, que iria trabalhar e rejeitaria tudo que eu lhe enviasse. Pedro sorriu.

-Ela cresceu muito desde que a conheci. Mas sua personalidade, quanto a orgulho não mudou muito.

-Isso ela puxou a mim. –Disse o velho-.

– Pois bem, desculpa se ela me faz parecer um carrasco, não sou isso. Só não quero que ela tenha que sustentá-lo. Conheço sua prima, ela é ótima. E tenho fé em você. Portanto, vim lhe oferecer um emprego em minha companhia. É simples, não é estressante e lhe pagarei mais do que você merece. Você parece determinado, e quando liguei para o Brasil, seu chefe falou bem de você.

-Você falou com ele? Ligou para lá só para saber de mim?

-Sim. Entenda, um pai pode ficar desesperado às vezes. Não me leve a mal... Ela é minha única filha.

-Entendo, mas não aceitarei o emprego. Vou conseguir um sozinho e vou me esforçar prometo. Mas se ela recusou sua ajuda, não ia gostar que eu trabalhasse para o senhor.

O velho abaixou a cabeça e suspirou.

-Entendo. –disse enquanto levantava-se para ir embora. – Mas sabe que apartir desse momento, vou cobrá-lo.

13

Não contara à Naomi a visita de seu pai. Aquilo era melhor deixar só para ele, sem que ela se intrometesse. Começou a buscar informações sozinho, usando principalmente a internet, mas vez ou outra tentava decifrar o que os jornais diziam.

Certa vez, Naomi tivera que ir a um jantar com uns amigos de trabalho. Foi sozinha, embora insistira para Pedro ir junto. Ele negou-se, não queria constranger sua mulher. A língua ainda era um problema para ele, e se perguntassem para ele, qual era o seu trabalhos, o que iria dizer? No dia seguinte avisou ela de que estava procurando um emprego.

Arranjou um emprego em uma agencia de turismo. Não ganhava muito, mas era um trabalho simples. Como dominava bem o Inglês, era encarregado de organizar as viagens para os países como Inglaterra, EUA e Canadá. Organizava as viagens, reservava passagens, e corria atrás de hotéis. Vivia ao lado de um telefone.

Naomi havia ficado preocupada naquele dia. Sabia que as vezes, seu namorado( assim o chamava perante os amigos) saia de manhã para correr e às vezes trazia algumas frutas.

Ele chegou de táxi com um sorriso no rosto. Antes que Naomi pergunta-se aonde ele estava, Pedro a abraçou e beijo a ponta de seu nariz.

-Consegui um emprego. –Disse contentíssimo.

Naomi que vestia um curtíssimo short jeans e uma baby look branca pulou sobre ele, agarrando seu pescoço. Pedro a colocou sentada sobre a mesa e começou a contar como conseguira.

14

Um mês após Pedro conseguir o emprego, Naomi chegou em casa transtornada. Seus glóbulos oculares estavam vermelhos, como sempre ficavam quando ela chorava excessivamente. Pedro havia acabado de chegar e estava preparando a sua janta.

-Oi amor. – Falou, assim que ouviu a porta bater. Naomi não respondeu. Olhou para ele com aquele olhar de choro, virou o rosto e foi para o quarto.

Sentiu-se mal. O que foi que acontecera agora? Ela brigara novamente com seu pai? Se fosse isso, ele iria ligar para ele e tirar as devidas satisfações. Ninguém fazia a sua garota chorar.

- O que aconteceu, amor? – Perguntou.

Naomi assustou-se. Havia uma grande marca de arranhão que ia do seu pescoço até seu seio esquerdo.

-Quem fez isso? – Disse Pedro, perplexo.

-Não foi nada. – Naomi agora tratou de colocar a blusa rapidamente e começou a pentear seus cabelos em frente ao espelho.

- O que aconteceu? Pode contar pra mim...- Quando terminou a frase, Naomi jogou-se aos seus braços agarrou com força em seus pescoço e começou a chorar. Explicou a ele, em meio a soluços, que quase fora abusada por seu chefe. Ela havia gritado e gritado, até que após dar um tapa em sua face, conseguiu se desvencilhar e sair correndo de lá.

-Não vou deixar assim. Ninguém mexe com você e...

-Psiu. –Ela tocou-lhe os lábios num beijo frio. – Eu me demiti. Não verei mais ele, deixa pra lá.

Pedro insistiu nos dois dias seguintes, mas ela continuava indo contra o desejo dele. Por fim, desistiu. Talvez fosse melhor não fazê-la ter de olhar para aquele imbecil outra vez. Naquele dia, parecia que ela havia perdido uma parte de sua luz. Ela se tornara uma mulher cada vez mais séria, não era mais brincalhona como anteriormente, seu sorriso parecia não ter vida e quanto se amavam, ele sentia estar tocando um corpo frio.

15

Naomi estava morrendo. Ou assim parecia. Em poucos dias, envelhecera dez anos e agora não saia mais de casa. Passava o dia deitada ou sentada na varanda. As noite em que tocava aquele esbelto corpo foi diminuindo, e quando viu, eles mal se beijavam.

Pensou em voltar ao Brasil. Uma, duas, três vezes, mas acabou desistindo. O pai de Naomi os visitara no final de semana, e embora disfarçassem, ele notou que havia algo de errado. Não disse explicitamente, mas deu a entender que culpava Pedro.

Exatamente duas semanas depois, Pedro ligou para seu sogro e perguntou sobre aquele emprego, vindo a trabalhar nele dias depois. A rotina era cansativa, mas valia a pena. Agora ele podia sustentar aos dois e Naomi não precisaria se martirizar por não ter condições de achar outro emprego.

16

Naomi piorava, ao menos era o que parecia para Pedro. Ele a via quase raramente. Acordava cedo para o trabalho voltava só a noite. Com esses novos hábitos de Naomi, ela normalmente já estava deitada quando chegava. Ele comia alguma coisa e deitava ao seu lado.

Havia passado três meses desde o incidente com o chefe de Naomi. Aquele cara, sr. Bushido havia sido preso por assédio, acusado por umas de suas ex-funcionárias. Quando mostrou o jornal para ela, ela sorriu,um sorriso sincero que a muito tempo não demonstrava.

Naquela tarde fria, Pedro recebeu um telefonema do hospital, avisando-lhe que Naomi estava internada. Era o primeiro a saber e portanto, tratou logo de ligar para seu sogro.

-Termine ai, eu vou para lá. Não pode deixar os clientes na mão. - Disse o pai de Naomi ao telefone.

Sentiu raiva, mas concordou. A meia-noite conseguiu ir ao hospital.

17

-Sente-se. –Pediu o médico.

-Ela está bem, insistiu.

-Irá ficar. Só que...

Estava ansioso para saber qual era o assunto. Ia ter alguma sequela? Ela perderia a memória, ficaria com alguma coisa que parecesse Mal de Alzheimer ou algo do tipo?

-Ela perdeu o bebê. –O médio colocou suas mãos sobre o ombro de Pedro,que estava perplexo.

-bebê...Ela não me disse... –Ficou pálido. Como não notara isso antes? Porque ela não havia lhe dito antes.

O médico levou Pedro até o quarto onde ela estava. Um quarto simples, tinha um vaso de com flores sobre uma cômoda ao lado da cama e um quadro na parede.

Naomi estava deitada na cama, dormindo. Vestia uma daquelas roupas de hospital, e embora sua face estava pálida, parecia muito melhor o que quando estava em casa.

- Quando ela pode ter alta?

-Daqui uns quatro dias.

18

-Alô.

-Senhor Bittencourt?

-Sou eu? Inspetor Mizaki? É você? –questionou Pedro, ficando levemente interessado na conversa.

-Sim sou eu.

-Vocês a acharam? Sabem onde ela está? – Sua voz demonstrava angustia. Fazia três dias que não tinha noticias de Naomi.

- Pedro. Por favor, acalme-se. Descobrimos que ela alugou um carro, por isso que não conseguíamos localizá-la. Como você falou, se ela não tinha muito dinheiro, não conseguiria ir muito longe sem usar cartões de crédito.

-Entendo. Só quero saber que ela está bem, que não fez nada de errado.

- Entendo. Procure descansar, entramos em contato assim que puder.

Deitou-se na cama, deixando o celular sobre o bidê. Como fora tão insensível? Naquele dia em que voltou do hospital ao lado de Naomi, saira para ir ao trabalho. É culpa de Myamoto. Lembrou-se quando Naomi comentou sobre seu ex- noivo que trabalhava para seu pai. Segunda ela, assim que começou a trabalhar para seu pai, ele simplesmente mudara. Nunca tinha tempo para ficarem junto, tornara-se até um pouco arrogante. Não era assim que Pedro estava ficando? Achava que sim.

Acordara no dia seguinte com seu telefone tocando. Reconheceu o número, era o inspetor.

-Como ela esta? – Questionou, assim que atendeu o telefone.

-Pedro...- a voz de Mizaki era triste, ele sabia que ele tinha uma notícia triste para comunicar. Ficou perplexo, sentiu seu coração bater mais forte, e de repente parecia que tudo ao seu redor havia parado.

-Achamos o carro. Mas...

-Ela está bem? – Seu tom mudara, não era de alguém que havia levado um choque, mas de alguém que estava hipnotizado. Uma voz profunda e distante.

-Achamos só o carro, sem vestígios dela.

-Então ela pode estar viva? –Perguntou a mesma voz.

-Sim. Mas...achamos o carro em Aokigahara.

FIM DA PRIMEIRA PARTE.

Aokigahara

1

Passou a noite procurando informações a respeito daquele lugar. A princípio, parecia história de filmes ou livros de Stephen King. Uma floresta de suicídios, onde inúmeras pessoas iam para se enforcarem nas arvores. Não, parecia surreal demais. Mas era verdade. Havia inúmeras fotos de pessoas que se enforcaram naquelas arvores, cartões de despedidas. Um ótimo lugar para “stalkers”. Nas fotos, além da densa floresta e dos corpos pendurados sobre as árvores, podia ver os rastros deixado pelas pessoas que por ali passaram: Revistas, mangás, telefones, espelhos. Segundo a página que havia acessado, em boa parte da floresta haviam fitas que eram usadas pelas pessoas para achar os corpos dos suicidas, e que dificilmente se chega ao final delas sem encontrar algum corpo ou vestígio de que alguém se enforcara por ali.

Quando desligou o computador e se jogou para trás deixando sua cadeira girar através do eixo, Pedro começou a ficar mais nervoso. Será o suicido o final que Naomi quisera para sua vida? Apagar todos aqueles momentos lindos que tiveram? Será que ela realmente poderia simplesmente esquecer aquilo que passaram juntos? Não. Ela não iria esquecer. Talvez aquilo fosse culpa dele. Apagou a luz e foi deitar-se.

Demorou a dormir. Sentia a cama vazia, um frio entrando pela janela que o obrigou a colocar mais uma coberta. Naquela noite, sonhara com Naomi.

2

Estacionou o carro numa das vagas perto da entrada da floresta. Haviam vários outros carros estacionados, assim como algumas pessoas circulando por lá. Pensou que uma dessas pessoas sorridentes, poderia muito bem estar carregando uma corda em sua mochila, para que assim que entrasse na floresta e a colocassem em volta do pescoço para pular de uma das árvores.

Levava consigo uma única mochila para carregar nas costa. Colocou nela algumas comidas, garrafas com água além de outros itens como um mapa e um GPS.

Perto da entrada, havia um carro estacionado. Estava sujo, e a julgar pela poeira, deveria estar ali há vários dias. Será que o dono cometeu suicido? Essa ideia o arrepiou. Imaginou-se dentro da floresta encontrando um corpo e com ele a chave do carro. Isso pareceu tão surreal, pensou.

A primeira vista a floresta era linda. Tinha belas árvores, todas altas e tinham um semblante de serem velhas. Quando olhava-se para o horizonte, dava se a impressão que tinha uma infinidade de árvores que não acabavam mais. Os raios solares, eram bloqueados pelas árvores que fazia com que certos pontos parecessem receber um feixe de luz vindo do céu, um verdadeiro holofote sobre aquele chão úmido e cheio de folhas caídas.

A entrada para a floresta não era nada mais do que uma trilha segura, que garantiria que quem a seguisse, soubesse como voltar depois. A sua frente, ia um jovem casal de japoneses que a julgar pelos sorriso em sua face, resolveram passar um tempo juntos naquele mórbido lugar. Além do casal, havia um jovem que não parava de tirar fotos daquela floresta. Era loiro, com cabelos compridos e uma face de Ocidental.

-Hey, moço? – Perguntou aquele homem, com um sotaque inglês.

-Sim? –Respondeu Pedro, sendo surpreendido por ele.

-Pode tirar uma foto minha? –Com um sorriso no rosto, entregou a câmera a ele.

-Ok. –Segurou a câmera e tirou uma foto, devolvendo-a ao rapaz.

- Sou Dennis. Posso lhe fazer uma pergunta? – Disse enquanto mexia em sua câmera, provavelmente para olhar sua foto.

-Claro.

-Porque você está aqui? Não me diga que está querendo...

Pedro surpreendeu-se com a resposta. Parou por uns instantes, e decidiu que não deveria falar a verdade, pra evitar qualquer problema. Afinal se falasse que era sua noiva ou namorada quem ele procurava, Dennis poderia achar que ele iria cometer suicídio.

-Procuro minha irmã. Ela veio pra cá. Minha mãe... Ela não acha certo deixar o corpo dela simplesmente aqui.

-Entendo. – Disse Dennis. Sua face adquirira uma expressão de dúvida, parecia não acreditar nas palavras de Pedro, mas por fim acabou cedendo.

-Eu acabei de ver um homem. Ele carregava uma grande mochila, uma barraca talvez. Amarrou uma fita e foi...Não sei o que fazer.

-Deve ter um policial por aqui. Avise-o, fora isso não tem muito o que fazer. Se eu ver alguém assim, tentarei convencê-lo a voltar.

-Ok...Farei isso. Cuide-se cara. Espero que ache sua irmã.

-Não sei se realmente quero achá-la.

Dennis fez uma careta, e passou a mão pelo rosto.

-Siga uma fita se ficar perdido. –Disse por último.

-Não tem problema. Estou trazendo meu GPS. É feito pra caças, não deve haver problema.

2

Após alguns minutos de caminhada, Pedro se deparou com várias placas para os possíveis suicidas. “Por favor, reconsidere” era uma das que mais encontrava ao longo do caminho. Não tinha rumo, apenas foi seguindo a trilha. Aos poucos, fora entendendo o porque daquela floresta ser tão assustadora. Na entrada, haviam várias pessoas caminhando ao seu redor e agora parecia estar sozinho.

Parou em frente a uma placa que dizia “Não ultrapasse”. Pegou o GPS e marcou aquela localização como ponto inicial. Nenhum suicida iria colocar uma corda no no pescoço e tentar se enforcar num que era visitado por várias pessoas. O melhor a se fazer, era escolher um ponto e ir em linha reta e depois ir contornando a região.

Passou sobre a corrente que segura a placa de “Não ultrapasse” e seguiu pela pequena trilha. Ao seu redor, havia inúmeras fitas, das mais diversas cores, azul,vermelho, amarelo,laranja.

Parou para beber um pouco de água enquanto pensava por onde seguir. O caminho era perigoso e muito irregular. A princípio, teria de descer um pequeno barranco e isso o preocupava. Se o caminho fosse todo assim, tinha muitas chances dele torcer o pé em alguma raiz de arvore e seria difícil dele conseguir voltar.

Olhou o caminho e decidiu seguir a fita vermelha.

Aquilo que leu a espeito do silêncio perturbador era verdade. Após 10 minutos de caminhada, não ouvia mais nada além do barulho dos insetos, o vento sobre as árvores, e o barulho dos gravetos quebrados pelos seus pés conforme ia caminhando.

Enquanto parou para recuperar o fogo, analisou qual seria o melhor caminho a se seguir. Haviam tantas fitas que pareciam surgir e terminar no nada. Exceto uma. Colocou a mão sobre ela e decidiu segui-la. Ela estava amarrada em uma grande arvore a sua frente, arvore a qual era tão alta, que mal podia se ver o topo. Pensou no que poderia encontrar no final. Talvez um esqueleto, ou um cadáver ainda intacto, preso por uma corda a alguma árvore. Suava frio. Caminhou devagar e ao chegar na arvore, olhou com cuidado a região a sua frente que era iluminada coma claridade provinda do sol. Lembrou-se das imagens do filme Senhor dos Anéis que eram tão belas quanto aquela floresta quanto aquela floresta.

Quando virou-se para trás, afim de voltar por onde veio, Pedro assustou-se. Suas pernas vacilaram e ele caiu no cão. Bem a sua frente, havia um homem enforcado na arvore. Sobre o chão, havia uma pequena vela que ainda se mantivera acesa ao lado e uma carta.

Bebeu água e após vacilar por alguns segundos, pegou aquela carta.

“Estraguei tudo.

Perdi meu emprego, minha mulher e meu filho.

Espero que a morte me traga o conforto capaz de acalmar meu espirito.”

Aquele bilhete o assustou. De certa forma, Pedro também havia perdido sua mulher e seu filho e achava que tinha culpa por isso.

Não conseguiu deixar o corpo daquela maneira. Pegou uma de suas facas e cortou a corda.

3

Enquanto caminhava, começava a pensar se o correto não seria voltar para casa. A ideia de que Naomi estava morta voltava frequentemente a sua cabeça, e cada vez parecia mais sensata. Teve vontade de gritar, sair correndo. Queria morrer, era isso que começava a desejar.

Caminhou depressa e sem rumo, queria apenas afastar aquela ideia de sua cabeça. Será que era esse o perigo daquela floresta? Deixar as pessoas loucas? Quando se deu conta estava correndo em meio a floresta. Sua cabeça girava para todos os lados e a única coisa que via era aquelas altas árvores e a sensação de desespero, de solidão.

Tropeçou. Sentiu gotículas de água caírem sobre sua face. Abriu os olhos lentamente. Suas costas doíam e sua cabeça latejava mais ainda. O tempo havia se fechado, quando olhou para o céu não enxergou um céu azul por entre as folhas e sim um cinza escuro que parecia pura fumaça.

Levantou-se com as mãos a cabeça e o que viu a sua frente lhe chamou atenção. Havia um boneco virado de cabeça para baixo, vestindo um sobre tudo preto e com pregos onde seriam seus braços. Um espantalho.

Olhou ao seu redor e pode ver da onde ele havia caído. Havia tropeçado em um pequeno morro e acabou rolando para uma trilha que havia logo abaixo. A trilha tinha marcas de pegadas, o que o deixou aliviado. Alguém devia ter passado por ali a pouco tempo.

Seguiu as pegadas lentamente. Avia feito um corte em sua perna e ela doía cada vez que ele a firmasse sobre o chão.

-Idiota. – Falou sozinho, enquanto lembrava-se que havia se repreendido várias vezes a respeito dos perigos daquele lugar.

Ao que tudo indicava que seria o final das pegadas, Pedro avistou uma barraca amarela interrompendo a trilha.

-Alguém ai ? – Perguntou em voz alta.

Não obteve resposta. Era apenas aquele barulho provindo dos insetos e da água batendo contra as copas das árvores.

-Tem alguém na barraca? –Tornou a repetir. Estava com medo, sua voz parecia falhar. Cruzou os dedos torcendo para que tivesse alguém ali. A ideia de que ficaria sozinho ali, com o pé machucado e que ninguém o viria socorrer o estava deixando louco.

4

Colocou a mão sobre o fecho da barraca e o abriu rapidamente. Ninguém. Havia algumas mochilas e pertences jogados pela barraca.

A chuva começava a tornar-se forte e Pedro viu-se obrigado a entrar na barraca para escapar dela.

A chuva aumentara, e o céu fechara-se de vez. Pelo horário de seu relógio, não passava das quatro horas da tarde, mas o tempo mudara tão repentinamente que dava a impressão de que o relógio estava atrasado quatro horas.

O lugar era confortável e havia várias cobertas e revista para ele ler. Acendeu a lamparina que estava presa sobre o teto e começou a folhar os materiais que estavam ali.

As revistas eram velhas, de meses e até anos atrás e a comida que havia ali estava vencida. Havia também alguns mangás e após revirar uma das mochilas, achou um álbum de fotos. A princípio, teve receio de folhar aquele álbum, mas cedeu ao impulso( provavelmente por seu inconsciente ter certeza que o dono não iria se importar, a final, devia estar morto) e o folhou. Havia várias fotos de um rapaz, uns 25 anos e sua namorada. Mostrava vários momentos do casal, como se aquele álbum contasse sua história: namoro, noivado, casamento e...morte. Tinha uma leve impressão que após virar as páginas da lua de mel, iria encontrar imagens de seus cadáveres. Largou o álbum no chão e as páginas viraram-se sozinhas. Nada de mortes, apenas espaços vazios.

Retirou olhou para sua perna e com uma toalha que havia achado adentro da barraca, limpou o sangue de sua perna machucada. Nada muito feio, concluiu.

Deitou-se nela e fechou os olhos. Enquanto chovia só lhe restava descansar ali mesmo.

5

Acordou com barulho de passos. Estava assustado, seu coração parecia querer saltar de seu peito. Os sons pareciam cada vez mais perto, o fazendo imaginar o que viria a acontecer: Logo sombras passariam pelo lado de fora de sua barraca depois o fecho começaria a abrir. Tomou coragem, iria sair lá fora. Tateou sua mochila e retirou uma de suas lanternas.

-Quem esta ai? –Gritou no momento que saiu da barraca. Olhou para todos os lados, mas não via ninguém, apenas ouvia aquele barulho.

-Desculpa por pegar a sua barraca.- Disse em seguida, dando um sorriso nervoso para o nada. –Eu não tinha aonde ficar nessa chuva.

O barulho passou.

-Pedro. –Disse uma voz que atrás dele. Virou-se rapidamente e pode enxergar vários olhos brilhando em meio a escuridão. Após um raio deixar o local claro por alguns segundos, Pedro pode ver que aqueles olhos vinham de pessoas enforcadas nas árvores. Eram idênticas. Mulheres de cabelo longo, negro, vestindo roupa preta e olhando diretamente para ele. Todas elas gritavam seu nome, com a boca podre, dentes cariados e marcas de sangue sobe seu rosto. “Você sabe o que tem de fazer” elas diziam, com uma sincronia labial fantástica.

Ele correu o máximo que pode. Sentia dor, sua lanterna balançava para todos os lados e ele escapou de cair duas vezes. A floresta inteira era formada por aqueles rostos, que pareciam o seguir por onde ele fosse.

Uma mão tocou lhe o ombro. Ele olhou para trás e viu uma daquelas figuras atrás dele. Seu rosto estava desfigurado, Seus olhos eram vermelhos e voltavam-se para os olhos de Pedro.

Foi como se ele tivesse enxergado o caminho que deveria seguir. Teve uma visão daquele caminho até o seu fim, passava por várias árvores marcadas com kanjis e terminou próximo a uma gruta.

De repente as íris dos olhos vermelhos voltaram-se para cima, como acontece com uma pessoa quando é enforcada. Seu rosto começou a mudar e receber feições mais humanas. Por fim, ele obteve a fisionomia de Naomi e disse:

-Ele tentou me violentar Pedro, e eu...eu estava gravida.

-Não tive culpa. –Gritou Pedro, enquanto retomava o ritmo da corrida.

-TEVE SIM! A CULPA É SUA! – a voz mudara de tom, tornara-se mais aguda e amedrontadora. Pedro corria.

Sua perna enroscara em um galho. Bateu sua cabeça contra o chão, provocando um grande corte sobre sua sobrancelha.

6

- O senhor está bem? – Questionava uma voz que vinha de frente a barraca. Era um homem pequeno de meia idade que estava do lado de fora da barraca.

-Estou. – Respondeu Pedro, levando a mão a sua cabeça que latejava sem parar.

-O que você faz aqui? Esse lugar não é próprio para acampar.

-Estava chovendo... Apenas entrei nessa barraca e acabei dormindo.

O homem pareceu não acreditar nas palavras de Pedro, olhava-o com um olhar desconfiado.

-O senhor pode sair aqui fora um pouco?

-Claro. – respondeu Pedro, saindo da barraca. Ao lado da barraca, havia um outro homem, que pela roupa que usava deveria ser um guarda florestal.

- O Senhor não é daqui né?

-Não. Sou do Brasil, estou aqui a passeio.

-hmm. Devia cuidar desse machucado, precisa fazer uns pontos. – Pedro colocou a mão sobre a testa, e um pequeno filete de sangue manchou sua mão. Ficou pálido. Isso mostrava que aquilo que parecia ter sido apenas um sonho, na verdade acontecer de verdade.

Os dois homens se olharam e então voltaram-se ambos para Pedro.

-Então não tem problema se o senhor vir com nós, certo?

Pedro vacilou. O homem que parecia um guarda florestal foi atrás de Pedro, para garantir que ele não viesse a fugir.

-Um instante, deixa eu pegar minha mochila. – Estava decidido. Não iria voltar com eles. Não conseguiria viver com a dúvida, precisava saber o que acontecera com Naomi e sentia que iria conseguir a resposta que queria.

Pegou a mochila e antes que pudessem dizer qualquer coisa, Pedro saiu correndo seguindo a trilha. O homem que estava atrás dele, tentou segurá-lo, mas a única coisa que conseguiu, foi pegar a mochila dele.

Pedro correu como nunca e só parou após ter certeza de que não estava sendo seguido. Estava completamente perdido. A floresta estava completamente densa e embora fosse plena manhã, parecia que a noite estava caindo sobre aquela região. O vento frio soprava por entre as árvores, e Pedro chegou ao final da trilha.

Não tinha nada à sua frente à não ser árvores que de tão próximas encerravam a trilha e impediam que Pedro as ultrapassasse. Ele ajoelhou-se e começou a chorar.

7

Alguns minutos depois, sentiu a mesma sensação de aproximação que sentira na noite passada.

-O que vocês querem? – Começou a dizer baixinho e repetiu essa frase até explodir em um enorme grito. Foi ai que ele começou a ouvir vozes. Eram várias vozes ao mesmo tempo e eles vinham de todos os lados. Ficou de pé e olhou para todos os lados, enquanto gritava.

Do meio da floresta, uma criança vinha até Pedro e segurou sua mão. A criança tinha em torno de cinco anos e aparentava ter um brilho único.

Pedro segurou a mão da criança e deixou-se se guiado pela garota. A última coisa que notara era que não existia mais fitas ao seu redor. Seja aonde estivesse, não deveria ter volta. Aos poucos aqueles olhos continuavam a fitá-lo, mas pareciam ter receio de se aproximar dele. A criança o levou até uma arvore onde havia um corpo enforcado. Era o de Naomi.

Pedro soltou a mão da criança e aproximou-se do corpo de Naomi, retirando o corpo da forca. O corpo estava gélido, e em volta do pescoço de Naomi havia uma marca roxa indicando onde a corda estava.

-Naomi... Desculpa. – Ele a beijou e a abraçou fortemente. Chorava como uma criança enquanto falava com ela esperando uma resposta.

A criança agora adquiria traços mais femininos e tinha um sorriso meigo em seu rosto. Ela aproximou-se e beijou a face de Naomi e em seguida, tirou as lágrimas do rosto de Pedro.

Ao lado da garota, havia agora vários espíritos como aqueles que ele viu noite passada. Faziam um círculo em volta de Pedro. A garota sorriu para Pedro e segurou sua mão mais uma vez. Pedro sentiu-se em paz, abaixou-se e beijou a testa da garota.

- Obrigado. –Disse por fim, enquanto colocava a força em volta de seu próprio pescoço.

Dionatan Cordova
Enviado por Dionatan Cordova em 27/02/2011
Código do texto: T2817248
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