ROUBANDO A PESSOA ERRADA!

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ROUBANDO A PESSOA ERRADA!

Que furada! No momento estou escondido num antigo galpão de uma indústria abandonada. A ferrugem e o velho maquinário me cercam. Tremo incessantemente. Que furada! Maldito momento que resolvi roubar aquele importado. Maldito Momento!

Sou ladrão, não nego, pelo contrário tenho orgulho. Não roubo qualquer um, tenho princípios, sendo assim, só mecho com coisa fina e que de algum retorno. O risco tem que ser valorizado e essa é a minha compensação por insalubridade. Hoje, diferentemente do dia-a-dia, gostaria de não ser ladrão, muito menos de estar naquela avenida aquele dia e ver estacionar aquela negra e cara BMW.

O careca de óculos escuros fechou a porta com força e seguiu pela calçada até sumir de vista. Não ouvi qualquer sinal de alarme. Não foi difícil abrir a porta daquela máquina, difícil foi não ser visto. Havia um intenso movimento, portanto tive que pacientemente executar o serviço de costas, fingindo estar recostado na porta descansando ou aguardando alguém.

Poucos minutos depois eu já estava na rodovia acelerando aquela máquina com placa de Martinópolis e, como acelerava... Como roncava... Se tivesse asas voaria, sem dúvidas. Notei que ao meu lado sobre o brilhante banco de couro havia uma grande e prateada maleta com travas de senhas; como aquelas que os granfinos carregam seu valioso dinheiro. Empolguei-me ainda mais quanto ao sucesso do roubo, pois além do importado, poderia haver dinheiro.

Já no galpão abandonado, onde sempre escondo os veículos, só pensava em descobrir o que havia na maleta. Descobrir a merda da senha seria quase impossível; nem tentei. Escolhi a opção que sempre funciona qual seja a situação: força bruta.

Abri o porta-malas por um botão interno e pude ver pelo retrovisor a tampa erguendo-se. Calmamente e com a maleta na mão fui até o compartimento a fim de pegar algo que pudesse destruir a preciosa maleta.

Meu pesadelo iniciou-se naquele momento.

Dentro havia, enrolado num plástico fino, um homem magro, desnutrido e amarelado. Um grande corte em Y destacava-se em seu peito, não possuía pálpebras, estas pareciam ter sido arrancadas. Os olhos vermelhos e esbugalhados brilhavam assustadoramente. Entre o inevitável espanto percebi que a boca do miserável mexia-se lentamente.

Furei instintivamente com os dedos o plástico buscando ajudar o homem a respirar. No mesmo momento fui envolvido por um jato fino e fétido de um vômito negro e denso. Seguidamente o infeliz parou de mexer-se.

Localizei rápido a ferramenta que procurava e tratei de fechar a tampa para não olhar mais aqueles estáticos olhos sem pálpebras. O vômito era extremamente fétido e incomodava muito. Quanto ao homem, este parecia ter morrido de vez, se não; tanto faz, eu não iria mais verificar. Minha profissão não permite sentimentalismo. Não foi a primeira vez que encontrei algo estranho num porta-malas e não seria a última. Na verdade, este tipo de situação só servia para diminuir o valor do veículo, pois o comprador além de deslocar com um veículo roubado, ainda teria que se livrar do cadáver. Sorte que havia a maleta.

Foram necessários muitos golpes para conseguir abrir aquela desgraçada maleta. Após o último a maleta abriu-se e o chão aos meus pés ficou repleto de fotografias. Aquele vômito era muito fedido, contudo o que me impressionava naquele momento eram as fotografias.

Todas mostravam pessoas sendo cortadas, mutiladas, outras costuradas, todos sem pálpebras. O mais horripilante é que as fotos mostravam a expressão das vitimas, estavam vivas, sem duvidas estavam vivas quando foram fotografadas.

Mesmo não me importando com as vitimas, tornou-se inevitável total insensibilidade e um sentimento mais parecido com repulsa e vingança tomou-me o pensamento. Notei, diante o meu desconserto, que entre as fotos havia um minúsculo e indefinível aparelho piscando incessantemente uma luz vermelha. Apanhei aquele estranho objeto espiral e analisei-o, digo verdadeiramente que não consegui, até agora, qualquer definição.

Distanciando-me um pouco das sensações que as fotos me causava, pude perceber um estranho ardor e incomoda coceira onde o vomito me acertara. Ergui a camisa e assustei-me como nunca. Uma mancha avermelhada e rugosa crescia por minha barriga de maneira perceptível.

Procurei desembaralhar as emoções e controlar o desespero que me tomava. Aos poucos tentei firmar alguma explicação. Logo fui surpreendido novamente. O radio do carro ligou e uma voz aguda espalhou-se pelo local.

-Homem. Estúpido! Acha que pode se esconder? - Saiba que logo desejará jamais ter nascido. Estamos chegando, verme bípede!

Minhas pernas tremeram ainda mais ao ouvir vários veículos se aproximando velozmente. Contudo eu estava no meu esconderijo, meu ninho e, não seria estúpido o bastante de não ter um caminho de fuga.

Fugi, corri como nunca, pude ouvir janelas e portas serem destruídas. Fugi entre galpões e salas abandonadas, agora dentro de um destes galpões, encolhido e tremendo, aguardo vendo algo destruir a minha pele e já alcança o meu pescoço. Eles ainda estão lá fora, me caçando. São homens, fortes, que se comunicam por uma língua estranha.

J V I C T O R http://contosjvictor.blogspot.com/

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