Pena de Morte – Capítulo I – O condenado

- Me dêem licença, por favor. Detetive Mara passando. Mara era uma detetive do gelo. Não uma detetive comum. A primeira do colégio militar em vinte e duas das vinte e oito disciplinas estudadas. Um fenômeno a parte e isso não era tudo...

Ela estava de terno policial, colete, e óculos escuros, tinha 34 anos, era morena e um metro e oitenta de altura.

- A quanto tempo ele estava fora? Ela perguntou olhando para o corpo a sua frente. Um corpo preso a uma espécie de roda de madeira. Ele estava quase nu, apenas um pano cobria suas partes intimas. Um martelo caído ao seu lado. Não haviam fraturas expostas, seus pés e mãos estavam firmemente amarrados a roda de madeira, manchas roxas pelas suas pernas e braços, os seus membros enrolados na roda que estava erguida horizontalmente numa estaca. Mara colocou a mão sobre os olhos daquele homem. Os olhos dela se reviraram, e de um esverdeado lindo se perderam em um branco assombroso. As imagens invadindo sua mente. O rosto do assassino. O martelo tocando a pele da vitima que não podia gritar por estar amordaçada. O quebrar dos ossos, a perícia do executor era algo doentio e ao mesmo tempo surreal, incrivelmente a força dos golpes era meticulosamente correta , a pele não se rasgava, mas a dor era clara nos olhos do agredido, ele tentava se levantar a cada golpe curvando-se, contorcendo-se, o assassino sorria para ele, não havia como fugir, o assassino aplaudia a si mesmo a cada martelada. Bravo! Sem uma gota de sangue! Aplausos para o carrasco! Era como se estivesse na época medieval, na própria Holanda cercado por toda uma platéia. Por fim após quebrar todos os membros do violentado ele os enrolou na roda e se sentou a um metro dele e ficou ali assistindo-o agonizar, as lágrimas escorrendo pela face daquele homem, gritos contidos por um pedaço de pano se tornavam apenas gemidos, sussuros de um condenado a morte, suspiros que doíam como diversas agulhas penetrando sua epiderme, por fim as costas da vitima se apoiaram na roda por uma última vez e ele se entregou a morte não resistindo mais a tanta dor, uma morte lenta e cruel. O assassino olhou para o corpo. Só posso ser um! Que morra o próximo! Mara despertou de seu transe.

- Deus! Não é possível!

- Ele estava fora á dois dias senhora.

- Dois dias! ...ela ainda estava assustada... E por que não estou sabendo de nada?

- Era apenas um clone... eles bem... são inofensivos.

- Qual sua idade soldado? A voz dela era firme.

- Tenho 20, senhora!

- Você é cientista? O soldado tremia levemente enquanto a voz de Mara chegava a seus ouvidos.

- Não. Não senhora.

- Pois bem! Por acaso acha que alguém inofensivo comete um ato deste?

- Não senhora!

Então vou te dizer uma coisa soldado Carlos, eles não são homens, são máquinas orgânicas criadas com fins farmacêuticos e nada mais, não são amigos! São prisioneiros, mesmo que isso seja em um laboratório. Eu desconheço a origem destas criaturas, pra mim são como os nanoinfectos. E eu sou a superior aqui, e gosto de ter ao meu lado pessoas em que possa confiar. Se um clone foge tenho que saber. Se um civil morre tenho que saber antes disso acontecer. Se um nanoinfecto ataca alguém naquele pequeno intervalo de quatro horas do dia onde o sol perde sua força também tenho que saber!

- Sim senhora.

- Temos um sério problema aqui! Me liguem diretamente com o secretário de defesa Nacional! Disse ela indo em direção ao seu carro.

...

O ano é 2101, um novo Brasil reinava pelas ruas, a maior parte de sua região agora era desabitada, uma nova lei predominava contra o mau, essa lei era a "Pena de Morte", imposta após o Caos do efeito UVA, milhões de pessoas foram tragadas por uma epidemia, isso aconteceu após o protetor solar ser transformado em um novo remédio. Havia sido criado o fator 3000, um protetor em forma de comprimido, desenvolvido através de uma substância anti-oxidante criada em laboratório chamada CENANO que quando ingerida aumentava grandiosamente em minutos a resistência da pele contra o sol, era uma aliança entre as vitaminas C e E com a nova nanotecnologia, diziam ser a cura contra a intensa radiação solar, mas após seis meses de uso os efeitos do remédio afetavam o sistema nervoso das pessoas, que ficavam irreconhecíveis e começavam a atacar umas as outras, esta foi chamada de “A revolução do sol”. Como o efeito UVA não atingia só os seres humanos a fauna e a flora também foram degradadas pelo aquecimento. Grande parte da natureza foi devastada antes que se pudesse fazer algo. A água nas usinas de dessalinização era um dos poucos recursos que restavam visto que a potável havia praticamente se extinguido, restando apenas em alguns pontos desertos do velho Brasil. O presidente Glauco Antônio Araújo, foi o responsável pela volta da pena de morte no Brasil em 2075, mas aquilo era uma solução, os loucos estavam lá fora, foi um extermínio sem proporções, ainda não haviam as salas frias, e o número de infectados era enorme. Por fim a grande maioria foi eliminada pelo exército brasileiro que após isto foi abolido e transformado em soldados do gelo. Restando ainda outra parte de infectados posteriormente chamados de nanoinfectos, os quais se escondiam do sol devido a falta de um protetor eficiente que os protegesse, ele ficavam nos esgotos abaixo das antigas cidades.

Depois de dois anos de isolamento um novo protetor foi criado, sua forma alterada. Para testá-lo eles haviam criado um pequeno número de clones humanos, um ano após o sucesso do novo fator nos clones, chamado posteriormente de fator 3001, a sociedade voltava para as ruas e era o inicio de uma nova vida para todos ou pelo menos era o que parecia...

...

Era uma sala fechada, o suor descendo pelo rosto do homem sentado na cama, seus olhos fixos nas cadeiras vazias a sua frente, um policial perfeitamente alinhado explicava a situação que ali se encontrava.

Penitenciária Nova Bangu... Execução nº. 40.353.

Meu nome é João Carlos Silva, sou agente penitenciário da Nova Bangu, penitenciária intermediária introduzida no ano de 2066 com o dever de alojar os mais perigosos presos do Brasil para que os mesmos realizem aqui suas passagens. Estamos hoje nesta sala exercendo o dever de cidadãos zelosos pelo bem estar geral da nova sociedade para realizarmos a execução de um dos mais perigosos assassinos dos últimos 100 anos. Responsável por 26 mortes, de forma que todas foram premeditadas. O prisioneiro Daniel de Paiva Lima, idade ficticia, 40 anos, idade correta 66 anos, também conhecido como "Assassino Capital", foi sentenciado à 60 anos em completo isolamento na cápsula de solitária Nanomera, sem direito ao envelhecimento graças a tecnologia que evoluiu a enzima telomerase, unindo-a com a nova nanotecnologia paralisando o envelhecimento das pessoas enquanto estiverem dentro da Nanomera em situação de coma induzido e sendo alimentado por sonda durante este período, privando-se é claro de todos seus direitos de cidadão. Mas devido ao seu julgamento ter sido antecipado e sendo decretada a pena de morte sua execução começa em 10 minutos...

... enquanto isso...

Um V8 preto modelo aerodinâmico piscava suas sirenes e planava à metros da portaria principal da Nova Bangu. Uma soldado trajada de colete balístico especial feito de Kevlar associado a uma nova tecnologia nano descia apressada.

- Abram os portões!!! Tenente investigativa Mara Torres! Saiam da minha frente! Dizia ela apresentando um documento em suas mãos.

- Uma Telepática? Disse o policial olhando para os olhos parados da mulher a sua frente.

- Clarividente amigo! Telepática... intuitiva e autoritária! Saia logo ou perderá seu emprego seu imbecil!

- Pode entrar!

- Onde ele está?

- Câmara de execução.

- Ligue e encerre a execução agora!

- Impossível! Não há telefones na sala!

- Então deixe comigo! Onde fica?

...

- O preso quer dizer algo? Disse o agente penitenciário.

- Vocês por acaso acreditariam em mim?

- Vai dizer que é inocente?

- Não! Apenas que vocês é que são os culpados! Aqueles homens mereciam morrer! E matei cada um deles!

- Liberando o gelo gás. Em segundos a sala se encheu de uma fumaça branca. Do lado de fora do vidro, vários homens de terno e alguns policiais. Dentro da sala apenas o agente Silva que trajava uma roupa especial e o condenado.

- Preparar injeções de nanomorfina, adrenalina e nanoanestesia! Quatro injeções saíram do teto guiadas por braços mecânicos.

- Senhor Daniel, esteja ciente de que este é o processo mais indolor pelo qual o senhor poderia passar, algo que eu pessoalmente não concordo que mereça.

- É claro! Dizia o condenado já com dificuldade de respirar pelo gás gelado que deixava seu corpo completamente dormente.

- Você entrará em estado de hipotermia, serão feitas algumas remoções de órgãos, após sua execução. O senhor estará contribuindo para salvar vidas. O oposto do que fez enquanto era livre. O novo estado tem todo direito de fazer qualquer experimento com as partes restantes de seu corpo.Ok.

- Vão me cortar é? Dizia Daniel.

- Espero sinceramente que te mutilem completamente!

- Por que tanto ódio?

- Não é ódio! Chama-se Justiça!

...

Mara seguia desesperada, suas mãos tocavam as paredes, era uma base debaixo do subsolo, todo o novo Bangu era assim. Um soldado a conduzia.

- Como a senhora consegue andar tão rápido? Não tropeçar?

- Quando a gente perde um sentido, outros se aguçam muito mais. Soldado Jonathan. Estamos chegando?

- Sim, estamos quase lá!

...

- Justiça... Ah sim... estou pagando um preço justo por isso. É uma palavra forte. Um senso extraordinário. As injeções perfuraram suas veias. Todas as quatro, duas de nanomorfina, uma de adrenalina, e uma de nanoanestesia.

- Você terá direito a ver sua própria morte, e nem sentirá dor.

- Que bom! Essa notícia era pra que eu ficasse feliz?

- Faremos tudo direitinho! A ultima coisa que queremos é te matar!

- Antes querem tirar meus órgãos. Daniel sorriu.

- Alguns deles! Seu coração prefiro dar aos nanoinfectos.

- Começar remoção de órgãos em 5 segundos! Foi um desprazer te conhecer Daniel.

...

- Droga! Estamos ou não chegando!

- Estamos sim senhora. Próxima porta a esquerda.

...

- 5...4... Os olhos dos espectadores estavam ansiosos pelo desfecho. Os quatro braços mecânicos saíram novamente com equipamentos necessários para remoção dos órgãos.

- 3...

- Parem!!! Gritou Mara entrando subitamente na sala. É uma ordem do presidente! Soltem este homem agora! Disse ela erguendo o papel na sua mão.

...

- Não! Disse João enfrentando-a. Este homem vai morrer hoje!

- Hoje não agente Silva! Disse ela apontando sua arma para ele. Interrompa a execução! Daniel virou seu pescoço devagar e olhou para ela naquele momento, seus olhos esverdeados estavam parados.

- Ela é cega? Estou perplexo!

- Bela observação meu novo parceiro! Disse ela. Você vem comigo!

Continua...

"A Roda" era um meio de execução medieval utilizado na Europa do século XVI. Haviam dois tipos de roda, no outro tipo ela estava cheia de pregos e o condenado era mutilado por eles.

Leiam também O Jogo da Forca...

Um forte abraço e fiquem com Deus!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 21/02/2011
Reeditado em 21/02/2011
Código do texto: T2805580
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