O policial e o coveiro
A chuva era intensa diante do cemitério, o clarear do dia foi tomado por nuvens escuras e fortes barulhos de trovões, sem guarda-chuva ou proteção qualquer, estava a caminhar por ali Sebastião, encharcado com a água que vinha do céu.
Sebastião andava de um túmulo para outro, parecia perdido, andava para frente, então ia até o portão e voltava até o último túmulo, a chuva não cessava e ele continuava com o mesmo trajeto.
Foi então que um policial que passava por ali o avistou e decidiu parar. Gritou com Sebastião, perguntou o que ele fazia por ali, ninguém respondeu, o guarda tentou abrir o portão, estava trancado.
Aí ele achando que Sebastião havia ficado trancado para dentro, empunhou sua arma, e deu um tiro que arrebatou a fraca corrente que prendia o portão. O policial se aproximou e Sebastião continuava de túmulo em túmulo, de cova em cova, procurando sabe-se lá o que. Foi então que o oficial disse:
- Mas o que está fazendo trancado por aqui, ainda mais nessa chuva?
Ninguém se deu ao luxo de responder, Sebastião parecia mudo e continuou seu caminho, o guarda começava a perder sua paciência:
- Como é seu nome? Você vai ficar doente se continuar na chuva!
Diferentemente de Sebastião, o policial estava protegido com uma capa plástica, mas aquele senhor ali se recusava a responder, parecia mudo, e o policial já estava chegando a seu limite, e o ameaçou:
- Ou você me responde ou eu vou te levar até a delegacia!
Alguns segundos se passaram e tudo continuava da mesma forma, então, foi quando ele se dirigia para prendê-lo que viu uma cova nova à sua direita, olhou o epitáfio e estava escrito:
"Aqui jaz Rubens Ademir Pereira, 11/06/1968 - 02/04/2010"
Era seu nome ali, morto na data de ontem. Sebastião então pegou sua pá e cobriu de terra o cadáver do policial.