Lua cheia
Era sexta feira. A estrada estava deserta,
A van lotada ia a uma velocidade alta. O som ambiente embalava o sono dos passageiros que nem imaginavam o que estava por acontecer.
Já eram 23 horas. E quase todos já dormiam. O dia havia sido cansativo.
Nos dois lados da pista se viam extensas plantações de cana recém plantadas.
Se ouvia apenas o som dos pneus colados ao asfalto.
Assim se passaram mais 40 minutos e ainda faltava muito para chegarem em casa.
A lua estava alta e enorme. Dourada e dona da noite.
Lua cheia. O som dos pneus no asfalto.
De repente um grito quebra o silêncio. Um uivo aterrador.
Gritos. Desespero.
O motorista se apavora , se perde na direção e sai da pista entrando pelo canavial.
Gritos se misturam aos uivos e grunhidos.
Um mistura de sons apavorantes.
Choro. Horror.
Tecidos sendo rasgados. Dentadas. A escuridão.
Somente a luz da lua a iluminar o pânico e a dor.
Garras rasgam rostos. O olho vermelho a atacar.
Algumas pessoas desmaiam de dor, outras de medo.
O coração falha. A cena é dantesca.
Um ser peludo com garras e dentes afiados.
Atacando, mordendo, destroçando, uivando e matando sem dó.
O cheiro de sangue, de carne dilacerada e os olhares apavorados.
Tudo isso lhe dá prazer, o deixa com mais fúria.
O gosto da carne e de sangue escorrendo pela boca. Quente e espesso.
Uma, duas, três.....até que todos os passageiros estejam mortos.
A lua assiste a tudo, imóvel, insensível, apenas se deleita com o horror.
A noite vira madrugada. A van jogada no meio do canavial não atrai a atenção de ninguém.
Até porque quase ninguém passaria por ali até o sol nascer.
Lobos e coiotes aproveitam e fazem sua ceia. Acabam de estraçalhar o que restou.
Braços, pernas e rostos fazem parte do cardápio da noite.
Um banquete.
Um vulto assiste a tudo, satisfeito, saciado e oculto nas trevas.
Dois dias depois a van é encontrada.
Quem viu a cena jamais se esquerá.
Corpos em decomposição totalmente estraçalhados.
O cheiro é insuportável.
A causa da acidente? O motorista havia dormido ao volante, saido da pista e capotado causando a morte de todos os passageiros que foram atacados por lobos e coiotes, comuns na região.
Não se deram ao trabalho de se fazerem autopsias em função do estado em que se encontravam os corpos.
Não conseguiram perceber que o sangue deles havia sido sugado.
E não notaram que faltava um passageiro.
Vocês devem estar se perguntando como eu sei de todos esses detalhes.
Bem, digamos que eu estava lá e vi tudo de um ângulo diferente.
A propósito, hoje é sexta feira e de acordo com meu calendário é lua cheia..
Estou do outro lado do país, embarcando em outra van, e por falar nisso, me parece que sobrou um lugar vazio. Quer viajar com a gente?