A vendedora de pastel
Ao longo das ruas daquela pequena cidade todos conheciam Dolores, a vendedora de pastel.
Em seus sessenta e poucos anos, poucos foram os dias em que não foi vista nas ruas, com sua enorme cesta, vendendo seus famosos pastéis, feitos com carne, colorau para dar cor a carne e cheiro verde, na verdade um achado para Dolores, que com esta atividade comprara pelo menos 4 lotes ao lado de sua casa.
O casarão de Dolores era a solitária residência, na ultima quadra ja aproximando-se da rodovia, à sombra das montanhas nevadas ao longe.
Era antigo, com a madeira escurecida pelo tempo, e depois que seu marido faleceu a 20 anos, com um terreno que raramente era limpo, onde o mato tomava conta, e permanecia longos dias com as janelas cerradas, apenas vez ou outra eram vistas as janelas laterais abertas.
A ultima vez que foram vistas pessoas aproximarem-se do casarão, e até entrando foi exatamente a 15 anos, quando ela comprou um grande freezer e vieram lhe entregar, exatamente para conservar a carne para os deliciosos pastéis.
Usava uma espécie de lenço que pouco mostrava de seu rosto, e todos a conheciam pela voz angelical ao oferecer seus pastéis, os quais todos compravam, no começo por pena dela e seu infortúnio, mas depois pela deliciosa descoberta.
Era uma mulher de poucas palavras, pouco se sabia de sua vida, aqueles que conviveram com ela quando crianças já haviam morrido e os mais jovens desconheciam a sua procedência, devido ao comportamento recluso.
Dolores na verdade era bem mais velha fisicamente que seus quase setenta anos, e este envelhecimento rápido deu-se com a razão da morte de seu marido, por causa de brigas por terras, exatamente aquelas que ela havia comprado dos filhos dos antigos inimigos de seu marido, ja falecidos também.
Havia ficado uma mágoa no coração de Dolores, e se devia a isso a sua luta pra comprar tudo em volta de seu casarão e que já havia decidido; deixaria tudo para a igreja em seu testamento.
Naqueles anos difíceis em que tinha grandes inimigos, metade da cidade a odiava e a seu marido, esta era a motivação da mágoa, que carregara por toda a vida, apesar de anos após o extinto ter partido, ter mudado o tratamento que davam a ela, talvez por piedade.
Numa tarde enquanto vendia seus pastéis, Dolores teve um fulminante ataque cardíaco, e faleceu instantaneamente.
Já no IML, o corpo foi preparado, todo o funeral seria pago pela igreja que uma semana antes havia ganhado em testamento todos os bens deixados pela morta.
Em seus bolsos acharam a chave do casarão.
O cortejo seguiu pela rua, sob uma leve neblina no começo da noite, e aberto o portão do casarão, a chave foi introduzida na porta e ali poderia se ver como num espetáculo raro o que Dolores tinha em seu lar.
A imensa sala, com um antigo candelabro de bronze oxidado, pendia meia dúzia de pingentes e uma pálida luz ao meio, nos cantos, 3 sofás carcomidos pelo tempo, e no ar um terrível cheiro de mofo.
Arrumaram os pedestais ali mesmo na sala, onde depositaram o caixão para o velório, seria uma longa noite de visitas ao corpo.
Uma escada levava ao sótão onde ficavam os quartos, com seus corrimãos pontilhados de buracos de cupins, nada havia para que as pessoas fossem ao andar de cima, o padre, representante da igreja já estava no local para tomar posse e proteger o imóvel.
Ele mesmo, com um enorme molho de chaves balançando, foi vistoriar tudo, passou pela despensa, abriu um acesso ao porão, já lá embaixo sentiu um leve cheiro putrefato de carne podre, mas atribuiu a ratos mortos o cheiro e voltou, fechando o porão.
Na cozinha, observou o fogão, a velha máquina de moer carne, e o freezer horizontal. Abriu-o e revirou a carne congelada, tentando imaginar que pedaços eram aqueles, e balbuciou...
____Humm, coxão mole, patinho, pedaço de costela, muito bom.
Observou ele, mesmo a carne estando sob grossa camada de gelo.
O velório transcorreu sem percalços, e no outro dia depois do enterro somente uma pessoa permaneceu ao lado do tumulo de Dolores e entre triste e aliviado, o coveiro conversou com seus botões...:
____ Pois é Dona Dolores, agora que a senhora se foi e não deixou a formula de seus pastéis, não vai ter mais pra quem eu entregar a carne nas madrugadas...
____ Se bem que a ultima entrega, os filezinhos do compadre Manduca, a senhora não me pagou não é? Heheheheheheh, mas tudo bem madame, pode dormi em paz...! Mas saiba que nunca comi os seus pastéis, viu? Heheheheheheheh...
Malgaxe
Ao longo das ruas daquela pequena cidade todos conheciam Dolores, a vendedora de pastel.
Em seus sessenta e poucos anos, poucos foram os dias em que não foi vista nas ruas, com sua enorme cesta, vendendo seus famosos pastéis, feitos com carne, colorau para dar cor a carne e cheiro verde, na verdade um achado para Dolores, que com esta atividade comprara pelo menos 4 lotes ao lado de sua casa.
O casarão de Dolores era a solitária residência, na ultima quadra ja aproximando-se da rodovia, à sombra das montanhas nevadas ao longe.
Era antigo, com a madeira escurecida pelo tempo, e depois que seu marido faleceu a 20 anos, com um terreno que raramente era limpo, onde o mato tomava conta, e permanecia longos dias com as janelas cerradas, apenas vez ou outra eram vistas as janelas laterais abertas.
A ultima vez que foram vistas pessoas aproximarem-se do casarão, e até entrando foi exatamente a 15 anos, quando ela comprou um grande freezer e vieram lhe entregar, exatamente para conservar a carne para os deliciosos pastéis.
Usava uma espécie de lenço que pouco mostrava de seu rosto, e todos a conheciam pela voz angelical ao oferecer seus pastéis, os quais todos compravam, no começo por pena dela e seu infortúnio, mas depois pela deliciosa descoberta.
Era uma mulher de poucas palavras, pouco se sabia de sua vida, aqueles que conviveram com ela quando crianças já haviam morrido e os mais jovens desconheciam a sua procedência, devido ao comportamento recluso.
Dolores na verdade era bem mais velha fisicamente que seus quase setenta anos, e este envelhecimento rápido deu-se com a razão da morte de seu marido, por causa de brigas por terras, exatamente aquelas que ela havia comprado dos filhos dos antigos inimigos de seu marido, ja falecidos também.
Havia ficado uma mágoa no coração de Dolores, e se devia a isso a sua luta pra comprar tudo em volta de seu casarão e que já havia decidido; deixaria tudo para a igreja em seu testamento.
Naqueles anos difíceis em que tinha grandes inimigos, metade da cidade a odiava e a seu marido, esta era a motivação da mágoa, que carregara por toda a vida, apesar de anos após o extinto ter partido, ter mudado o tratamento que davam a ela, talvez por piedade.
Numa tarde enquanto vendia seus pastéis, Dolores teve um fulminante ataque cardíaco, e faleceu instantaneamente.
Já no IML, o corpo foi preparado, todo o funeral seria pago pela igreja que uma semana antes havia ganhado em testamento todos os bens deixados pela morta.
Em seus bolsos acharam a chave do casarão.
O cortejo seguiu pela rua, sob uma leve neblina no começo da noite, e aberto o portão do casarão, a chave foi introduzida na porta e ali poderia se ver como num espetáculo raro o que Dolores tinha em seu lar.
A imensa sala, com um antigo candelabro de bronze oxidado, pendia meia dúzia de pingentes e uma pálida luz ao meio, nos cantos, 3 sofás carcomidos pelo tempo, e no ar um terrível cheiro de mofo.
Arrumaram os pedestais ali mesmo na sala, onde depositaram o caixão para o velório, seria uma longa noite de visitas ao corpo.
Uma escada levava ao sótão onde ficavam os quartos, com seus corrimãos pontilhados de buracos de cupins, nada havia para que as pessoas fossem ao andar de cima, o padre, representante da igreja já estava no local para tomar posse e proteger o imóvel.
Ele mesmo, com um enorme molho de chaves balançando, foi vistoriar tudo, passou pela despensa, abriu um acesso ao porão, já lá embaixo sentiu um leve cheiro putrefato de carne podre, mas atribuiu a ratos mortos o cheiro e voltou, fechando o porão.
Na cozinha, observou o fogão, a velha máquina de moer carne, e o freezer horizontal. Abriu-o e revirou a carne congelada, tentando imaginar que pedaços eram aqueles, e balbuciou...
____Humm, coxão mole, patinho, pedaço de costela, muito bom.
Observou ele, mesmo a carne estando sob grossa camada de gelo.
O velório transcorreu sem percalços, e no outro dia depois do enterro somente uma pessoa permaneceu ao lado do tumulo de Dolores e entre triste e aliviado, o coveiro conversou com seus botões...:
____ Pois é Dona Dolores, agora que a senhora se foi e não deixou a formula de seus pastéis, não vai ter mais pra quem eu entregar a carne nas madrugadas...
____ Se bem que a ultima entrega, os filezinhos do compadre Manduca, a senhora não me pagou não é? Heheheheheheh, mas tudo bem madame, pode dormi em paz...! Mas saiba que nunca comi os seus pastéis, viu? Heheheheheheheh...
Malgaxe