A escolha dos quatro

1 - Reflexão noturna

Uma das coisas que acho fascinante é fazer viagens noturnas. O silêncio presente nessas horas é convidativo a fazer longas reflexões, onde qualquer uma de suas idéias parece fazer mais sentido do que em qualquer outro momento do seu dia.

Despertei de meus pensamentos, em sua maioria banal, quando minha namorada encostou seu rosto contra meu peito. Coloquei meu braço em volta de seu corpo e aproveitei para conferir o horário em meu relógio.

- Meia noite e meia. Falta pouco para chegarmos.

-Agora falta pouco. – Disse Renata em tom sonolento enquanto remexia-se, tentando buscar a melhor posição para dormir.

- Será que seus pais vão reclamar? Eu havia prome...

Ela levantou-se com um leve suspiro, ajeitando seus cabelos negros que caiam por cima de seus olhos.

-Não se preocupe. Lembre-se, a culpa é minha. Ok?

-Ok. –Respondi. Dessa vez, eu não era o culpado pelo nosso atraso e nem pela perda do ônibus.

-Aliás, já disse que você me cansa, garota?

Ela colocou suas pequenas mãos sobre minha perna (causando um leve embaraço) e aproximou seu rosto de mim, até tocarmos nossas bocas em um breve beijo.

-Quando decidimos namorar, você concordou em me aturar, lembra-se? - Disse enquanto aproximava seus lábios de meus ouvidos.

Quando olhei para o lado, pude ver uma gótica (ao menos, é o que ela parecia com aqueles longos cabelos loiros, sombra em seus olhos e um batom avermelhado, que embora não fosse de um tom muito forte, era muito diferente daqueles em que a maioria das mulheres costuma usar). Ela olhava para nós fixamente, não tinha uma fisionomia que causasse repulsão ou de incomodo, mas ver aqueles olhos azuis nos julgando, deixava-me desconfortável.

Sussurrei para Renata avisando que estávamos sendo observados, e ela repleta de vergonha, sentou-se novamente, enquanto colocava a mão sobre a boca, tentando não rir.

Foi então, que vi aquele clarão vindo contra meus olhos, obrigando a virar meu rosto para o lado. Em questão de segundos, ouvi a buzina do ônibus soar de uma maneira ensurdecedora e senti meu coração disparar.

Michele parte 1

Atualmente, Renata é tudo o que eu tenho. Sempre fora querida comigo e tentou tapar cada buraco em meu coração. Nunca disse um não e nunca me deu motivos para desconfiar dela. Sua paciência comigo, principalmente quando perco a cabeça, é algo que me faz parar e pensar: - Poxa, eu tenho a melhor garota do mundo. Entretanto, a imagem de Michele ela nunca irá apagar. Não que Renata não se esforce, muito pelo contrario, mas a maneira como Michele e eu fomos separados nunca sairá da minha mente.

2 – Um mundo sem cor

Acordei de ressalto. Era como se pudesse ver o clarão de luz vindo contra meus olhos novamente, assim que eu os piscava, aquele imenso clarão dava lugar à mórbida lua cheia.

Ao meu lado, Renata acordou assustada. Seus olhos estavam quase esbugalhados e gotículas de suor escorriam por sua face alva.

Senti suas mãos enroscarem em volta do meu braço, enquanto sua cabeça recostava contra meu ombro. A noite estava silenciosa de mais, eu conseguia ouvir com clareza o palpitar acelerado do coração de Renata.

-Você está bem? –Perguntei, obtendo um sim quase mudo.

Antes que pudesse recostar minha cabeça contra o banco, num ímpeto de raciocinar sobre o que havia acontecido, um grito quebra o silêncio que se abatera dentro do ônibus.

Desvencilhei-me de minha namorada e pulei para o corredor. A minha frente, uma mulher trajando um longo vestido afastava-se do assento. Uma das mãos tapando a boca, olhar incrédulo e a outra mão apontando para a janela.

Do lado de fora, vários cadáveres estavam enforcados nas árvores. Incrivelmente, o que mais me chamou atenção, não fora os cadáveres e sim a paisagem. Não se via mais nada além de árvores acinzentadas. Alias, tudo aquilo parecia não possuir cor, fazendo uma angústia brotar em meu peito. Mais tarde, quando refleti sobre o que aconteceu nesse dia, lembrei-me daquele vídeo onde o Mickey Mouse fica andando de cabeça baixa por um cenário um tanto quando repetitivo e perturbador. Meu coração pulsava mais forte, dei passos lentos para trás, tentando achar uma poltrona onde pudesse me escorar. Ao meu redor, pessoas se aproximavam para ver o que havia chamado a atenção da mulher.

Acho que fui o primeiro a notar, mas estávamos em um número bem menor do que embarcamos.

Michele Parte 2

Conheci Michele no parque. Eu estava sentado sobre o gramado em um domingo de fevereiro, numa visão privilegiada da pista que era utilizada para ciclistas e demais pessoas que queriam se exercitar.

Uma garota que andava de bicicleta, caiu a alguns metros de mim, quando desviou duma pequena criança que corria atrás de sua bola de futebol. O pai da criança correu desesperado até ela, gritando alguns palavrões para a criança, que sem entender, começou a chorar.

Desci o pequeno morrinho e fui até a garota, que começava a levantar. Estiquei o braço e ela segurou firme em minha mão, enquanto a garota corada e com um belo sorriso em seu rosto agradecia timidamente.

Passamos parte daquela tarde juntos, sentados em baixo duma arvore bebendo coca-cola. Não tínhamos muito em comum, é verdade, mas aquela loira dos olhos azuis despertou meu interesse.

3- Sete passageiros e a Morte

Estávamos reunidos em sete, discutindo o que estava acontecendo e o que deveríamos fazer. Renata continuava encolhida entre meus braços, tentando compreender tudo aquilo. Junto a nós, estava um velho, a mulher loira que havia gritado (só agora havia notado que ela era uma gestante), um casal de namorados e por último uma mulher de sessenta anos, que me pareceu ser uma daquelas fanáticas religiosas.

-O motorista...ele... – Disse minha garota, quebrando o ar de discussão.

Todos ficaram em silêncio, estávamos muitos assustados para ter pensado nisso. Nesses primeiros três ou cinco minutos estávamos nos preocupando com outras coisas, e acabamos esquecendo o óbvio.

Michel, o rapaz que estava com nós, saiu do meio do grupo, distribuindo empurrões para os lados até chegar a cabine do motorista. Em vão, tentou abrir a porta.

-Droga, essa merda não abre!

-Hey, você! Ajude aqui, porra.

Confesso que demorei um pouco a entender que ele referia-se a mim. Desvencilhei-me de Renata a corri até a porta tentando arrombá-la. Mais uma vez, inutilmente.

-Mas que coisa é essa!?

Olhei para o rapaz sem entender. Sua face estava pálida, seus olhos fixados em um ponto onde era possível ver atrás da cortina, tendo uma visão da cabine do motorista. O banco onde o motorista deveria estar não possuía ninguém.

-O motorista... Onde ele está!?

-Morto. – Disse uma voz, que vinha de trás. Em um dos bancos, estava a mesma garota que nos observara anteriormente. Só que agora, vestia um vestido vermelho, o vermelho de seus lábios estava mais forte, e seu cabelo ganhara um tom ruivo.

Vi o rapaz fechar os punhos e tentar ir para cima dela. Segurei-lhe pelo braço, jogando meu corpo sobre o dele, evitando que ele agredisse a garota. Ao menos, até agora ela ainda era uma garota.

-O que você quer dizer com isso? –Perguntei.

-Simples. Ele está morto. As outras pessoas que estavam aqui estão mortas quase todos vocês estarão mortos em seguida.

- Mentira! –Disse ele, com fúria em seu olhar. Segurei seus braços, pude sentir que se eu o soltasse, não pararia até ver os miolos da garota contra o vidro do ônibus.

- Como assim, quase todos voc...

Fui interrompido, pela velha senhora. Ela aproximou-se em meio a nossa conversa e esbofeteou a garota, deixando uma marca vermelha em meio a sua face pálida.

-Bruxa maldita! Você está condenada! Vá para o inferno!

A “gótica”, não perdeu tempo, devolveu o golpe com tamanha frieza que o estalo pareceu o som duma arma. A velha caiu no chão lacrimejando.

-Bruxa! Você vai pagar! – Em volta de sua mão, estava uma correntinha com um crucifixo. Ela a apontava para a garota, como se esperasse que ela virasse fumaça ou pó.

A Garota voltou seu olhar para mim, colocando um sorriso em seu rosto.

-Simples. Um de vocês não irá morrer. Irá voltar para a cena do acidente e poderá viver normalmente.

-E quanto aos outros? –Perguntei, embora já soubesse a resposta.

-Estarão em outro lugar.

- E o que nos impede de sair daqui? O que nos prova que estas falando a verdade? –Perguntou o velho, que agora se aproximava de nós, trazendo Renata e a outra garota que haviam ficado para trás.

- Nada os impede de sair. Tanto vocês que saírem como os que ficarem irão entender depois.

-Pois eu quero sair. –Disse o rapaz, quando eu finalmente o soltei.

-Venha Marla. – O rapaz pegou a garota pelo braço e tentou abrir a porta. Dessa vez a porta se abriu e o ônibus começou a diminuir a velocidade. Assim que ele colocou os pés nos degraus, aporta se abriu. Junto aos dois, desceu a velha rapidamente.

-Mais alguém? –perguntou a “bruxa”.

Pensei em descer, mas aquilo tudo parecia real de mais para eu duvidar e acredito que todos estavam assustados demais para fazer alguma coisa.

A porta então se fechou, deixando eles presos do lado de fora. Todos nós que ficamos no ônibus fomos em direção a janela, observar o que iria acontecer.

Confesso que daqueles três tive pena apenas da garota. Ela parecia assustada, e não conseguiu raciocinar para saber se queria realmente descer.

Antes que o ônibus começasse a partir lentamente, ela bateu fortemente contra o ônibus pedindo para entrar. Tive que virar o rosto, não queria ficar com a imagem da garota desesperada batendo contra o ônibus. Ainda mais sem ter feito nada para ajudá-la.

O trio afastou-se do ônibus, caminhando na direção oposta. Todos nós que ainda estávamos no ônibus corremos para o fundo para ver o que iria acontecer.

Do meio das arvores saíram corpos de formas humanóides. Seus corpos magricelos, acinzentados e de estaturamaior que os seres humanos. Não demorou muito, e um grupo de seis daquelas criaturas agarrou os três derrubando-os no chão.

O ônibus então fez uma longa curva e não pude mais ver o que aconteceu com aqueles três.

Michele parte 3

Namorávamos há dois meses. Michele havia me convidado para ir até sua casa, seus pais haviam viajado e ela não queria ficar sozinha. Não posso negar, criei certas expectativas, mas, no entanto, quando cheguei lá, vi que havia algumas de suas amigas sentadas na sala. Pensei que ficaria desconfortável e de fato no inicio fiquei (todos namorados devem concordar que quando se está reunido com várias amigas de sua namorada, nos sentimos perdidos em meio a suas conversas. E elas, no entanto, continuam a conversar como se estivessem sozinhas), mas logo uma de suas amigas, Renata (a qual já vira inúmeras vezes com Michele), tratou de me entrosar na conversa.

Quando suas amigas foram embora, Michele veio até mim vestindo um short curtíssimo, uma camiseta branca (como as garotas normalmente usam em filmes de terror, classe B), cabelo preso em um coque improvisado, carregando um pequena pizza para nós comer.

Divertimo-nos como nunca, comemos pizza, bebemos um vinho que ela havia pegado da adega de seu pai e assistimos à televisão. Já eram duas horas, quando ela segurou em minha mão e fomos até seu quarto.

4- A escolha dos quatro

Estávamos sentados nos bancos, nos entreolhando, sem ter coragem de dizer uma única palavra. Ao nosso lado, aquela mulher continuava de pé escorada contra um dos acentos. Em seus lábios um sorriso demoníaco, demonstrando estar satisfeita com aquilo tudo que ocorrera.

-Vocês deviam estar felizes. – Disse aquela mulher, chamando a atenção de todos nós.

-Sem aqueles três, fica mais fácil de um de vocês sobreviver. Afinal, o número se reduz a quatro...

Soltei a mão de Renata e fiquei de pé em frente à mulher. Nenhum deles parecia estar em estado de raciocinar, muito menos de questioná-la.

-Chega! Diga logo, o que você quer? Quais são suas malditas regras!?

-Eu não deixei claro? Só um terá direito a viver novamente. A idéia é simples. Vocês estão reunidos aqui, porque sofreram um acidente. Um de vocês terá a chance de voltar a minutos antes do acidente e sair vivo de tudo isso. Para isso, no entanto, um de vocês terá de se sacrificar.

A gestante berrou. Sua voz ecoou por todo o ônibus fazendo meus pêlos arrepiarem. Ela estava de joelhos no chão chorando compulsivamente. Batia com um de seus punhos no chão enquanto a outra mão estava em volta do ventre.

-Isso é mentira! Todos vocês sabem disso! Deixem-me voltar... Eu estou com meu filho, por favor! Ele tem um brilhante futuro... Eu aviso suas famílias. Por favor, não por mim mais por ele! Eu... Eu tenho marido... Ele é médico, ele vai me ajudar...

A verdade é que ninguém conseguiu, nem se dispôs a fazer nada. A mulher se arrastava pelo chão com a mão no ventre,agarrando sobre nosso pés, olhando contra a face de todos aqueles que estavam ao seu redor. Fui obrigado a virar o rosto. Ver ela aquela mulher soluçando e implorando para ser salva me abalou completamente.

Renata prontamente se ajoelhou ao lado da grávida, puxando ela contra seu corpo enquanto acariciava seus cabelos. Seu rosto singelo voltou-se contra o meu. Seus olhos pediam para que eu a ajudo-se, mas no fundo não fazia idéia do que fazer.

-Quem é você? O que é esse lugar? –perguntou o velho, que devido a tudo aquilo que acontecera, parecia estar com uns dez anos a mais do que quando o vi pela primeira vez.

- Digamos que sou destino, dando uma chance a vocês. E este lugar... Como vou dizer... É o Nada. Aqui ficam as pessoas que não vão para o céu e nem para o inferno. O verdadeiro lugar onde que o que vocês chama de espíritos ou fantasmas ficam.

-E se por acaso, nenhum de nós resolvermos ter uma segunda chance?

-Vocês ficarão aqui e terão o mesmo destino daqueles três. É simples, alguém recebe uma nova chance, enquanto outro paga os seus pescados aqui.

-E o que acontece com os demais?

-Vocês terão a chance de serem julgados, poderão ver se vocês conseguiram se redmir pelo que fizeram.

Nessa hora, comecei a acreditar que aquilo não passava deum sonho, um pesadelo que custava a acabar. Coloquei minha mão sobre o ombro de Renata, beijando seu rosto. Ela percebeu o que eu estava preste a fazer. Sua mão procurou a minha apertando com força meus dedos. Certa vez quando tivemos uma briga, disse que não queria mais vê-la e fui embora. Ela segurou minha mão da mesma maneira, implorando com seus olhos para que eu não fosse embora.

Dei um passo para frente, no entanto, o velho colocou sua mão sobre meu peito impedindo que eu prosseguisse.

- Não tenho boas lembranças filho. O que eu fiz, dificilmente será perdoado. Vivi os anos 70 de uma maneira indigna... Eu era um dos militares, o eu fiz com algumas pessoas não tem como me redimir.

O homem lançou um olhar para a grávida que tentava conter suas lágrimas. Ninguém se opôs a vontade do velho. Eu queria salvar Renata, mas ter de dizer não para aquela gestante seria algo horrível.

- Sei que não tenho salvação e acredito que nada que esses dois fizeram foi pior do que eu fiz. –Disse aquele senhor.

A garota jogou-se aos pés do senhor, quase os beijando. Seus olhos lacrimejavam enquanto ela dizia “muito obrigada”.

-Muito bem. O que eu tenho de fazer? Descer do ônibus? É só isso que tenho de fazer para queessa mãe possa ter seu filho.

A mulher olhou para o relógio, e colocando um sorriso sobre seu rosto aproximou-se do velho colocando a mão sobre seu queixo.

-Uma atitude honrada, para quem cometeu tantas brutalidades. No entanto, eu disse que apenas uma pessoa pode voltar e não duas.

Os olhos da garota arregalaram-se. Ela rastejou até os pés da garota ruiva agarrando um de seus pés. Ela chorava compulsivamente, implorando pela vida de seu filho.

A bruxa afastou. Em seu rosto, cresceu um sorriso perverso, seus olhos de gato davam a impressão de estar a espreita, esperando para apunhar nossas costas.

Ela olhou para o relógio e disse:

-Vocês têm cinco minutos.

Michele parte 4

Fiquei sabendo do acidente somente duas horas após o ocorrido. Fui rapidamente até o hospital e quando cheguei pude ver os pais dela abraçados enquanto choravam. O Pai dela foi o primeiro a me ver e veio falar comigo imediatamente. Ele falou que os policiais não tinham certeza, mas acreditavam que ela havia perdido o controle do carro ao voltar da cidade vizinha. Segundo ele, ela teve o azar de ter batido o lado esquerdo do carro numa arvore. Corri pelo hospital, tentando achar a sala de cirurgia onde ela estava. Consegui ver seu rosto uma última vez e essa última imagem nunca sairá da minha cabeça. Não pude ver seus olhos azuis, nem seu belo sorriso, mas ao menos a vi por uma última vez, embora às vezes me arrependa disso.

Renata aproximou-s de mim. Seu braço estava engessado e tinha alguns machucados em seu rosto. Ela colocou sua ao em volta de meu rosto e levou até seu ombro. Baixinho em meu ouvido ela disse: “Ela o amava, falou de você várias vezes na viajem”.

5- O passado de Renata

Tanto a grávida como o velho estava imóvel. Ninguém sabia qual decisão seria correta a tomar e aquela altura, parecia que a melhor opção era que ficássemos todos ali.

-Que comovente. Um velho que lamenta o que fez durante a ditadura. Você tem pesadelos todo dia não é? Mas no fundo, naquela época você gostava. Sentia prazer naquilo.

O velho deu um tapa na face da garota com tanta força, que o rosto pálido dela ficou completamente avermelhado. Ela levou a mão ao rosto e com um simples gesto com o dedo, fez com que o velho, de alguma forma, fosse jogado contra o vidro do ônibus. Como se nada houvesse acontecido, ela caminhou até a gestante e segurou em sua mão,ajoelhando-se.

- A vida tem dessas ironias... Quando a vida lhe deu uma filha, você a matou.

-Não... eu não..-Balbuciava a garota.

-Você sabia que tomar aquilo iria matar o bebê, mas mesmo assim você o ingeriu e agora que quer ter um, não poderá ter.

Em seguida, ela levantou-se e veio até mim e parou em minha frente. Renata procurou refugio em meus braços, mas estava tão perplexo que não pude retribuir.

-E por último, temos o garoto que matou seus amigos, não é? Todo dia quando você deita você lembra-se do acidente não é? Acreditam que se não tivesse bebido, eles estariam vivos.

-Eu aceito! – Gritou Renata.

-Dê uma nova chance a meu namorado e eu deixo fazer o que quiser comigo.

A bruxa olhou para o relógio.

- Muito bem. Se for o que queres...

Ela afastou-se de mim enquanto era guiada pela ruiva até a porta do ônibus. Não pude fazer nada, estava em estado de choque. Ninguém no ônibus se pronunciou todos pareciam ter pedido a esperança ou a vontade de viver. O ônibus parou e as portas se abriram. O tempo congelara tudo estava silencioso, e pude a ver descer os degraus do ônibus.

-5, 4,3... - Pude ouvir a bruxa contando, enquanto aproximava-se de mim. Ela colocou sua mão em meu rosto, enquanto levava-me até a janela.

-Por que. Por que ela? –Disse, enquanto deixava lágrimas escorrerem de minha face. No lado de fora, aqueles seres começava a aproximar-se de Renata, que se agachava no chão, abraçando as próprias pernas.

-Porque foi ela que matou Michele. – Disse a mulher, tocando meus lábios com seus dedos.

6- Voltando ao mundo real

Acordei. Estava deitado, ao lado de uma das divisórias do banheiro da rodoviária. O sanitário estava completamente sujo de vomito, inclusive a minha camisa que estava manchada. Levantei cambaleando, minha cabeça doía como se estivesse de ressaca.

No banheiro, estava um homem velho, limpando o piso.

-Está tudo bem? O Senhor esta aí há muito tempo, sorte que há essa hora, não tem quase ninguém aqui.

Não respondi. Peguei minha mochila e sai correndo até o Box de número cinco. Ele estava quase saindo. Gritei enquanto balançava o papel da passagem enquanto corria até lá.

Cheguei lá ofegante. O rapaz pegou o papel de minha mão, olhou e disse-me de volvendo-o.

-Desculpe, mas esta duas horas atrasado.

Peguei o papel de volta e o amassei. Não disse nada, apenas caminhei em direção ao banco, onde coloquei minha mala e sentei, levando as mãos à cabeça.

Ainda pude ouvir o barulho das sirenes da polícia e dos bombeiros passando em alta velocidade. As pessoas aproximavam da rua, para ver todo aquele movimento, enquanto discutia qual seria o motivo dessa movimentação toda.

Eu sabia.

Dionatan Cordova
Enviado por Dionatan Cordova em 13/02/2011
Reeditado em 13/02/2011
Código do texto: T2788805
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.